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Internacional
Ano 11 - N° 514 - 30 de Abril de 2017
THIAGO BERNARDES
bernardes.thiago2@gmail.com

Curitiba, Paraná (Brasil)
 

  


A vida e a obra de Amalia Domingo Soler

 Os frutos do trabalho realizado pela mãe do clássico Memórias
do Padre Germano
 continuam até hoje


É comum ouvirmos de nossos companheiros espíritas mais antigos a seguinte frase: - “Amigos, se vocês quiserem realmente conhecer o Espiritismo, não podem desencarnar antes de lerem Memórias do Padre Germano, um clássico espírita que devemos a Amalia Domingo Soler”.

O livro, publicado no Brasil pela editora da Federação Espírita Brasileira, surgiu inicialmente sob a forma de fascículos, na Espanha, a partir do dia 29 de abril de 1880, como a própria Amalia relata em um texto que constitui, na edição publicada pela FEB, o prefácio da obra.  

Como surgiu o livro Memórias do Padre Germano 

Eis como ela menciona o fato:

 

Aos 29 de abril de 1880 comecei a publicar, no jornal espírita A Luz do Porvir, as Memórias do Padre Germano — uma série de comunicações que, sob a forma de novela, nem por isso deixam de instruir deleitando. O Espírito Padre Germano foi relatando alguns episódios de sua última encarnação terrena, consagrada à consolação dos humildes e oprimidos, ao mesmo tempo que desmascarava os hipócritas e falsos religiosos da Igreja Romana. Tal proceder, como era natural, lhe acarretou inúmeros dissabores, perseguições sem tréguas, cruéis insultos e ameaças de morte, ameaças que, por mais de uma vez, e por pouco se não converteram em amaríssima realidade. Vítima dos superiores hierárquicos, assim viveu desterrado em obscura aldeia, ele que, pelo talento, bondade e predicados especiais, poderia ter conduzido a seguro porto, sem perigo de soçobro, a arca de São Pedro. Mas, nem por viver em recanto ermo da Terra, obscura foi sua existência. Assim como as ocultas violetas exalam delicado perfume entre as heras que as sobrepujam, assim a religiosidade dessa alma exalou o sutil aroma do sentimento, e com tanta fragrância, que a essência embriagadora pôde ser aspirada em muitos lugares da Terra. Muitos foram os potentados que, aterrados pela ideia de crimes enormes, correram pressurosos à sua presença, prostrando-se humildes ante o humilde sacerdote, para que fosse intermediário entre eles e Deus. O Padre Germano arrebanhou muitas ovelhas desgarradas, guiando-as pela senda estreita da verdadeira religião, que outra não é senão a do bem pelo bem, e amando — não só o bom, que por excepcionais virtudes merece ser amado ternamente, como também o delinquente — enfermo d’alma que, em gravíssimo estado, só com amor se pode curar. A missão desse Padre em sua última encarnação foi, de fato, a mais bela que porventura possa ter o homem na Terra; e visto como, ao deixar o invólucro carnal, o Espírito prossegue no espaço com os mesmos sentimentos humanos, pôde ele sentir, liberto dos seus inimigos, a mesma necessidade de amar e instruir o próximo, buscando todos os meios de completar tão nobilíssimos desejos. À espera de propícia ocasião, encontrou, finalmente, um médium falante puramente inconsciente, ao qual dedicava, contudo, esse achado: — importava que tal médium tivesse um escrevente capaz de sentir, compreender e apreciar o que o médium por si dissesse. A isso me prestei eu, de boa vontade, e no veementíssimo intuito de propagar o Espiritismo, trabalhamos os três na redação destas “Memórias”, até 10 de janeiro de 1884. Não guardam elas perfeita ordem com relação à existência do Padre, sendo que, tão depressa relatam episódios verdadeiramente dramáticos da sua juventude, como deploram o isolamento da sua velhice; em tudo, porém, que diz o Padre Germano, há tantos sentimentos, religiosidade e amor a Deus; admiração tão profunda das leis eternas e tão grande adoração à Natureza, que, lendo estes fragmentos, a criatura mais atribulada se consola, o mais céptico espírito conjetura, comove-se o maior criminoso, cada qual procurando Deus a seu modo, convencido de que Ele existe na imensidade dos céus. Um dos fundadores de A Luz do Porvir, o editor João Torrents, teve a feliz ideia de reunir em volumes as Memórias do Padre Germano, às quais adicionei algumas comunicações do mesmo Espírito, por ter encontrado nelas imensos tesouros de Amor e de Esperança — esperança e amor que são frutos sazonados da verdadeira religiosidade por ele possuída de muitos séculos. Sim, porque para sentir e amar como ele, conhecendo ao mesmo tempo tão profundamente as misérias da Humanidade, é preciso haver lutado com a fonte nunca estanque das paixões, com a tendência dos vícios, com o estímulo indômito das vaidades mundanas. As grandes e inveteradas virtudes, tanto quanto os múltiplos conhecimentos científicos, não se improvisam porque são a obra paciente dos séculos. E sejam estas linhas — humilde prólogo àsMemórias do Padre Germano — as heras que ocultam o ramo de violetas, cujo delicadíssimo perfume há de ser aspirado com prazer pelos sedentos de justiça e famintos de amor e verdade. (Grácia, 25 de fevereiro de 1900. Amalia Domingo Soler.)

A vida difícil na capital espanhola 

Amalia certamente não sabia que sua obra se tornaria imortal e asseguraria um lugar de destaque entre as obras mais importantes que a literatura espírita nos ofereceu e, coincidência das coincidências, exatamente 29 anos depois da publicação do primeiro fascículo, e no mesmo dia, 29 de abril, ela retornaria ao Plano Espiritual. Referimo-nos ao ano de 1909, quando em Barcelona, aos 73 anos de idade, Amalia desencarnou.

Escritora, costureira de profissão e grande expoente do movimento espírita espanhol, sobretudo por seu trabalho na divulgação do Espiritismo, Amalia Domingo Soler nasceu em Sevilha, região da Andaluzia, no dia 10 de novembro de 1835.

Seu pai morreu antes de a menina nascer. Aos oito anos ficou temporariamente cega, sendo mais tarde curada por um farmacêutico.  Os problemas visuais, no entanto, a acompanhariam por toda a vida, mas, graças aos esforços de sua mãe, dos dois aos cinco anos aprendeu a ler, aos dez anos começou a escrever poesias e aos dezoito publicou seus primeiros versos.

Aos vinte cinco anos, com o falecimento da mãe, Amalia passou a enfrentar outra fase difícil. Seus recursos financeiros eram utilizados na manutenção de sua frágil saúde. Solteira, suas relações com a família paterna eram instáveis. Ela decidiu então mudar-se para a capital do país, Madri, esperando encontrar ali melhores dias.  

Sua mãe lhe aparece e muda sua vida 

Já morando na capital, em 1868 passou por novas dificuldades. Não encontrando trabalho, enfrentou a fome e passou a depender a ajuda de Instituições de benemerência. Sozinha e sem recursos, pensava em desistir quando certa noite, caminhando sem esperanças, desiludida com a vida, apareceu-lhe sua mãe. A visão causou-lhe grande espanto, mas lhe reavivou as esperanças e fez Amalia recordar-se da importância da religião. Buscou auxílio, então, em uma igreja luterana. As pregações da igreja e o contato com a religião impelem-na a não desistir. Ela volta a escrever versos, dedica-se à costura e tenta reerguer-se. A visão causa-lhe, no entanto, novas aflições e ela procura a ajuda de um médico homeopata, Dr. Hysern, que a salva da cegueira. Esse mesmo homeopata, embora se declarasse materialista, entrega-lhe um exemplar de "El Critério", periódico espírita que circulava na época. O pequeno jornal espírita lhe desperta a curiosidade e, buscando maiores esclarecimentos, Amalia mantém contanto com diversas revistas espíritas da época, toma coragem e escreve uma poesia para o jornal "El Critério", a qual não é publicada, mas inspirou o editor a lhe enviar um exemplar de "Preliminares del Espiritismo".

Sua primeira publicação, uma poesia, aparece no periódico espírita "La Revelación". Seu primeiro artigo doutrinário, "La Fe Espiritista", sai pelo "El Critério", em 1872. Seus artigos despertam grande atenção e, aos poucos, Amalia integra-se no movimento espírita espanhol, participando de reuniões em casas espíritas.  

Em Barcelona as atividades se multiplicam 

Em 31 de março de 1875, aniversário da desencarnação de Allan Kardec, lê a poesia "A la Memoria de Allan Kardec" diante dos membros da Sociedad Espiritista Española e torna-se, a partir de então, mais um membro das fileiras de propagandistas da Doutrina Espírita em terras espanholas.

Junto aos espíritas de Murcia, permanece quatro meses recuperando-se de uma enfermidade. Recuperada, ciente de que seria errado viver do Espiritismo, Amalia continua a trabalhar de dia e escrever de noite. Em 10 de agosto de 1876, convidada pelo grupo espírita "Circulo La Buena Nueva", ela decide mudar-se para Barcelona, com a esperança de encontrar melhores condições de trabalho na capital catalã, já então uma cidade de grande atividade econômica.

No dia 9 de maio de 1879 aparece-lhe o Padre Germano, seu guia espiritual. Em Barcelona, ela conhece o médium sonâmbulo Eudaldo, que recebe várias mensagens destinadas a Amalia, muitas dessas reunidas no livro Memórias do Padre Germano, que foi publicado, como dissemos inicialmente, em partes, a partir de 29 de abril de 1880.

Em 22 de maio de 1879 Amalia publica o primeiro número do periódico "La Luz del Porvenir", dirigido por ela própria. No primeiro número saiu o artigo "La idea de Dios", que foi denunciado às autoridades e provocou a suspensão do periódico por 42 semanas.  

A influência da obra de Amalia perdura até hoje 

Não se intimidou e lançou outra revista, com o nome "El Eco de la Verdad", até que a revista suspensa pudesse voltar a circular, o que ocorreu após um decreto do rei Afonso XII. O Catolicismo era a religião oficial na Espanha e reagia, por isso, a tudo que entendesse fosse contrário aos seus interesses.

O periódico "La Luz del Porvenir" foi publicado até 1899 e muitos dos artigos de Amalia Domingo Soler publicados durante este período - incluindo "La Idea de Dios" - foram, a partir de 1972, reunidos por Salvador Sanchís Serra nos livros "La Luz del Porvenir" e "La Luz del Camino", distribuídos gratuitamente por ele e pelo grupo espírita "La Luz del Camino" de Orihuela, Alicante.

O balanço da obra de Amalia Domingo Soler é difícil de ser feito, pois seus frutos ainda continuam surgindo.

O movimento espírita espanhol do final do século XIX, obra de Amalia e de outros grandes pioneiros, como Fernandes Colavida e Miguel Vives y Vives, abrigou o primeiro congresso espírita internacional em 1888, influenciou os movimentos nascentes nos vários países de língua espanhola da América Latina e - como precedente histórico - é a base para o atual renascimento do Espiritismo espanhol. Seus artigos são hoje, como foram ontem, exposições claras e diretas do Espiritismo e fiéis intérpretes da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec.

 



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita