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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Eliminando o bullying


Ao que tudo indica, os sintomas do bullying têm ladeado – em maior ou menor grau – a evolução humana. Quem não foi alvo de gozações, brincadeiras de mau gosto, intimidações ou provocações em algum momento da sua existência? Quem não passou pela experiência de ser “infernizado” por alguém em razão do seu sobrenome, característica física ou jeito de ser? O fato é que muito dificilmente alguém consegue passar incólume por tais dissabores e/ou inconveniências. Portanto, se o bullying – seja com outra denominação ou não – permeou e continua permeando as nossas vidas, o que mudou, então, é a forma como se lida com esse fenômeno.

Aliás, a constatação de que ainda se pratica bullying em nossas sociedades denota a nossa dificuldade em assimilar inteiramente os exemplos dignificantes de comportamento humano, bem como conviver cordialmente com aqueles que são diferentes de nós. Mas como não é possível eliminar o bullying por decreto, a maneira como se reage a ele pode ser determinante para a trajetória vitoriosa ou fracassada de um adolescente ou jovem. 

As tragédias recentemente ocorridas em nosso país, assim como outras que aconteceram em grandes nações, protagonizadas por adolescentes e jovens alvos de bullying, clamam por mudanças e ações firmes em várias dimensões. Diante deste quadro assombroso, é imperioso que haja um envolvimento muito maior dos pais na vida dos seus filhos. Afinal, as evidências demonstram claramente que os adolescentes e jovens perpetradores de tais atos inomináveis carregam em suas almas graves distúrbios nem sempre facilmente detectáveis.

Em poucas palavras, são indivíduos inteligentes, embora espiritualmente doentes. Muitos desfrutam de condições sociais altamente favoráveis. No entanto, os seus corações são como vulcões adormecidos, prontos a irromper violentamente a qualquer momento, ceifando tudo à sua volta. Ao que parece, um turbilhão de sentimentos desencontrados envolve esses seres infelizes, que não conseguem trabalhar pelo próprio ajustamento psicológico da vida em sociedade. De fato, qualquer adversidade por eles sofrida serve de ignição, em suas mentes desequilibradas, para ações brutais contra os seus pares. Em síntese, é o que se tem observado como elemento comum em tais lamentáveis acontecimentos.

Reconhecemos que os pais contemporâneos têm diante de si muitos desafios na criação e encaminhamento dos seus filhos. Além disso, seria um enorme exagero dizer que estes sejam, em sua maioria, Espíritos efetivamente maduros. Há, seguramente, uma grande quantidade de almas encarnadas iniciando uma jornada reparadora e precisando, por conta do passado comprometedor, de muito apoio, encorajamento, amor e, sobretudo, de severa vigilância. Ademais, fornecer-lhes igualmente as bases educacionais da moral cristã espírita nos parece medida vital para a obtenção de uma vida exitosa.

Na verdade, só conseguiremos avançar na eliminação do bullying em nosso mundo se as nossas crianças forem ensinadas, desde cedo, sobre a importância de se praticar as virtudes da empatia, solidariedade, respeito e amor. Como bem observa o Espírito Ermance Dufaux, na obra Diferenças Não São Defeitos: A Riqueza da Diversidade nas Relações Humanas (psicografia de Wanderley Oliveira), “Se a fraternidade é o pulsar do coração no respeito incondicional às diferenças, a solidariedade é o abraço de amor aos diferentes na atitude concreta de amar”. O Espiritismo pode, obviamente, servir de lastro nesta direção por meio dos recursos da evangelização infantil, do estímulo às leituras edificantes, entre outras tantas providências, mas não subtrai, em hipótese alguma, o papel dos pais no processo.

Nesse sentido, a missão da paternidade envolve o encaminhamento dos filhos na senda do bem para que eles, por sua vez, venham a adotar um comportamento cidadão quando forem convocados para tal. Os pais que se omitem nesta tarefa certamente terão muito a lamentar. Quanto aos filhos, por fim, espera-se que honrem o sobrenome recebido e façam jus a todo esforço empreendido em benefício deles dos dois lados da vida.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita