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Ano 11 - N° 511 - 9 de Abril de 2017

IVOMAR SCHÜLER DA COSTA
ivomarcosta@gmail.com
Curitiba, PR (Brasil)

 
 

Ivomar Schüler da Costa

A caridade e a relação entre as intenções e os recursos


O capítulo XIII de O Evangelho segundo o Espiritismo é de grande importância porque apresenta alguns princípios de ação e faz algumas distinções básicas. Como a maioria dos capítulos dessa obra fundamental do Espiritismo, todas as suas partes, isto é, suas seções e itens, estão vinculadas de maneira que só têm sentido completo se vistas a partir do conjunto, e determinando as suas funções nele. Entretanto, para entender o que o capítulo deseja transmitir devemos antes entender o que cada parte realmente afirma.

Vamos tomar como objeto de estudo a seção “O Óbolo da Viúva”, que contém os itens 5, que é a transcrição de Marcos 12:41-44, e o 6, que é a explicação dada por Kardec.

Na sequência geral do capítulo, Kardec trata, nessa seção, de uma questão fundamental. Ele põe como tema a intenção de fazer o bem, e a divide em dois tipos. Partindo daí, ele associa essa intenção com a carência ou a posse de recursos que impeçam ou permitam ao indivíduo realizar seu objetivo, sobretudo, trata da atitude do indivíduo relativamente à posse ou não destes recursos. Neste sentido, a posição de Kardec é clara. Afirma ele que a qualidade da intenção tende a tornar o indivíduo ativo ou passivo quanto à ação no bem, em face da carência ou abundância de recursos materiais.

Essa seção divide-se em três momentos, embora apresente apenas dois parágrafos. No primeiro momento é feita uma declaração que podemos resumir da seguinte forma: Algumas pessoas dizem não poder fazer todo o Bem que desejam porque lhes faltam os recursos e por isso desejam possuí-los para poderem aplicá-los no Bem. No segundo é tratada a questão da insinceridade deste desejo e como ela determina a atitude do indivíduo. No terceiro momento trata-se do desejo sincero de possuir recursos materiais suficientes e como deve agir o indivíduo diante da sua carência. 

Significado da expressão “óbolo do pobre” 

Comecemos por entender o texto explicando cada um dos termos importantes. Kardec, para dar maior expressividade, usa sinônimos para referir-se aos mesmos termos.

Muita gente deplora não poder fazer todo o bem que desejara, por falta de recursos suficientes, e, se desejam possuir riquezas, é, dizem, para lhes dar boa aplicação. É sem dúvida louvável a intenção e pode até nalguns ser sincera. Dar-se-á, contudo, seja completamente desinteressada em todos?

E este,

[...] o óbolo do pobre, do que dá, privando-se do necessário [...], o ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma.

E ainda este,

[...] será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas [...]?

Vejamos. O termo riqueza é utilizado várias vezes. Quando a expressão “ouro do rico” e a palavra “dinheiro” são usadas conotam riqueza. A locução “recursos suficientes” também tem o sentido de riqueza. Recursos significam meios, haveres, posses, e “suficiente” quer dizer bastante, ou seja, haveres que suprem certa necessidade. Assim, todos estes termos e expressões se referem a uma quantidade de bens que vai além do necessário, recursos que alguém tenha de sobra. Portanto, ricos são aqueles que possuem recursos além das suas necessidades, abundância de recursos, que são as “riquezas”.

O antônimo de rico é pobre. Consequentemente, pobre é aquele que detém somente os recursos necessários para a satisfação das suas necessidades. Quando a expressão “o óbolo do pobre, do que dá, privando-se do necessário [...]” é usada, fica claro que este está dando algo que lhe fará falta.  

Quando a intenção de ajudar é desinteressada 

Óbolo significa literalmente uma pequena moeda grega do tempo de Jesus; porém, figurativamente significa uma pequena doação. Assim, o “óbolo do pobre” é o pequeno donativo daquele que tem recursos somente para o atendimento das suas necessidades.

Por conseguinte, quanto à posse de recursos, foram caracterizadas duas situações: a de carência e a de abundância.

Intenção e desejo, neste texto, são usados como sinônimos. Kardec faz uma divisão da intenção em interessada e desinteressada. Obviamente ele está se referindo ao interesse e desinteresse pessoal, ou seja, à busca de recompensas, vantagens, benefícios pessoais, no primeiro caso, e a ausência destes no segundo. Observemos que o desejo de possuir riquezas para ajudar quem delas carece pode ser louvável, mas somente quando a intenção for sincera, ou seja, desinteressada. Logo, quando esta intenção for interessada será insincera, e não será louvável.

O que seria a intenção desinteressada, sincera, no caso do desejo de possuir riquezas para poder fazer o bem?

Não haverá quem, desejando fazer o bem aos outros, muito estimaria poder começar por fazê-lo a si próprio, por proporcionar a si mesmo alguns gozos mais, por usufruir um pouco do supérfluo que lhe falta, pronto a dar aos pobres o resto?

Aqui está a resposta. O desejo que alguns alimentam de possuir riquezas para poder fazer o bem somente é desinteressado quando não visa proporcionar a si mesmos o bem antes de fazê-lo aos outros. Em outra parte do texto, Kardec refere-se à intenção desinteressada como a que está isenta de qualquer ideia pessoal. 

Em algumas pessoas o que impera é o egoísmo 

Kardec continua: Esta segunda intenção, que esses tais porventura dissimulam aos seus próprios olhos, mas que se lhes depararia no fundo dos seus corações, se eles o perscrutassem [...]. A segunda intenção é justamente esta: quando de posse das riquezas, procuram fazer o bem primeiro a si mesmo. É uma intenção que a pessoa esconde de si mesma, é dissimulada. E se é assim, então é oculta; e, é tão oculta que a maioria parece desconhecê-la. Contudo, é oculta aos outros, porque se eles investigassem minuciosamente seus sentimentos, seus desejos, trariam à tona suas verdadeiras intenções. Ora, se existe uma segunda intenção, intenção oculta, é claro que existe uma primeira intenção. Qual seria ela? A primeira intenção, ao contrário da segunda, é aquela que foi expressa, e, portanto, não está oculta. Quando é dito que algumas pessoas “deploram não poder fazer todo o bem que desejam”, isto significa que elas lamentam, lastimam, portanto expressam uma intenção.

Destaquemos o seguinte: em algumas pessoas a intenção expressa é desinteressada, sincera; neste caso não haveria uma intenção oculta, pois a pessoa expressa o que realmente sente. Se existe uma intenção interessada, oculta, então a expressa é apenas aparentemente desinteressada, é, por isso, insincera. Assim, nestas pessoas o que impera, neste caso, é o egoísmo, porquanto, fazer o bem a si mesmo antes de proporcioná-los ao outro é uma das suas características. 

Outro termo ao qual devemos atentar, para boa compreensão do texto, é “faculdade”. Expressa-se o codificador desta maneira: [...] ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, [...].

Em uma rápida passada de olhos em um dicionário qualquer veremos que faculdade tem, entre outros sentidos que não se aplicam especificamente ao caso em estudo, o de “poder de fazer”, o de “capacidade” e o de “potência moral”. São significados amplos.  

Importância da atividade no bem 

C. Lhar(1), ao classificar as faculdades da alma, denomina-as como faculdades de conhecimento, de sensibilidade e de afetividade. Ele as define assim: “poder que tem a alma de exercer certos atos ou de sofrer certas modificações”. As faculdades não podem ser observadas diretamente, mas podem ser deduzidas a partir do princípio lógico que afirma que todo ato supõe no ser uma potência proporcionada; atos distintos supõem, portanto, potências distintas. Se uma pessoa sem estudos prévios pinta um quadro magnífico, isto quer dizer que ela dispõe, de alguma forma, da potência, do poder para pintá-lo, senão isto não seria possível. Nenhuma pessoa pode realizar algo além das suas possibilidades. Este autor ressalta algo extremamente importante que, no entanto, geralmente passa despercebido à maioria dos espíritas. Existe uma correlação íntima entre as faculdades. Usando nossas palavras, dizemos que as faculdades se influenciam mutuamente; a moção realizada numa afetará as outras, e reciprocamente. Por isso, a atividade no bem tem importância primordial, sendo mesmo fator de desenvolvimento do espírito. O conhecimento sem a vontade é inerte; a sensibilidade sem a inteligência torna-nos pessoas frívolas. O homem só está completo quando utiliza todas as suas faculdades. Esta é a razão pela qual os Espíritos dizem que o homem deve estar inteiro no ato de Caridade.

O texto em análise é dividido em dois grandes parágrafos. No primeiro trata-se da intenção interessada e, no segundo, da intenção desinteressada.

No primeiro, Kardec faz o confronto da intenção interessada com um dos elementos da Caridade, a abnegação (2): [...] com a verdadeira caridade, o homem pensa nos outros antes de pensar em si. É com base neste princípio que ele afirma que aqueles que expressam o desejo de possuir riquezas para dar aos que delas carecem, porém com o objetivo oculto de primeiro usufruir delas, doando apenas o restante, dissimulam seus interesses pessoais. 

O valor do pequeno donativo 

Ainda neste parágrafo, ele lamenta que a maioria dessas pessoas encare a realidade fantasiosamente, pois esperam que ocorram situações totalmente incertas, sem que façam esforços para tal, em que conquistem grandes fortunas para, supostamente, fazer o bem. Alguns, levando a fantasia mais adiante, pretendem contar inclusive com a ajuda dos Espíritos para a conquista delas. O que se evidencia aqui é que quem tem o desejo sincero de possuir recursos suficientes para fazer o bem não deve de maneira alguma esperar por situações casuais; deve esforçar-se, trabalhar para conquistá-los.

Já no segundo, é exposta, primeiramente, uma interessante relação inversa entre a quantidade de riquezas e o valor moral delas. O elemento que altera o valor é o esforço, a privação autoimposta visando ao benefício alheio. O pequeno donativo (óbolo do pobre) feito com a privação do necessário tem valor maior do que o grande donativo (ouro do rico) realizado sem privações autoimpostas. Nesta condição, apesar do alto valor quantitativo, este é sobrepujado pelo valor qualitativo ou moral. Depois, outro princípio de ação, evidenciado, se assim podemos nos expressar, é o de atividade: Aliás, será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo, desde que se não tenha dinheiro? O que Kardec pergunta é se somente com recursos materiais é que podemos aliviar o sofrimento alheio. Teriam as riquezas uma importância tão fundamental na minoração das dificuldades alheias? E qual seria a atitude de quem desejasse ajudar aos que sofrem se não as possuísse? Imobilizar-se? Pelo texto podemos induzir que as posses materiais, por maiores que sejam, não detêm a primazia geralmente suposta pela maioria das pessoas.

Ninguém há que nada possa fazer de útil 

Se alguém deseja sinceramente ajudar ao próximo em suas dificuldades não deve permanecer inativo na falta destes recursos materiais, pois Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Isto é, quem deseja fazer não fica esperando, ou como diz o cantor “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. A atitude ativa também está clara nesta outra afirmação: (ocasiões de realizar o bem). Procure-as e elas se lhe depararão. Em outras palavras, quem procura encontra! A partir dos princípios do valor inverso dos pequenos donativos feitos com privação autoimposta, da intenção desinteressada, e do de atividade, deduzimos que os recursos devem ser buscados em outro lugar. Onde, porém, estarão eles? É o próprio Kardec quem aponta o local: [...] ninguém há que, no pleno gozo das suas faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? É em nossos recursos internos, nossas capacidades, que devemos buscar os meios para a prática do bem quando nos faltem os recursos materiais. Prestar serviços, despender consolações em profusão, diminuir sofrimentos físicos e morais, realizar esforços úteis. Percebamos que todos os utilizados são verbos ativos. E todas estas ações são quase desconsideradas no cotidiano, como se não tivessem nenhum valor. Entretanto, adquirem vultoso valor quando realizados com abnegação. Finalmente, outro ponto a destacar é que estes atos não são exigidos de quem não tem condições de exercê-los, pois somente podem ser praticados por quem está no gozo completo das suas faculdades.

No primeiro temos algumas afirmações que completam e reforçam antecipadamente o que foi dito no segundo.  

Conclusão 

A pessoa desejosa de fazer o bem, porém sem dispor de recursos para tanto, e ao colocar o bem do outro antes do seu próprio bem, faz com que a caridade atinja o seu ponto mais alto quando busca e encontra recursos em si mesmo, nas suas capacidades, porquanto O ponto sublimado da caridade, nesse caso, estaria em procurar ele no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os recursos de que carece para realizar seus generosos propósitos. Isto é, quando faltam recursos materiais, a pessoa não deve estacionar, mas sim usar sua atividade, suas habilidades, suas forças físicas e intelectuais para realizar o bem que deseja. A culminância da caridade não está no fato de usar meios internos, em vez de externos, mas sim no fato de que a pessoa se doa para realizar o bem.

Resumindo o nosso breve estudo, parece-nos que a grande questão que Kardec quer responder é esta: o bem depende exclusivamente de recursos materiais para se realizar? A resposta dada pelo próprio coautor da Doutrina é que a pessoa sem interesses pessoais, mesmo com carência de recursos materiais, buscará em si outros tipos de recursos para realizar o bem que almeja; não ficará inativa por causa da carência. Isso demonstra que muitas vezes a declaração do desejo de possuir riquezas com o objetivo de realizar o bem é apenas um disfarce para nada fazer, para alegar incapacidade. No caso da posse dos tais recursos por pessoas com intenções insinceras, surgem duas hipóteses: 1) a pessoa realmente aplica tais recursos para realizar o Bem para outrem, com a secreta intenção de ostentar uma aparência de pessoa caridosa; busca com isso a aprovação social, a popularidade, colocar-se em evidência para usufruir da estima pública, ou, 2) numa situação de egoísmo, busca usufruir deles antes daqueles a quem disse querer servir.

Finalmente, ressaltamos que, em nosso entendimento, Kardec quis nos chamar a atenção para a importância das pequenas ações que não são notadas pela maioria das pessoas e para a necessidade de usarmos todas as nossas faculdades e potencialidades para descobrir novos meios de estender o bem sobre a Terra, quando não dispusermos dos recursos materiais suficientes. Devemos fazer tudo que estiver dentro das nossas possiblidades, pois a carência de recursos materiais não é uma condição impeditiva para a realização da Caridade.  

 

Referências: 

[1] LAHR, C. Manual de Filosofia. Cap. III. Faculdades da Alma. p. 26 e 27. 4ª edição. Ed. Livraria Apostolado da Imprensa. 1948. Porto. Portugal. 

2 COSTA, Ivomar. Abnegação: fazer o bem aos outros em primeiro lugar. http://www.oconsolador.com.br/ano9/409/ivomar_costa.html 

 


 
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