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por Alessandro Viana Vieira de Paula

  
Reflexos espirituais da delação premiada


Na atualidade, vivemos um período de crise moral que faz parte do processo de transição planetária pelo qual passa o planeta Terra, de tal sorte que era de se esperar que os crimes cometidos na clandestinidade viessem à tona, sobretudo aqueles perpetrados na esfera política que tanta perplexidade tem gerado ao cidadão de bem.

Sabemos que profundas crises são momentos que precedem a evolução, porque geram conscientização e desejo de mudança. Aliás, é sabido que a crise dos valores morais não está só no Brasil, está no mundo, porque ainda há muitas pessoas que agem desconectadas das diretrizes do Evangelho, da verdade e da ética.

Em relação ao Brasil, estamos vivenciando um período peculiar, porque, quase que diariamente, temos informações pela mídia da falta de ética e da prática de crimes por parte de alguns políticos e indivíduos que estão no alto escalão, gerando prejuízos imensuráveis para a economia e para o erário público.

Convém ressaltar que muitos desses crimes são descobertos através da chamada “delação premiada”, onde o delator faz um acordo com a justiça para ter sua pena reduzida ou para obter o perdão judicial (isenção de pena), desde que colabore com as investigações, vindo a assumir os seus erros e apontando o envolvimento de outros comparsas, oferecendo um mínimo de provas que possa amparar sua delação.

À luz da Religião Espírita seria pertinente abordar a questão das consequências espirituais e morais em relação àqueles que cometem crimes dessa natureza e magnitude, e se há alguma atenuante ou benefício para aqueles que optam pela delação premiada.

É importante registar que todos aqueles que cometem infrações penais e que não são descobertos pela lei humana sofrerão os efeitos da ação equivocada, haja vista que não conseguimos nos eximir das leis divinas e da própria consciência, de forma que, cedo ou tarde, nesta ou em outras vidas, seja pelo bem que façamos (“o amor cobrirá a multidão de pecados” – Pedro 4:8 -1ª Epístola), seja pelo sofrimento quando recusamos o convite do amor, teremos que reparar todo o mal causado.

Como sugestão de leitura, recomendo o capítulo “Experiência Incomum”, que está no livro “Tormentos da Obsessão”, ditado pelo Espírito Philomeno de Miranda, através da mediunidade de Divaldo Franco, que relata o sofrimento de um político corrupto no mundo espiritual, a demonstrar que ninguém escapa da justiça divina, a qual não é punitiva, mas visa à educação e ao reerguimento espiritual e moral daquele que está em sofrimento.

Na obra “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec, no Capítulo VII, no item “Código Penal da Vida Futura”, os benfeitores espirituais nos elucidam que: toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida que deve ser paga; o Espírito sofre a pena das suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no mundo corporal; a duração do castigo está subordinada à melhoria do Espírito culpado; o arrependimento é o primeiro passo para a melhoria, mas só ele não basta, é preciso, ainda, a expiação e a reparação.

O Livro dos Espíritos, em suas questões 990 e 992, nos ensina que o arrependimento também pode ocorrer enquanto ainda estamos no corpo, cuja consequência é gerar o avanço, o progresso, desde a vida presente, se tiver tempo para reparar suas faltas. Acrescenta, ainda, que “Quando a consciência reprova e mostra uma imperfeição, pode-se melhorar sempre”.

Nessa perspectiva, presumindo que o criminoso delator está sinceramente arrependido e deseja colaborar com a justiça, notamos que ele está dando passos seguros na direção de sua reabilitação espiritual, que não se encerra apenas com a delação, mas que prosseguirá com a expiação e a integral reparação, seja dos danos causados a todos, seja da questão do reequilíbrio pleno diante da própria consciência.

Ademais, importante registrar que o delator, além de dar o primeiro passo (arrependimento), normalmente já inicia a segunda etapa (expiação), que no conceito dos benfeitores espirituais, na citada obra (O Céu e o Inferno), decorre dos sofrimentos físicos e morais.

Assim sendo, notamos muitos delatores sofrendo a execração popular, a angústia e a vergonha diante dos familiares, os efeitos do cumprimento da pena decorrente da lei humana, alguns adoecem fisicamente, e possivelmente já começam a sofrer os dramas morais da consciência atormentada pelo erro perpetrado.

Alguns ainda iniciam a reparação, porque devolvem parte dos danos financeiros causados à nação, muitas vezes previstos nos acordos de delação ou de leniência (das empresas que integram).

É claro que as referidas expiações e reparações apenas se iniciam, o que já é significativo para sua marcha espiritual, e prosseguem até o momento que o Espírito atinja o patamar de “débito expirado”, conforme consta da obra “Ação e Reação”, da lavra mediúnica de Francisco Cândido Xavier (ditado pelo Espírito André Luiz – capítulo 17 – “Dívida Expirante”).

O criminoso não arrependido, que insiste em negar os delitos ou que permanece na criminalidade, terá um caminho mais longo e doloroso pela frente, colhendo aquilo que está semeando, e, cedo ou tarde, ainda que no mundo espiritual ou em outras vidas, irá se arrepender, porque é da lei divina do progresso que ninguém ficará eternamente no mal.

Poder-se-ia perguntar: E se o delator não estiver sinceramente arrependido e apenas faz o acordo para minimizar sua pena?

Ninguém consegue enganar a lei divina, de forma que o delator que dissimulou o arrependimento se submeterá aos mesmos passos do criminoso não arrependido, isto é, prolongará seu sofrimento e terá que se render ao legítimo arrependimento.

Muitos também se questionam acerca do excesso de privilégios para alguns delatores, sendo que, em poucos casos, eles obtêm até o perdão judicial, mas, diante de todos os argumentos expostos, não podemos ignorar que se não houve algum reflexo penal para o delator, ele não ficará isento de prestar contas às leis divinas e à própria consciência, tendo que, fatalmente, se submeter ao arrependimento, expiação e reparação.

Por derradeiro, não podemos desprezar que uma das facetas da caridade, segundo os padrões do Cristo, conforme consta da questão 886 de O Livro dos Espíritos, é a indulgência para com as imperfeições alheias, até porque também temos limites morais, de forma que, diante dessa volumosa notícia de corrupção e crimes de alto escalão, não nos esqueçamos de ser indulgentes, que não significa conivência, e lembremos de orar por aqueles que estão se comprometendo diante das leis humanas e divinas, auxiliando-os em seu complexo processo de reabilitação espiritual. Esse é o papel do verdadeiro cristão!

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita