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Ano 10 - N° 507 - 12 de Março de 2017

CLÁUDIO BUENO DA SILVA 
Klardec1857@yahoo.com.br
Osasco, SP (Brasil)

 
 

Cláudio Bueno da Silva

Perseguidos por amor à justiça


A história de vida de grandes homens perseguidos por lutarem pela causa do bem está impregnada das injustiças humanas. Em todo tempo e lugar a História, nem sempre oficial, registra o ataque de forças estacionárias e híbridas contra aqueles que propõem caminhos novos para a humanidade, em bases de amor e educação, liberdade e progresso, paz e fraternidade. Os métodos utilizados por essas forças traduzem o estágio evolutivo em que se encontram: a perfídia, a traição, a mentira, a cilada, tudo enfim, a serviço de interesses egoístas e transitórios.

Não é necessário comentar sobre a mais hedionda perseguição registrada na Terra: ela está anotada nos evangelhos. Inúmeros outros exemplos conhecidos de perseguição servem de lição a todos nós, no sentido de fortalecermos as convicções em torno da justiça igualitária, do amor fraterno, da paz entre os homens, da confiança no futuro. Esses episódios mostram que a atuação das sombras – seja de homens ou espíritos – está sempre agindo no contexto das ações humanas. Há homens de caráter duvidoso associados a falanges desumanas com as quais se identificam, que causam enormes estragos à vida, ora no plano físico, ora no plano espiritual.

Citarei apenas alguns casos que mostram como as forças do bem e do mal se digladiam nesta terra de provas e expiações em que vivemos. O trabalho e as ideias desses “perseguidos”, cada um no seu contexto, foram tão mais importantes quanto maior foi a oposição que sofreram. Mesmo incompreendidos por muitos, fizeram bem às coletividades e Deus os recompensou por isso, certamente.

Os fatos isolados da vida desses benfeitores nem sempre retratam a importância fundamental que tiveram na sociedade e no tempo em que viveram. Suas vidas estão, com certeza, repletas de inumeráveis pequenas ações humanitárias praticadas no dia a dia que não entraram nas biografias, mas que alimentaram os grandes feitos que hoje a humanidade reverencia com respeito. Por isso mesmo, devem ter sofrido perseguições também diárias, constantes, ostensivas ou sutis, reação natural daqueles que não aceitam conviver com os ideais emancipadores da liberdade, da igualdade e da fraternidade. 

Allan Kardec, “signatário” do Cristo 

Em 12 de junho de 1856 o Sr. Rivail (Allan Kardec-1804-1869), através da médium Srta. Aline C., pergunta ao Espírito de Verdade sobre a notícia de importante missão que alguns espíritos lhe atribuíam. “Tenho, como sabeis, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade – diz Rivail –, mas do papel de simples trabalhador ao de missionário-chefe, imensa é a distância.”

O Espírito de Verdade não só reafirma a atribuição revelada a Rivail, como também adverte: “A missão dos reformadores é cheia de tropeços e perigos. A tua é rude, previno-te, porque tens de revolver e formar o mundo inteiro”.  E alerta ainda sobre as incompreensões e perseguições de que o futuro codificador do Espiritismo seria vítima.

Quase onze anos depois daquele significativo diálogo com o Espírito de Verdade, Allan Kardec redige uma pungente anotação, em primeiro de janeiro de 1867, em que confirma a realização integral das previsões dadas por aquele Espírito que lhe anunciara os grandes obstáculos e vicissitudes da sua missão.

A nota diz: “Fui alvo do ódio de inimigos intransigentes, da calúnia, da inveja e do ciúme; infames libelos foram publicados contra mim; as minhas melhores instruções foram adulteradas; fui traído por aqueles em quem mais confiava e pago com ingratidão por aqueles a quem servi. A Sociedade de Paris foi um foco constante de intrigas urdidas por aqueles próprios que se diziam estar a meu favor e que, abraçando-me pela frente, me apunhalavam pelas costas. Disseram que os meus sectários eram pagos com o dinheiro que eu arranjava com  o Espiritismo. Não tive mais repouso e muitas vezes verguei ao peso do trabalho; comprometi a saúde e arrisquei a vida”.

É inacreditável que um homem bom, culto e inteligente, de espírito superior, educador muito bem sucedido em França, tenha sido tratado com tanta desconsideração assim que vislumbrou a verdade no que viria a ser o Espiritismo e o bem que ele traria à humanidade. Um homem cuja missão foi atender à convocação das esferas superiores da Vida na preparação da Terra para a mudança de estágio evolutivo e consequente regeneração da humanidade. Um homem que acreditou primordialmente na educação do Espírito como forma de transformação definitiva. Que estendeu a bandeira da caridade e do amor ao próximo, “signatário” do ensino moral do Cristo. Um homem assim foi perseguido!  

Uma vítima da intolerância 

Eurípedes Barsanulfo (1880-1918), mesmo tendo sido um homem íntegro a serviço da caridade verdadeira, foi vítima da sociedade onde viveu, que o insultou, perseguiu, acusou e o quis prender.

Eurípedes foi perseguido não propriamente porque era médium, mas porque era médium espírita, professava o Espiritismo. Numa região de extrema pobreza e totalmente carente de médicos como o triângulo mineiro do início do século XX, Barsanulfo era o zelador das mazelas de toda uma população. Recorria-se a ele quando os males eram incuráveis, quando o parto era difícil, quando a emergência exigia uma amputação, quando um acidente requeria ação imediata, quando os chamados “loucos” eram trazidos desenganados, mas curados pela sua força moral. O médium atendia a todos, indiscriminadamente, sempre com muito êxito. Na sua farmácia anotava receitas mediúnicas sob a inspiração do Dr. Bezerra de Menezes, e expedia os remédios sem cobrar um centavo.

Eurípedes, um homem que vivia o Evangelho, foi duplamente perseguido. Vítima da intolerância religiosa do clero católico e de segmentos tradicionalistas da cidade de Sacramento, Minas Gerais, viu-se também denunciado e processado por “praticar medicina ilegal”. Autor da denúncia: uma agremiação religiosa que deveria prezar os exemplos do Cristo na terra.

Mas o processo contra ele não teve força para ser concluído. Depois de longa peregrinação, de mãos em mãos, de juízes a juízes, depois de incontáveis alegações de impedimento e suspeições por parte das autoridades para julgar o processo, o documento foi encerrado sem decisão do mérito quanto à denúncia.

Os julgadores, na verdade, além de respeitar o acusado, tinham recebido eles próprios, ou parentes e amigos seus, algum tipo de benefício do médium, o que os impedia moralmente de incriminar Eurípedes. O amor solidário de Eurípedes venceu a intolerância e o preconceito.  

Gandhi, o poder das convicções  

Mohandas Gandhi (1869-1948), líder indiano, tornou-se uma celebridade mundial pelo seu incansável trabalho em favor da paz entre os homens. Sua paciência e determinação livraram a Índia da subjugação inglesa de mais de um século. Seus métodos de luta contra a exploração e injustiças que seu povo sofreu não foram outros senão os exemplos pessoais de atuação pacífica e as atitudes conscientes e ordeiras de insubordinação civil.

Formado advogado, Gandhi encontrou dificuldades para exercer a profissão no seu país e partiu para a África do Sul, outra colônia inglesa, onde trabalhou por quinze anos defendendo causas de indianos e muçulmanos que lá viviam e que lhe deram grande renome. De retorno à Índia, teve início a perseguição dos colonizadores ingleses que passaram a considerá-lo um “nacionalista perigoso”.

A vida desprendida, totalmente coerente com seus princípios éticos, e seu crescente carisma popular atrapalhavam as tentativas de represália do governo inglês contra suas campanhas pela justiça e pelos direitos civis do povo indiano. Mesmo assim, Gandhi foi preso várias vezes, algumas por períodos longos, de que se utilizava politicamente fazendo greves de fome. Esse tipo de manifestação baseada nas suas convicções reforçava no povo a crença de que o Mahatma (Grande Alma) estava realmente disposto a lutar pelo seu país e constrangia as autoridades a moderar a repressão contra os cidadãos.

Com sua atuação destemida, Gandhi influiu fortemente na conquista da independência do seu país utilizando o princípio da não violência como forma de protestar. Defensor do diálogo entre as religiões, lutou sempre contra os abusos dos autoritários e pela igualdade de direitos entre as pessoas.

Foi assassinado por um indiano radical que discordava da sua posição de tolerância no conflito religioso hindu-muçulmano que originaria a divisão da Índia com a criação do Paquistão, Estado de maioria muçulmana. 

“Eu tenho um sonho” 

No ano de 1955, em Montgomery, capital do estado do Alabama, nos Estados Unidos, uma mulher negra americana se recusou a ceder seu assento no ônibus a um passageiro branco e por isso foi presa.

O caso repercutiu grandemente na comunidade negra da cidade e o pastor protestante Martin Luther King Jr.(1929-1968), junto a lideranças locais, organizou um boicote aos ônibus de Montgomery que durou cerca de um ano. O protesto só terminou quando, sob fortes pressões, a Suprema Corte Americana decidiu tornar ilegal a discriminação racial em transportes públicos.

A partir desse episódio emblemático, Luther King fundou a Conferência da Liderança Cristã do Sul, instituição que teria um papel fundamental na organização de movimentos em torno da defesa dos direitos civis das mulheres, dos pobres e negros americanos.

King, formado em Teologia e doutor em Filosofia, pautou seu ativismo pacifista nos mesmos princípios da não violência inspirados por Gandhi, o líder indiano a quem tinha como referência. Com manifestações em várias cidades e estados conseguiu fazer aprovar a Lei dos Direitos Civis (1964), que bania a discriminação racial em escolas e locais públicos, e o Direito ao Voto (1965) para os negros americanos.

Martin trabalhou não só no combate à segregação racial, mas lutou também pela igualdade de direitos, pela melhoria da educação e condições de moradia para os menos favorecidos, principalmente na região sul dos Estados Unidos, onde o preconceito e perseguição aos negros eram mais fortes. A preocupação pela paz mundial o fez associar-se a movimentos contra a guerra no Vietnã.

Sua atuação social contra abusos e injustiças lhe rendeu inúmeras ameaças partidas do ódio daqueles que se achavam superiores pela cor. Chegou a ser preso e torturado várias vezes. Teve sua casa apedrejada. Em 1964 conquistou o Prêmio Nobel da Paz e, por ironia, em 1968 foi assassinado a tiros por um opositor.

Ficou célebre seu discurso feito em 1963, em Washington, em que reuniu mais de 200 mil pessoas militantes e simpatizantes das causas humanitárias que defendia. Nele afirmou: “Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele”. Muito mais que mudanças legais, Luther King tinha esperança de que o futuro trouxesse as verdadeiras mudanças, as morais.  

Legal, mas não moral 

Apartheid (separação ou vidas separadas) foi um regime de segregação racial adotado na África do Sul no período de l948 a 1994. Implantado oficialmente por um governo de minoria branca, essa lei dividia os sul-africanos pela cor, impondo separação nas áreas de habitação, saúde e educação, cassando inclusive os direitos elementares da imensa maioria negra.

Uma sociedade autointitulada “Irmandade” elaborou a doutrina do apartheid, cujo teor (pasmem!) enunciava: “A política da segregação racial se baseia nos princípios cristãos do que é justo e razoável. Seu objetivo é a manutenção e a proteção da população europeia do país como uma raça branca pura e a manutenção e a proteção dos grupos raciais indígenas como comunidades separadas em suas próprias áreas (...) Ou seguimos o curso da igualdade, o que no final significará o suicídio da raça branca, ou tomamos o curso da segregação”. É notório que muito do que é legal não tem base moral alguma. A semelhança com o que vemos hoje no mundo será mera coincidência histórica?

Esse regime oficial aprovou mais de 300 leis referentes ao apartheid, e dentre tantas aberrações, uma delas (Lei de Reserva dos Benefícios Sociais) reservava locais públicos para determinada raça, criando praias, ônibus, bancos de praça, hospitais, escolas e universidades segregados.

A inconformação social, que já vinha de longe nas tribos e comunidades sul-africanas, ganhou força quando 69 negros foram mortos e cerca de 180 ficaram feridos na manifestação de protesto conhecida como a tragédia de Sharpeville, em março de 1960. Nelson Mandela, que já participara de movimentos estudantis e liderava o Congresso Nacional Africano (CNA), fundou a Liga Jovem do CNA, principal braço político das ações contra a segregação racial imposta pelas autoridades brancas.

A partir daí, Nelson Mandela (1918-2013) assume importante papel de liderança em defesa dos direitos do povo sul-africano, e a resistência ganha apoio popular e da comunidade internacional, que se opõe às práticas racistas e ao segregacionismo cruel.

Como consequência do avivamento dos protestos, o governo acirra as perseguições contra líderes negros e Nelson Mandela, que já fora preso em 1956, acusado de “conspiração”, é processado e em 1964 condenado à prisão perpétua.

Depois de décadas de luta entre o segregacionismo oficial que detinha o poder e os setores que buscavam a igualdade entre os sul-africanos, Frederik de Klerk, assume o comando do país em 1989 e declara publicamente o fracasso do apartheid. Começam então a surgir as primeiras medidas que fazem diminuir as pressões do regime autoritário e racista que infelicitou por tanto tempo aquele pedaço do continente africano.

Nelson Mandela sai da prisão e alguns anos depois (1994) é eleito o primeiro presidente negro da África do Sul. Reescreveu a Constituição do país e implantou reformas que visaram amenizar os efeitos danosos provocados pelo apartheid na sociedade sul-africana. 

Os algozes passam, os benfeitores da humanidade não 

Pessoas, grupos e instituições, cegos de egoísmo, tontos de orgulho, dominados pelos vícios do preconceito e da intolerância, agiram e ainda agem como agentes do atraso e da ignorância, no sentido de impedir conquistas alheias que ameacem o seu espaço e o seu status presumido. Pessoas, grupos e instituições, por má-fé, premeditação e dolo moral, se organizam para impor ideias e sistemas que seduzam, controlem e escravizem. Pessoas, grupos e instituições se associam para perpetuar a hegemonia do poder e da fortuna, garantindo a manutenção dos seus interesses particulares, com o sacrifício de milhões de seres.

A exemplo do Cristo, que defendeu as causas da justiça, do amor e da verdade, os que lutam pelos pobres e oprimidos, doentes e famintos, simples e ingênuos, contra a inclemência dos dominadores, são perseguidos, presos, torturados e até mortos. O mesmo se deu com aqueles que aplainaram os caminhos da humanidade preparando-a para um futuro melhor, como Sócrates, Joana D’Arc, Giordano Bruno, Galileu Galilei e outros. Antigamente sucumbiam pela cruz, pela fogueira... Hoje em dia há mais sutileza, mas o ódio é praticamente o mesmo.

Até quando? Não sabemos. Contudo, não será sempre assim. Dure quanto durar, custe o que custar, e o Homem se erguerá um dia, se porá de pé como um ser não só inteligente, mas também humano, sensível e espiritualizado. A luta está longe de acabar, mas as forças do bem vencerão, definitivamente. Duvidar disso é não crer em Deus, e não crer em Deus é uma infelicidade.

Enquanto caminhamos nessa direção, tenhamos a certeza de que a justiça de Deus atua e os responsáveis pela obstrução do progresso e do avanço das ideias, em prejuízo das coletividades, responderão por isso. Os responsáveis pelo derramamento de sangue e lágrimas responderão pelos seus atos no severo e implacável Tribunal da Consciência.

“Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça” (Mt 5,10).

Os algozes passaram, passam e passarão.

Os benfeitores da humanidade, não.

 

Fontes bibliográficas: 

educacao.uol.com.br/biografias  

pensador.uol.com.br/biografia   

planetasustentavel.abril.com.br  

Wikipédia, a enciclopédia livre, Apartheid.

Allan Kardec, Obras Póstumas, “A minha missão”, Lake, 17ª edição, s/data, trad. Bezerra de Menezes.

Freitas Nobre, Perseguição policial contra Eurípedes Barsanulfo, Edicel editora.

Jorge Rizzini, Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da caridade. Ed.Correio Fraterno.




 


 
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