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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 504 - 19 de Fevereiro de 2017

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br 
Muriaé, MG (Brasil) 

 

 

Educação & instrução

A educação é a grande meta do Espiritismo


“Bom é corrigir; melhor, porém, é educar.”

Demétrio N. Ribeiro (Espírito)[1]


Existe uma diferença básica entre educar e instruir. Senão vejamos: etimologicamente falando, “educar” (do lat. educare) possui a raiz “duc” de dúctil, que forma a palavra: “conduto”, que conduz... Antes da raiz temos o prefixo “E” que podemos entender como: “lançar para fora”, assim como o entendemos nas palavras Ejetar, Emitir, Ejacular, Evacuar etc.... Portanto, a correta tradução da palavra educar é: conduzir para fora; extrair de dentro. “Instruir” (do lat. instruere) possui a raiz “struere”: anexar, empilhar, juntar. Antes da raiz temos o prefixo “in” que significa: “dentro”. Instruir, portanto, significa literalmente: “empilhar dentro”.

É importante estabelecer a nítida diferença entre educar e instruir para que não se tome um termo pelo outro, e não venhamos a negligenciar a educação das criaturas colocadas sob a nossa responsabilidade, pensando que as estamos educando quando as encaminhamos para as escolas a fim de que se instruam.

Consciente disso, Emmanuel, o nobre Mentor de Chico Xavier, sem rebuços, afirma[2]: “(...) a melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter... Os estabelecimentos de ensino, propriamente do mundo, podem instruir, mas só o instituto da família pode educar. É por essa razão que a universidade poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem”.

Dessa compreensão surge a frase de Joanna de Ângelis[3]: “a educação será o recurso vigoroso que oferece os valiosos bens, por enquanto adormecidos no íntimo das criaturas”.

Segundo Léon Denis, “(...) como a educação da Alma é o objetivo da vida, importa em resumir seus preceitos em palavras: aumentar tudo quanto for intelectual e elevado. Lutar, combater, sofrer pelo bem dos homens e dos mundos. Iniciar seus semelhantes nos esplendores do verdadeiro e do belo. Amar a Verdade e a justiça, praticar para com todos a Caridade, a benevolência – tal o segredo da felicidade presente e futura, tal o dever, tal a fé que Jesus legou à humanidade”.

Vamos, a seguir, mergulhar no abissal oceano das letras espíritas sob a condução do notável e singular beletrista Deolindo Amorim[4], quando ele fala da:

CONCEPÇÃO ESPÍRITA DE EDUCAÇÃO

Nesta época, em que tanto se fala em metas, que é a palavra da moda, e temos meta política, meta administrativa e assim por diante, não será despropósito dizer que a educação é a grande meta do Espiritismo.  Mas é preciso ver, desde logo, que a Doutrina Espírita tem um conceito de educação muito mais extenso e profundo, na realidade, do que o conceito corrente. Como ponto de partida, devemos distinguir instrução e educação, o que, aliás, muita gente sabe distinguir muito bem. Instrução é informativa, é instrumento indispensável ao processo educativo, mas a instrução por si só não educa, não transforma o homem. Em muitos casos, como se sabe, a instrução é apenas acumuladora, servindo tão somente para fornecer elementos capazes de enriquecer a vida intelectual, mas não desce ao cerne da personalidade, não penetra no EU profundo.  A instrução bem conduzida, evidentemente, abre perspectivas e caminhos ao Espírito, mas é indispensável aproveitar todos os recursos e dinamizá-los no homem. Aí, pois, já não é apenas a instrução, mas a educação.  É a educação, consequentemente, que dirige a instrução para fins úteis e eleva­dos.

Feita essa distinção, que é trivial, devemos considerar a desigualdade que existe também entre os próprios conceitos de educação. Dentro de certos padrões antigos, o que se chamava educação era simplesmente boas maneiras, etiqueta social e nada mais. A educação era paramento formal ou exterior, não tinha profundidade, portanto. Ser educado era apenas comportar-se de acordo com o figurino e as regrinhas de salão. Tudo isso passou, não há dúvida. Quase ninguém, hoje em dia, pensa em educação em termos de convenções e normas de sociabilidade.  Mas é verdade que apesar disso o conceito de educação ainda não é pacífico. E é justamente neste ponto que cabe à Doutrina Espírita uma participação muito mais importante do que parece.

Há uma tendência, que se robusteceu muito com a II Guerra Mundial, para fazer da educação um meio e não um fim. Meio de ganhar a vida, desprezando todos os valores que não sejam utilitários. Educar, segundo essa concepção, consiste apenas em preparar o homem para vencer, ser autossuficiente, mas tudo isso em função da vida presente. Isto significa, sem sombra de dúvida, desprezar os valores ideais e fixar-se exclusivamente nos valores imediatos e materiais. É um tipo de educação unilateral e de efeito apenas transitório.

Outra tendência, que é marcante nos regimes onde se dá a hipertrofia do Estado, procura cada vez mais bitolar a educação, tentando enquadrar o espírito dentro dos sistemas que mais convenham a esses. O conceito de educação aí é muito diferente do nosso conceito, pois os regimes absorventes entendem que a educação é formar o homem para determinado tipo de necessidade, segundo os planos estatais. Há realmente um finalismo. Mas que finalismo é esse? Usar a educação para um fim único, que é atender às conveniências do momento.

O conceito espírita de educação pressupõe três elementos convergentes:

1) - a instrução, que é um elemento instrumental;

2) - o meio social, que é um agente provocador das reações e das necessidades, e

3) - a liberdade, que é a condição básica das opções. Sem liberdade para escolher o caminho, sem o direito de optar pela direção espiritual que lhes seja mais afeiçoada, as vocações ficarão estagnadas ou recalcadas. E como aproveitar as aptidões sem oferecer condições de preferência? E como educar sem respeitar as inclinações mais íntimas? Então, será o caso da Fábula de Saturno: a educação, que deveria ser criadora, terminaria sacrificando ou matando as vocações.

Em linhas gerais, apontamos apenas aspectos políticos da educação. Mas não podemos, de forma alguma, pôr de lado o aspecto filosófico, dentro do conceito espírita de educação. E, afinal, que é educação segundo a Doutrina Espírita? Não é apenas instruir, não é simplesmente incutir hábitos externos, é transformar o homem dando-lhe uma concepção de vida fundamentada na supremacia do espírito e dos valores morais. A educação, segundo a filosofia do Espiritismo, deve atender às necessidades materiais, às exigências do meio, às leis da Natureza, às repercussões da cultura, mas deve, além de tudo isso, interessar-se pelo lado espiritual da vida.

Além do mais, não podemos perder de vista, no aspecto filosófico da educação, um fator muitíssimo importante e às vezes decisivo: a reencarnação! O Espírito precisa encontrar condições favoráveis à missão ou à prova. A educação, embora planejada pelas técnicas e pelos sistemas pedagógicos, cujo valor não se pode negar, não pode deixar, todavia, de proporcionar liberdade ao Espírito, a fim de escolher o seu campo de ação. Há compromissos e escolhas que vêm do passado.[5] Há Espíritos que reencarnam com sua tarefa ou missão já prevista, ou também sua prova na Terra. A educação deve orientar bem, mas não deve violentar os compromissos do Espírito, indicando-lhe um rumo que não esteja de acordo com sua missão ou seus compromissos.

Segundo a Doutrina Espírita, a educação é finalista, porque visa a um fim. E se não fosse assim, naturalmente não teria sentido prático e cairia no formalismo. Mas o fim da educação, em termos espíritas, não é simplesmente imediato ou profissional. O fim, neste caso, é abranger o homem real em sua totalidade, isto é, corpo e Espírito, tendo em vista a vida atual e a vida futura. Já se vê, portanto, que é um finalismo superior. E esse finalismo parte de uma base — a concepção do homem como ser imortal. Consequentemente, a educação deve cuidar, em tudo por tudo da essência espiritual do homem, harmonizando a inteligência e o senti­mento, a cultura e a moral.[6]

À luz dos contextos espirituais, finalmente, podemos colocar a questão nos seguintes termos conclusivos: se a educação não conseguir melhorar o homem de dentro para fora, teria apenas efeitos superficiais e, por isso mesmo, não modificará a sociedade; e o maior ideal da educação é modificar para melhor, começando pelo homem.  


 

[1] - XAVIER, Francisco Cândido.  Falando à Terra. 3. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1974, cap. “A Escola”.

[2] - XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador.  23. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2001, questões 110 e 112.

[3] - FRANCO, Divaldo.  Filho de Deus.  4. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1975, cap. 28.

[4] - AMORIM, Deolindo.  Ponderações doutrinárias. Curitiba: FEP, 1989, p. 101-104.

[5] -  KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 258.

[6] - Idem, ibidem, questões 192 e 791. 



 


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