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por Rogério Coelho

 

Bloco monolítico


O Reino de Deus na Terra se fará por uma base forte, monolítica, indestrutível


 “(...) Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha

de escândalo; e todo aquele que crer nela não será confundido.” - Paulo (Ro., 9:32.)


Tanto nas anotações Antigas quanto nas Neotestamentárias a palavra “pedra” aparece - dezenas de vezes - em várias situações, com significados também múltiplos...

Desde o Gênesis[1], livro do pentateuco moisaico, referindo-se à coluna de Betel, até ao Apocalipse de João[2], na menção à queda da cidade de Babilônia, vamos encontrar o verbete “pedra”.

Percorrendo as Escrituras verificamos isso “in loco”, começando pelo versículo em epígrafe, no qual Paulo não faz outra coisa senão resgatar a velha profecia de Isaías[3] que dizia: “portanto, assim diz o Senhor Jeová: eis que eu assentei em Sião (leia-se Jerusalém) uma pedra já provada, pedra preciosa da esquina, que está bem firme e fundada:  aquele que crer não se apresse”.

Jesus é bem aquele bloco monolítico, já provado e aprovado por Deus, “Pedra Preciosa de Esquina”, isto é, marco divisor de vidas que a partir do momento em que tomam conhecimento da essência de Sua mensagem “dobram a esquina”, isto é, mudam o foco dos interesses até então voltados para os acenos materiais hedonistas, dirigindo-se, então, para a busca dos “tesouros dos Céus”.

Escrevendo mais tarde aos coríntios[4], o Singular Vidente de Damasco seria ainda mais explícito na identificação de Jesus na simbologia da pedra: “(...) E beberam todos duma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a Pedra era o Cristo”.

- Quando Mateus Levi afirma[5]: “(...) Mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão”, o ex-coletor de impostos estava se referindo aos corações refratários dos fariseus e saduceus, aos quais João, o Batista, admoestava energicamente, classificando-os como “raça de víboras”, mas que - não obstante - não se encontravam excluídos da misericórdia Divina, desde que “produzissem frutos de arrependimento”.

No registro de Lucas[6] observamos as seguintes palavras de Jesus: “(...) se os meus discípulos se calarem, as pedras clamarão”. 

Aí está a revelação mais que explícita da comunicabilidade dos Espíritos, pois, ao tempo do Cristo, os túmulos eram escavados nas rochas e, ao dizer: “as pedras clamarão”, Ele – inequivocamente - se referia aos Espíritos dos mortos que haviam sido sepultados nas pedras.

- Jesus realça a Grandeza e Bondade infinitas de Deus ao estabelecer um paralelo entre a paternidade terrena e a Divina, dizendo[7]:  “(...) e qual dentre vós é o homem que, lhe pedindo pão o seu filho, lhe dará uma pedra?  (...) Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará bens aos que Lhos pedirem?”

- Jesus nos previne contra o “canto das sereias”, isto é, contra o encantamento convidativo e coercitivo das coisas materiais em detrimento das espirituais quando, Seus discípulos chamando-Lhe a atenção para a grandiosidade e fausto do Templo de Jerusalém, erguido pelo Rei Salomão, diz[8]: “(...)não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada”.

Simão Bar Jonas, o baluarte do Colégio Apostólico, era um pescador simples, céptico por natureza, sem sutilezas de comportamento, teimoso, provido de “estopim curto”, e, até certo ponto, ingênuo...   Em siro-caldeu, chamavam-no “Cefas”; mas, em grego, deram-lhe o apelido de “Petros”, significando: pedra, rocha...  Provavelmente, tal alcunha se devia ao fato de ser ele detentor de um caráter firme e de maneirismos um tanto quanto abrutalhados, regidos por débil educação, e que se deslanchava em singular idiossincrasia. Não obstante, possuía um coração extremamente bondoso. Era, por conseguinte, muito amado pelo Mestre, que lhe depositava largas cotas de responsabilidades junto aos seus pares, do qual era, indubitavelmente, líder nato.  Certa ocasião, o Meigo Rabi lhe falou[9]: “pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

É evidente que aqui Ele falava de Sua Doutrina, mas ao ouvir estas palavras de Jesus, em sua santa ingenuidade, Pedro, o Filho de Jonas, pensou consigo mesmo: “será que o Mestre me deseja dizer que sou uma fortaleza de ânimo e fé, ou será por causa da minha cabeça dura?!”

- Os principais sacerdotes, mancomunados com os escribas, procuravam meios de lançar mão d`Ele, e ficaram enfurecidos quando O ouviram dizer[10]: “(...) a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi feita cabeça de esquina. Qualquer que cair sobre aquela pedra ficará em pedaços, e aquele sobre quem ela cair será feito pó; portanto, eu vos digo que o Reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que produza frutos”. (Espíritas! Que nos cuidemos!)

Ora, a pedra feita “cabeça de esquina” é a que sustenta toda a edificação. Jesus Se referia à Sua Doutrina, rejeitada pelos escribas, sacerdotes e fariseus. O Cristianismo reduzia a pó o dogmatismo judaico, no qual – parasitariamente – se locupletavam.

Podemos dizer que o mesmo aconteceu com o Espiritismo, originário na França, e lá rejeitado, encontrando no Brasil a terra fértil para “produzir seus frutos”.

Tantas referências a “pedras” nos levam a raciocinar que a edificação do Reino de Deus na Terra se fará por uma base forte, monolítica, indestrutível... Todo o material dessa edificação será de primeira, robusto, não suscetível de destruição pelo tempo ou pelo que quer que seja.

Hodiernamente a “pedra cabeça de esquina” é o Espiritismo, o Consolador prometido por Jesus, a nova pedra de tropeço dos sacerdotes e fariseus, outra vez reencarnados para o trabalho de sabotagem... Por isso a Doutrina Espírita é tão anatematizada por eles, pois ela vem desalojá-los das mesmíssimas mordomias das quais são ciosos desde os tempos anteriores a Jesus.

O Espiritismo é o Bloco Monolítico, a Pedra Cabeça de Esquina, que despedaçará os dogmas, pulverizará a ignorância, e, por fim, expulsará os ávidos mercadores do templo, esses terríveis “atravessadores” da fé que tanto atraso têm provocado na caminhada evolutiva da humanidade.

... “E todo aquele que” estudar e praticar o Espiritismo, por certo, “não será confundido”, uma vez que será detentor da fé raciocinada, aquela que “enfrenta a razão em todas as épocas da humanidade”, e em cujo estandarte está desfraldado o lema: “fora da caridade não há salvação”. Por isso, não sejamos nós, os Espíritas, as pedras de tropeço colocadas no caminho da correta divulgação do Espiritismo, para não sermos tidos como causadores de escândalos e, portanto, alijados do Reino dos Céus. 


 

[1] - Gênesis, 28:18.

[2] - Jo., 18:21.

[3] -  Isaías, 28:16.

[4] - I Cor., 10:4.

[5] - Mt., 3:8 e 9.

[6] - Lc., 19:40.

[7] - Mt., 7:9.

[8] - Mt., 24:2.

[9] - Mt., 16:18.

[10] - Mt., 21:42 a 44.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita