Artigos

por Ricardo Baesso de Oliveira

 

Kardec e o vocábulo moral


Alguns vocábulos utilizados por Kardec possuíam, em sua época, uma conotação distinta dos dias de hoje, e outros termos, frequentemente usados em nossos dias, sequer eram empregados no século XIX. O termo moral é um desses termos. Investigando o tema, encontramos em O Livro dos Espíritos, três usos diferentes do vocábulo moral:

a) como bom ânimo ou disposição, como se vê na frase “usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho”. (OLE, item 918)   

b) como mental ou psíquico, como na seguinte citação: “os Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico” (OLE, Int. item 6). O vocábulo psicológico e também o termo psicologia possuem hoje uma conotação diferente do que possuíam à época de Kardec. A psicologia era entendida, então, como a ciência da alma - alma como ser, inteligência que comanda o corpo, independentemente da crença em sua sobrevivência. Kardec não se utiliza do vocábulo psíquico, amplamente utilizado em nossos dias. Kardec emprega os termos mente e mental como sinônimos de pensamento. A psicologia, como o estudo dos fenômenos psíquicos e de comportamento do ser humano por intermédio da análise de suas emoções, suas ideias e seus valores, inexistia àquela época. O primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo fisiólogo alemão Wilhelm Wundt, em 1879.

c) como regras de conduta, bons costumes, como se verifica em “a moral consiste na regra de bem proceder. O homem procede bem quando faz tudo pelo bem de todos” (OLE, item 629).

Esse último conceito de moral, o mais empregado em nossos dias, implica obrigatoriamente em uma relação com outra pessoa, relação esta que interfere no bem-estar do outro. Nossos atos são imorais quando lesam, desconsideram, prejudicam, minoram etc. outra pessoa, ou, de forma mais planetária, os seres sencientes. Estes atos inserem o faltoso na lei de causa e efeito, mecanismo divino, que tem como finalidade a educação da alma em trânsito para projetos superiores de vida. 

Não se encontra na obra kardequiana o vocábulo ética. Pelo exposto, Kardec, ao se referir a moral como o certo e o errado, não fazia distinção entre moral e ética. Tal distinção é encontrada na Ética como disciplina filosófica, onde a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade e, por moral, entende-se um conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações dos indivíduos numa comunidade social.

Assim, a avaliação cuidadosa do contexto em que Kardec emprega o termo “moral” em seus textos pode contribuir para seu melhor entendimento.
 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita