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por Temi Mary Faccio Simionato  

 

Esquecer o mal procurando o bem


Eu, porém, vos digo:
Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e caluniam” (Mateus, 5:44).

Estamos inseridos nesta esfera física para nos regenerar e reaprender, retomando os débitos pelas fraquezas e falhas em existências pregressas. Mesmo assim, ainda não superamos os entraves da nossa libertação, concedendo ajustes inadequados através dos nossos desejos e caprichos imediatistas. Por causa disso, continuamos acusando, reclamando e nos queixando das dificuldades necessárias ao nosso aprendizado atual. 

Quando Jesus disse “Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e caluniam”, queria dizer que precisamos viver de modo que estes adversários se sintam auxiliados através dos nossos exemplos e atitudes renovando-se para o bem.

O ofensor chega-nos como um teste para o nosso aprimoramento moral. Ele difama nosso nome, ameaça-nos, fere nossos sentimentos, desafia-nos na tolerância, torturando-nos os pensamentos e, mesmo assim, o Mestre continua a falar: “Amai os vossos inimigos”.

Podemos estender-lhe a mão socorrendo-o, porque o adversário de hoje também é digno de auxílio e, queiramos ou não, são filhos de Deus assim como nós, para quem o Pai providenciará recursos e caminhos com a mesma justiça e bondade que tem para com todos.

Em muitos episódios da vida, aqueles que nos prejudicam e magoam, frequentemente, se encontram irmanados a tribulações; no fundo sofrem muito mais pelo fato de nos criarem problemas do que nós mesmos quando nos supomos vítimas deles.

Quando as relações com nossos amigos adoecerem, será melhor nos perguntarmos se os estamos perdoando de fato. Serão apenas palavras ou estamos colocando nossos verdadeiros sentimentos neste perdão. É justo entender que também nós cometemos equívocos, que também precisam ser corrigidos. Que também temos reajustes a serem acertados, lembrando-nos de todo o bem que essas criaturas nos fizeram e a quem devemos gratidão.

O amor pelos desafetos não nos tira a paz da consciência, porque quando Jesus disse: “ide e reconciliai-vos com vosso adversário”1, Ele também ensina a obtermos a paz interior, cooperando com eles. Desta forma, compreendemos que o esquecimento do mal que nos assedia é defesa de nosso próprio equilíbrio e, nos dias que a injúria nos bate no rosto, o perdão é uma bênção para os ofensores, e sempre será o melhor para nós.

Nenhum de nós experimenta alegria frente às vítimas do mal. O importante é nos colocarmos no lugar dos nossos irmãos equivocados e verificar que eles precisam mais de assistência do que de censura, porquanto todos nós somos suscetíveis de falhas lamentáveis.  Resumindo, precisamos entender que para sermos desculpados é necessário desculpar, refletindo para não guardar ressentimentos, recordando a advertência do nosso Irmão Maior de orarmos pelos que nos perseguem e caluniam. Quem perdoa eleva-se e quem se vinga desce os despenhadeiros da sombra.

Tudo se tornará fácil quando cultivarmos a verdadeira fraternidade, porque o amor pensa, fala e age estabelecendo o caminho para a glória da vida imortal. Portanto, se desejarmos avançar para a luz, aprendamos a desculpar infinitamente, porque o céu da liberdade ou o inferno da condenação moram na intimidade da nossa consciência. Por isso o Mestre Amado esclarece: “Pai, perdoa as nossas ofensas, assim como perdoamos aos que nos têm ofendido”.2

Quando Jesus convida ao perdão, não nos impeliu exclusivamente ao aprimoramento moral, mas também para a paz interior, para que possamos trabalhar e servir na construção da nossa felicidade. O perdão pode ser comparado à luz que o ofendido acende no caminho do ofensor e, por isso, perdoar em qualquer situação será sempre colaborar na vitória do amor em apoio à nossa própria libertação para a vida imperecível.

O Mestre não nos impele tão somente a beneficiar os que nos ferem, mas, igualmente, a proteger a sanidade mental do grupo a que fomos chamados a servir e atuar, imunizando os colegas do trabalho ao contágio da mágoa, da queixa, mantendo-nos tranquilos e confiantes tanto no amparo a eles quanto a nós.

Observemos que o divino Semeador nos aconselhou, orientando-nos que há o crescimento livre do joio e do trigo, mas na hora certa e oportuna se fará revelar amparando-nos e selecionando nossos sentimentos através de seu justo entendimento. Por isso, a importância da consciência tranquila frente aos que nos injuriam, abençoando-os, porque são criaturas necessitadas de compreensão e auxílio espiritual, tolerância e devotamento, ternura e trabalho.

A existência na qual atuamos no momento não nos reclama atitudes sensacionalistas, gestos impraticáveis, espetáculos de grandeza. Pede apenas que sejamos melhores para aqueles que cruzem nossos passos, esquecendo o mal e procurando o bem que nos esclareça e melhore.

Desta forma, podemos construir no coração uma prece por todos aqueles que ainda não nos compreendem, iniciando a obra do nosso aperfeiçoamento para a Vida Imortal.

O caminho que Jesus nos indica é de vitória da luz sobre as trevas e, por isso mesmo, repleto de obstáculos a vencer. Senda de espinhos gerando flores, calvário e cruz levando à renovação.

O meigo Rabi, desde o início do Seu apostolado, mostrou-nos o roteiro da elevação pelo sacrifício, servindo sem recompensa, entendendo a todos, socorrendo, esclarecendo e demonstrando que a caridade se externa no amor puro.

Quando nos entregarmos realmente a Deus e a Ele entregar nossos adversários como irmãos necessitados do Amparo Divino, penetraremos no verdadeiro entendimento das palavras do Mestre: “Pai, perdoa as nossas ofensas assim como perdoamos aos que nos ofenderam”, reconciliando-nos com a vida e com a nossa alma. Atingindo essa beatitude, saberemos tocar novamente a face de quem nos ofendeu, e aquele que nos ofendeu encontrará Deus em nós e nos dirá com alegria do coração: “Bendito sejas”.

 

Bibliografia:


1 - Mateus, 5:25 e 26.

2 - Mateus, 6:12.

RIBEIRO, Cesar Saulo coordenação - O Evangelho por Emmanuel, comentários ao Evangelho segundo Mateus – 1ª edição - Brasília/DF – Editora FEB - 2016 – págs. 143, 214, 207, 206, 216, 151, 174, 162.  


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita