Joias da poesia
contemporânea

Espírito: Juvenal Galeno

 

De cá

 
Que amargo era o meu destino!…

Tristezas no coração,

Tateando dificilmente

No meio da escuridão…

 

Viver na Terra e somente

Remando contra a maré,

Com receio de ir ao fundo…

Nem tão boa coisa é.

 

Esta vida de sofrer

Trinta dias cada mês,

Entremeados de prantos,

Há quem estime? Talvez…

 

Mas para mim que só fui

Galeno sem nó, galé,

Tantas dores em conjunto

Nem tão boa coisa é.

 

Sentir as disparidades

Das vidas cheias de dor,

O mal sufocando o mundo,

Marchando com destemor:

 

Ver o rico andar de coche

E o pobre correndo a pé,

Tantas misérias sentir…

Nem tão boa coisa é.

 

O pranto ferve na Terra,

Salta aqui, salta acolá,

Nas guerras de toda parte,

Nas secas do Ceará;

 

Meus irmãos de Fortaleza,

Do Crato, do Canindé,

Ver uns rindo e outros chorando

Nem tão boa coisa é.

 

Ah! morrer e ainda sentir

Saudades da escravidão,

Da carne, do desconforto,

Da treva, da ingratidão…

 

Não é possível porque

Pobre filho da ralé

Casar-se com a desventura

Nem tão boa coisa é.

 

Mas falar demais agora

Já não é próprio de mim,

Não vou gastar minha cera

Com tanto defunto ruim;

 

Patetice é ensinar

Verdade aos homens sem fé.

Jogar pérolas a tolos

Nem tão boa coisa é.


Do livro Parnaso de Além-Túmulo, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita