WEB

BUSCA NO SITE

Edição Atual Edições Anteriores Adicione aos Favoritos Defina como página inicial

Indique para um amigo


O Evangelho com
busca aleatória

Capa desta edição
Biblioteca Virtual
 
Biografias
 
Filmes
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English    
Mensagens na voz
de Chico Xavier
Programação da
TV Espírita on-line
Rádio Espírita
On-line
Jornal
O Imortal
Estudos
Espíritas
Vocabulário
Espírita
Efemérides
do Espiritismo
Esperanto
sem mestre
Links de sites
Espíritas
Esclareça
suas dúvidas
Quem somos
Fale Conosco

Correio Mediúnico
Ano 10 - N° 504 - 19 de Fevereiro de 2017
 
 


 

Oh Jerusalém!...
Oh Jerusalém!...

Humberto de Campos
 

É possível a estranheza dos que vivem na Terra com respeito à atitude dos desencarnados, esmiuçando-lhes as questões e opinando sobre os problemas que os inquietam.

É lógico, porém, que os recém-libertos do mundo falem mais com o seu cabedal de experiências do passado, que com a sua ciência do presente, adquirida à custa de faculdades novas, que o homem não está ainda à altura de compreender.

Podem imaginar-se na Terra determinadas condições da vida sobre a superfície de Marte; mas, o que interessam, por enquanto, ao mundo semelhantes descobertas, se os enigmas que o assoberbam ainda não foram decifrados? Para o exilado da Terra, não vale a psicologia do homem desencarnado. Tateando na prisão escura da sua vida, seria quase um crime aumentar-lhe as preocupações e ansiedades. Eu teria muitas coisas novas a dizer, todavia, apraz-me, com o objeto de me fazer compreendido, debruçar nas bordas do abismo em que andei vacilando, subjugado nos tormentos, perquirindo os seus logogrifos inextricáveis para arrancar as lições da sua inutilidade.

Também o homem nada tolera que venha infringir o método da sua rotina. Presumindo-se rei na criação, não admite as verdades novas que esfacelam a sua coroa de argila.

Os mortos, para serem reconhecidos, deverão tanger a tecla da mesma vida que abandonaram. Isso é intuitivo.

O jornalista, para alinhavar os argumentos da sua crônica, busca os noticiários, aproveita-se dos acontecimentos do dia, tirando a sua ilação das ocorrências do momento.

E meu espírito volve a contemplar o espetáculo angustioso dessa Abissínia, abandonada no seio dos povos, como o derradeiro reduto da liberdade de uma raça infeliz, cobiçada pelo imperialismo do século, lembrando-me de Castro Alves nas suas amarguradas "Vozes d'África":
 

Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?

Em que mundo, em que estrela tu te escondes,

Embuçado nos céus?

 

Há dois mil anos te mandei meu grito,

Que embalde, desde então, corre o infinito.

Onde estás, Senhor Deus?

Da Roma poderosa partem as caravanas de guerreiros. Cartago agoniza no seu desgraçado heroísmo. Públio Cornélio consegue a mais estrondosa das vitórias. Os cérebros dos patrícios ilustres embriagam-se no vinho do triunfo e nas galeras suntuosas, onde as águias simbolizam o orgulhoso poder da Roma eterna, lamentam-se os escravos nos seus nefandos martírios.(1)

Os Césares enchem a Cidade das Sabinas de troféus e glórias. Todos os deuses são venerados. Os países são submetidos e os povos entoam o hino da obediência à senhora do mundo.

Já não se ouve a melodiosa flauta de Pã nos bosques da Tessália e nas margens do Nilo apagam-se as luzes dos mais suaves mistérios.

Vítima, porém, dos seus próprios excessos, o grande império vê apressar-se a sua decadência. No esboroamento dos séculos, a invencível potência dos Césares é um montão de ruínas. Sobre os seus mármores suntuosos aumentam as destruições.

Roma dormiu o seu grande sono. Ei-la, contudo, que desperta. Mussolini deixa escapar um grito do seu peito de ferro e a Roma antiga acorda do letargo, reconhecendo a perda dos seus imensos domínios.

Urge, porém, recuperar o poderio, empenhando-se em alargar o seu império colonial. 

Onde e como?

O mundo está cheio de leis, de tratados de amparo recíproco entre as nações.

A França já ocupou todos os territórios ao alcance das suas possibilidades, a Alemanha está fortificada para as suas aventuras, o Japão tem as suas vistas sobre a China, e a Inglaterra, calculista e poderosa, não pode ceder um milímetro no terreno das suas conquistas.

Mas Roma quer a expansão da sua força econômica e prepara-se para roubar a derradeira ilusão de um povo desgraçado, ao qual não basta a lembrança amarga dos cativeiros multisseculares, julgando-se livre na obscura faixa de terra para onde recuou, batido pela crueldade das potências imperialistas.

Que mal fizeste à civilização corrompida dos brancos, ó pequena Abissínia, grande pela expressão resignada do teu ardente heroísmo?

Como pudeste, das areias calcinantes do deserto, onde apuras o teu espírito de sacrifício, penetrar nas instituições europeias, provocando a fúria das suas armas?

Deixa que passem sob o teu sol de fogo as hordas de vândalos, sedentas de chacina e de sangue.

Sobre as tuas esperanças malbaratadas derramará o Senhor o perfume da sua misericórdia. Os humildes têm o seu dia de bem-aventurança e de glória.

Não importa sejas o joguete dos caprichos condenáveis dos teus verdugos, porque sobre o mundo todas as frontes orgulhosas desceram do pináculo da sua grandeza para o esterquilínio e para o pó.

Se tanto for preciso, recebe sobre os teus ombros a mortalha de sangue, porque, junto do maravilhoso império da civilização apodrecida dos brancos, ouve-se a voz lamentosa de um novo Jeremias: Ó Jerusalém!... Jerusalém!...
 

Do livro Palavras do Infinito, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

(1) A mensagem acima, psicografada em 11 de agosto de 1935, mostra que o estado de beligerância dos dias atuais não é muito diferente do que ocorria no Velho Mundo, oito décadas atrás.



 


Voltar à página anterior


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita