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por Rogério Coelho

 
A história do livro


O conhecimento deve descer ao coração para receber a nutrição do sentimento
“O livro com Jesus é sempre, na vida, o mestre silencioso; na fé, o templo da alma, e na dor, a fonte de reconforto.” - André Luiz(1)
Os processos didáticos ainda hoje aplicados se inspiraram nas teorias dos luminares da Pedagogia, da qual Platão foi o fundador, e a partir do qual podemos traçar uma linha reta passando por Kant, Spencer, Pestalozzi, até os mais contemporâneos, como Morrison, este último um dos mais capacitados pedagogos modernos, que afirmou: “Saber o que é bom é uma coisa e outra é amar o bem e odiar o mal”. Em outras palavras, o que Morrison está querendo dizer é que o conhecimento deve descer ao coração para receber a nutrição do sentimento, já que o aprendizado é obtido intelectualmente, mas as boas e úteis consequências de tal aprendizado vão depender da capacidade de apreciação e dos estados afetivos e emotivos do aprendiz.
Segundo Kant, a obra da educação é apontada como o desenvolvimento do indivíduo em toda perfeição de que é suscetível. Em uníssono com Kant, Spencer postulava: “a finalidade precípua da educação é o preparo para a vida completa”. Outra coisa não dizia  Allan Kardec(2): “A educação, convenientemente entendida, é a chave do progresso moral”.
Afirma Willian H. Burton que, lá pelos recuados tempos do século XIX, era costume de a escola tradicional considerar que o conteúdo dos livros é o produto da aprendizagem que deve ser dominado. Estudavam-se (de memória) “lições” ou porções reduzidas desse conteúdo, para repeti-las, depois, diante do mestre. Essa dinâmica de “empilhamento” que oferecia tão somente uma acumulação de informações mal alinhavadas e sem amarração, foi ridiculizada por MacMurray, que chamou tal processo de: “educação de geladeira”.
Não falece dúvida, porém, que no processo educacional das criaturas, não obstante o advento da cibernética e da ciência da computação, o livro tem e sempre terá papel de destaque, haja vista o estrondoso sucesso hodierno das bienais do livro que apresentam crescente sucesso e famélica demanda... E isto é bom, pois é sinal que – finalmente – os tempos assinalados para a elevação intelecto-moral da Humanidade são chegados.
Na ancestral cultura árabe, o livro edificante é considerado degrau de ascensão espiritual, ou seja, “uma escada que sobe”; já o livro chulo é degrau de acesso descendente à degradação, isto é, ele se torna “uma escada que desce”.
No livro “Relicário de Luz”, André Luiz afirma que o livro edificante é sementeira de Luz Divina que aclara o passado, orienta o presente e prepara o futuro... Em sua indiscutível opinião, o livro nobre é o instrutor do Espírito que esclarece sem exigências, ama sem ruído e consola sem ritos exteriores; ampara em silêncio, fecunda os sentimentos, revela a sabedoria, jorra bênçãos de paz, brilha sem ofuscar, frutifica sem condições e sempre sem perder...
Com sua oceânica sensibilidade e sabedoria, a doce Meimei vem(3) – através da singular psicografia de Chico Xavier – nos lembrar:
“(...) O mundo vivia em grandes perturbações... As criaturas andavam empenhadas em conflitos constantes, assemelhando-se aos animais ferozes, quando em luta violenta. Os ensinamentos dos homens bons, prudentes e sábios eram rapidamente esquecidos, porque, depois da morte deles, ninguém mais lhes lembrava a palavra orientadora e conselheira... A Ciência começava com o esforço de algumas pessoas dedicadas à inteligência; entretanto, rapidamente desaparecia porque lhe faltava continuidade. Era impraticável o prosseguimento das pesquisas louváveis, sem a presença dos iniciadores. Por isso, o povo, como que sem luz, recaía sempre nos grandes erros, dominado pela ignorância e pela miséria... Foi então que o Senhor, compadecendo-Se dos homens, lhes enviou um tesouro de inapreciável importância, com o qual se dirigissem para o verdadeiro progresso: Esse tesouro é o livro... Com ele, apareceu a escola, com a escola a educação foi consolidada na Terra e, com a educação, o povo começou a livrar-se do mal, conscientemente.
Muitos homens de cérebro transviado escrevem maus livros, inclinando a alma do mundo ao desespero e à ironia, ao desânimo e à crueldade, mas as páginas dessa natureza são apressadamente esquecidas, porque o livro é realmente uma dádiva de Deus à Humanidade para que os grandes instrutores possam clarear o nosso caminho, conversando conosco, acima dos séculos e das civilizações... É pelo livro que recebemos o ensinamento e a orientação, o reajuste mental e a renovação interior. Dificilmente poderíamos conquistar a felicidade sem a boa leitura. O próprio Jesus, a fim de permanecer conosco, legou-nos o Evangelho de Amor, que é, sem dúvida, o Livro Divino em cujas lições podemos encontrar a libertação de todo o mal”.
Depois do Evangelho de Jesus, surge no proscênio terrestre o segundo livro mais importante da História da Humanidade: “O Livro dos Espíritos”, consolidando a promessa feita por Jesus há dois milênios acerca do advento do “Consolador” que viria para nos ensinar todas as coisas e fazer lembrar o que Ele, a Seu tempo, ensinara.
O cultíssimo mentor Vianna de Carvalho afirma(4) que O Livro dos Espíritos foi “(...) aceito, a princípio com desconfiança e zombaria, mas as teses que veicula vêm resistindo ao processo de desenvolvimento cultural, tornando-se, cada dia, mais legítimas face à confirmação que tem recebido das doutrinas psíquicas e parapsíquicas, da Antropologia, da Sociologia, da Embriogenia, da Ética... Abordando os temas mais intricados do pensamento de todos os tempos, é um tratado de lógica em permanente atualidade, obedecendo a uma metodologia e sistemática que surpreendem todos aqueles que lhe buscam as sábias informações.
Estudando Deus e a alma, o princípio das coisas, o Espírito e a matéria, a morte e a vida, a reencarnação e a Justiça Divina, as comunicações espirituais e os numerosos fenômenos que dizem respeito ao ser e ao seu destino, as ocorrências paranormais, as leis que regem o Universo, particularmente a Terra e seus habitantes, culmina com uma análise profunda a respeito dos valores éticos que vigem no mundo e fora dele.
Jamais impõe qualquer tema, sempre abrindo espaços novos para aprofundamento do conhecimento, induz o homem à interiorização na busca de si mesmo, ao tempo em que lhe amplia os horizontes existenciais, dando sentido e significado à sua atual existência, de que depende todo o seu processo de iluminação e de liberdade.
Seguindo a tradição dialética, suas perguntas e respostas possuem clareza inconfundível, completadas pelos lúcidos comentários do Codificador, que se afadigou em esgotar os temas tratados com liberdade cultural, evitando qualquer tipo de dogmatismo, sempre do agrado das mentes arbitrárias que se comprazem em impor suas ideias.
Profundamente liberal, Allan Kardec discute, esclarece, proporciona um elenco de reflexões de modo que o indivíduo elege somente o que pode absorver, incorporando essa conquista ao próprio conhecimento. Nenhuma obra atravessou incólume, como O Livro dos Espíritos, mais de um século de existência, particularmente num período como o que medeia entre a data da sua publicação e a atualidade, tornando-se cada vez mais compatível com as demonstrações da ciência e da tecnologia. É livro de estudos profundos, simples na forma e complexo no conteúdo, abordando teses científicas e propostas filosóficas, discussões ético-morais e religiosas, análises sociológicas e respostas psicológicas, contribuições que englobam as artes, os comportamentos, a História e os indispensáveis contributos para a felicidade humana.
Mesmo nestes dias, quando se desenvolve a realidade factual, e a computação passa a dirigir a conduta cultural e tecnológica do ser humano, O Livro dos Espíritos ocupa um lugar de destaque entre as obras digitadas para a leitura acessível e prática nas luminosas telas das redes internacionais de comunicação, encaminhando os Espíritos para o fanal da plenitude e sustentando a realidade da vida-depois-da-vida e da Justiça de Deus, que paira, soberana, acima de todas as vicissitudes e transitoriedades da forma humana e das coisas terrenas”.
Por todas as razões acima descritas e outras mais além da nossa apoucada compreensão, é que o célebre e inspiradíssimo poeta Olavo Bilac declamou:
“Vaso revelador retendo o excelso aroma,/ Do pensamento a erguer-se, esplêndido e bendito,/ O livro é o coração do Tempo no Infinito,/ Em que a ideia imortal se renova e retoma.”
 


Referências:


1 - XAVIER, Francisco Cândido. Coletânea do Além. 8. ed. São Paulo: LAKE, 2003,

2 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 917 (nota).

3 - XAVIER, Francisco Cândido. Pai Nosso. Rio [de Janeiro]: FEB.

4 - FRANCO, Divaldo. Luzes do Alvorecer. Salvador: LEAL, 2001

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita