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por Ricardo Orestes Forni

 

Como vai nosso contentamento?


A pergunta do título se baseia numa afirmativa maravilhosa do apóstolo Paulo na sua epístola aos Filipenses quando afirmou sem vacilar: “Aprendi a contentar-me com o que tenho”.

O que tinha ele naquela altura da sua vida preso em Roma e aguardando a morte?

Perdera a consideração dos familiares; vivia muitas vezes foragido quando passou de perseguidor a ser perseguido; foi açoitado; feito prisioneiro; vivia uma vida material de extrema pobreza; o que tinha ele para contentar-se a não ser a consciência tranquila do dever cumprido?

Qualquer um de nós tem motivos maiores para ser contente e, entretanto, não somos. Pelo menos uma grande parte da humanidade.

A pessoa que tem o seu carro simples, mas funcionando normalmente, quando passa perto de um carro importado pensa assim: “Isso é que é carro! Como deve ser bom poder dirigir um veículo desses!”. Ao contemplarmos o carro importado, o brilho da alegria em ter o nosso veículo nacional é ofuscado.

A pessoa veste-se de maneira asseada mesmo que não esteja rigorosamente dentro daquilo que a moda exige e, ao passar diante de uma boutique de roupas que estampa na vitrine os modelos recentes, exclama: “Ah! Como deve ser bom poder vestir um traje desses como determina a moda!”. O fato de termos nossa roupa limpa e em bom estado não é capaz de contentar-nos. Cobiçamos aquela que está exposta na loja cara e de grife.

A pessoa vive em sua casa própria, não paga aluguel como tantas outras, mas ao passar por uma mansão que ocupa uma quadra toda, fica a pensar: “Morar num lugar desses é como morar num palácio! Quantos quartos e banheiros deve ter? Como deve ser maravilhosa por dentro com sauna, sala de televisão, escritório, vários banheiros, piscina, área de lazer toda aparelhada!”. E lá se vai embora a satisfação que a casa simples nos proporcionava.

Outras vezes o alimento de boa qualidade que nos abençoa a mesa é esquecido quando passamos diante de um restaurante de renome com seu cardápio exótico, o que nos conduz ao seguinte raciocínio: “Aí deve ter comida que nunca conseguirei provar devido ao alto preço! Fico a imaginar as delícias que são servidas aos seus frequentadores!”. E o nosso alimento simples, porém o suficiente para a nossa subsistência, é esquecido ou perde o valor que realmente tem.

Daí a pergunta: aprendemos a ser felizes com o que temos, como afirmou, prisioneiro em Roma, o apóstolo Paulo?

Para a nossa meditação, lembramos o que encontramos no livro Lições de Chico Xavier de A a Z, Editora LEEP, página 444: “Uns queriam um emprego melhor; outros, só um emprego. Uns queriam uma refeição mais farta; outros, só uma refeição. Uns queriam uma vida mais amena; outros, apenas viver. Uns queriam pais mais esclarecidos; outros, ter pais. Uns queriam ter olhos claros; outros, enxergar. Uns queriam ter voz mais bonita; outros, falar. Uns queriam silêncio; outros, ouvir. Uns queriam um sapato novo; outros ter pés. Uns queriam um carro; outros, andar. Uns queriam o supérfluo; outros, apenas o necessário”.

Perceberam como o ser humano é complicado? Creio que a solução para isso seria termos uma visão de trezentos e sessenta graus. Esse tipo de visão que faz uma volta completa da cabeça assentada sobre o tronco. Quando estivéssemos focados naquilo ou naqueles que estão à nossa frente, voltaríamos nosso olhar para trás a contemplar os inúmeros companheiros de jornada que estão em situação extremamente pior do que a nossa. Quando nos sentíssemos solitários, voltaríamos nossa visão para o lado e veríamos os muitos que jornadeiam conosco portando problemas semelhantes aos nossos e nos consolaríamos ao constatar situações parecidas à que estamos vivenciando, além de permitir que fôssemos solidários espantando a própria solidão.

Paulo havia perdido sua noiva e feito o primeiro mártir do cristianismo na pessoa de Estêvão e, mesmo assim, dizia ter aprendido a ser contente com o que tinha.

Será que esse contentamento de Paulo tinha alguma coisa a ver com a sua consciência tranquila pelo dever cumprido, assumido perante Jesus?

Se esse for o real motivo, tenho a impressão de que está explicado nosso descontentamento pela vida que levamos atualmente na atual reencarnação, você concorda?

Caso não seja esse o seu problema, anime-se! Vai ser bem mais fácil exarar a frase de Paulo: “Aprendi a contentar-me com o que tenho”.

Torço por você porque, quanto a mim, não tenho essa chance. Minha dívida é para com Ele.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita