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por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 
Bananas, para dar e vender


Olha a banana, olha o bananeiro!”

Com estes simpáticos versos, essa música do então Jorge Ben (hoje Jorge Benjor), resgatada lá da década de 1970, e que teve também uma versão gravada pela Banda “Os incríveis”, narra a história de um feliz menino vendedor de bananas e suas indagações filosóficas, justificando-se para si e para o mundo.

O personagem da música aponta, entre os seus brados mercadológicos, que precisa trabalhar para sua sobrevivência, e para ter as suas coisas, mostrando também que o trabalho faz ele ser respeitado (“pois vendendo bananas, eu pretendo ter o meu cartaz. Pois ninguém diz pra mim que eu sou uma palha no mundo”), e que o trabalho é fonte de aceitação social (“Eu vendo banana, mãe, mas eu sou honrado, mãe”), ainda que seja um trabalho menos valorizado no contexto social.

A despeito de todos os avanços na luta contra o trabalho infantil, esse não será o mote da análise dessa música que subsidiará esse artigo. Não. Nos determos na questão do trabalho como um valor, que dignifica, que dá sentido à vida, relevante pela sua utilidade, seja vendendo banana, seja como executivo de uma grande empresa, mas também pelas experiências que proporciona.  

Na lição de André Luiz (Psicografia de Chico Xavier), em Conduta Espírita, tem-se que: “Em nenhuma ocasião, desprezar as ocupações de qualquer natureza, desde que nobres e úteis, conquanto humildes e anônimas. O trabalho recebe valor pela qualidade dos seus frutos”, mostrando uma chave de entendimento diferente dessa hierarquia do mundo do trabalho, e que é a régua que seremos medidos no mundo espiritual.

O trabalho, seja religioso, voluntário ou profissional, é uma fonte de aprendizado no cotidiano do seu exercício, mas também um promotor de entregas que mudam realidades, que fazem o mundo melhor. Aprendizado e entrega, dentro da fieira das experiências, são os eixos que balizam a dimensão trabalho, a sua valorização.

Títulos honoríficos, cargos, celebridades são questões transitórias, e que têm sentido nessa temporalidade. Mas o que fica dessa experiência, pela ótica da entrega e do aprendizado, tem valor pelas pessoas com quem interagimos, pelas vidas que mudamos, pelos tijolos que acrescentamos à realidade, nos pequenos deveres que fazem grandes mudanças. 

A pergunta 679 de O Livro dos Espíritos reforça esse binômio do aprendizado e da entrega, quando diz: “O homem que possui bens suficientes para assegurar sua subsistência está liberto da lei do trabalho?”, e eis que os Espíritos respondem: “– Do trabalho material, talvez, mas não da obrigação de se tornar útil na proporção dos seus meios, de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que é também um trabalho”, mostrando que o trabalho, como sofrimento, como pesar, é uma decorrência de nosso processo evolutivo, mas que ele não é algo negativo, e sim uma lei da vida, que nos torna útil e nos aperfeiçoa.

Trabalharemos para sempre. E isso é bom!

Trabalhar é uma dádiva. Trabalhar com o que se gosta, um privilégio. Trabalhar bem, com afinco, é um dever. Valorizar os trabalhos, pequenos e grandes, é uma sabedoria, de entender que nesse jogo de papéis da reencarnação, o trabalho é o instrumento de realização de progresso, ou de estagnação, conforme nos desempenhamos neste desafio.

O jovem vendedor de bananas, uma realidade sofrida, humilhado como outras profissões que são objeto de pilhéria, tem uma oportunidade de crescimento, pela entrega e pelo aprendizado, que merece de todos nós o respeito. Muitos outros, com trabalhos mais pomposos, se olhados com a lupa espiritual, são objeto de cenários lamentáveis. Nas transitoriedades do mundo, saibamos separar as bananas das maçãs.  
 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita