WEB

BUSCA NO SITE

Edição Atual Edições Anteriores Adicione aos Favoritos Defina como página inicial

Indique para um amigo


O Evangelho com
busca aleatória

Capa desta edição
Biblioteca Virtual
 
Biografias
 
Filmes
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English    
Mensagens na voz
de Chico Xavier
Programação da
TV Espírita on-line
Rádio Espírita
On-line
Jornal
O Imortal
Estudos
Espíritas
Vocabulário
Espírita
Efemérides
do Espiritismo
Esperanto
sem mestre
Links de sites
Espíritas
Esclareça
suas dúvidas
Quem somos
Fale Conosco

Internacional
Ano 10 - N° 502 - 5 de Fevereiro de 2017
ANA MORAES 
anateresa.moraes2@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
 

  

A expansão do movimento espírita no Brasil na visão de um observador francês 

Um fato que poucos conseguem compreender é por que o movimento espírita cresceu tanto no Brasil, mas não na França, onde, por sinal, o número de adeptos, em termos percentuais, decresceu de Kardec aos nossos dias. Guilherme Ringuenet elucida a questão em um artigo publicado originalmente em francês e traduzido para o nosso idioma por Claudia Bonmartin, do Centre d'Etudes Spirites Allan Kardec, de Paris. (1)

Eis, na íntegra, o artigo que tem como título:  

No Brasil, o fundador da Doutrina Espírita, Allan
Kardec, é celebrado em todo o país 

Se o nome de Allan Kardec não é conhecido pela maioria dos franceses, isto não é o que se passa a 10.000 km daqui. No Brasil ele é célebre em todo o país, muito mais que nossos jogadores de futebol ou nossos homens de Estado: selos com sua imagem foram impressos, ruas têm o seu nome, seus escritos são vendidos com vários milhões de exemplares. E no entanto na França, o fundador da doutrina espírita, que explica a presença e a comunicação dos espíritos, caiu no anonimato após ter conhecido o sucesso nos anos de 1860.

«Espírito, você está aqui?» Atrás dessa célebre pergunta, fonte de sorrisos ou de arrepios, se esconde uma verdadeira crença: aquela que fala da vida dos espíritos. Eles se encontrariam em toda a parte, em volta de nós, invisíveis aos nossos olhos, se revelando a nós, segundo a vontade deles.

A crença nos espíritos é tão velha quanto o homem, mas foi na metade do século XIX, época em que o romantismo se encontrava em seu apogeu, reagindo ao racionalismo do período das luzes, que vai renascer  um certo interesse pelo mundo invisível.

A descoberta dos fenômenos elétricos e magnéticos no fim do século XVIII preparou o terreno. Nos Estados Unidos, por volta de 1850, é grande moda as mesas girantes. Um navio atravessou o Atlântico e a Europa descobre esse fenômeno. Reis e rainhas, artistas, cientistas e a grande burguesia se divertem provocando medo algumas vezes a eles mesmos. Durante as sessões, os participantes colocam as mãos sobre uma prancha, que uma força vem movimentar.

Nada predispunha Hippolyte Léon Denizard Rivail a se aventurar em torno das mesas girantes, senão a curiosidade diante de um efeito de moda.

Esse francês, que nasceu no ano em que Napoleão foi consagrado imperador, é filho de uma família rica de juristas lioneses. Reconhecido como pedagogo (ele é adepto das teorias inovadoras da época, de Jean Jacques Rousseau), e é ele quem vai codificar os encontros com os espíritos para dar nascimento ao Espiritismo.

Durante vários anos, o pedagogo interroga os espíritos. De todas essas comunicações, ele vai escrever um livro, publicado em 1857, «O Livro dos Espíritos», dando origem ao Espiritismo, e ele assinará Allan Kardec, nome de um druida celta que ele teve em uma vida anterior. É também uma maneira de conciliar com a sua carreira profissional.

«O Livro dos Espíritos» se apresenta com uma série de questões e respostas entre Allan Kardec e os espíritos. Nele encontramos perguntas sobre Deus, a vida depois da morte, o processo reencarnatório, as desigualdades, a guerra...

Mais que uma religião, o Espiritismo é uma filosofia. Allan Kardec não via o Espiritismo como uma religião, explica Guillaume Cuchet, professor de História na Universidade Paris, autor do livro «As Vozes do Além, as mesas girantes, espiritismo e sociedade no século XIX».

Entretanto, ele tinha uma consciência viva dos problemas morais. Ele sabia que para que o Espiritismo se enraizasse, ele deveria ser sentido como uma religião no sentido amplo da palavra.  

REPUBLICANOS E ESPÍRITAS 

O livro dos Espíritos torna-se rapidamente um sucesso na França e um pouco mais tarde, no Brasil, Centros Espíritas são fundados em várias partes do país.

A obra encontra uma aceitação favorável junto a pessoas enlutadas que praticam o Espiritismo mais pelo seu aspecto consolador que pelo seu aspecto conceitual. Trata-se do caso de Victor Hugo que, durante o período do seu exílio na ilha de Jersey, torna-se adepto, principalmente após haver "falado" com sua filha Léopoldine, morta afogada em 1843.

Com a publicação do livro de Allan Kardec, a moda das mesas girantes retorna. “O Livro dos Espíritos” vai relançar o fenômeno, mas de maneira diferente. "O Espiritismo ressurge a partir de 1860. As mesas girantes haviam divertido as elites europeias, mas dessa vez ele vai tornar-se sociologicamente marcado”, analisa Guillaume Cuchet. "Agora é a pequena burguesia que vai tornar-se adepta."

Quando se analisa o perfil dos que aderem ao Espiritismo, é mesmo surpreendente. Longe de se tratar de pessoas radicais e revolucionárias, muitos são republicanos arraigados. Os espíritas, como Allan Kardec, são homens de esquerda (socialistas no estilo da esquerda do século XIX) que foram traumatizados pelo fracasso da revolução de 1843 e com o golpe de Estado de Napoleão III. Eles se refugiam no Espiritismo, pois não encontram mais condições de participar da política. Não é de admirar, também, quando encontramos nos seguidores de Allan Kardec pessoas ligadas ao ensino e à maçonaria. No início, o regime de Napoleão III não se sentiu em segurança vendo reunir-se todos esses republicanos, mas rapidamente ele compreendeu que não havia nessas reuniões "nenhum perigo", nos diz Guillaume Cuchet. 

UMA VISÃO PROGRESSISTA 

Um selo brasileiro de 1975 homenageia Allan Kardec pelos 100 anos da Codificação do Espiritismo.

A filosofia espírita reagrupa vários aspectos progressistas da época. Segundo Allan Kardec, os espíritos não cessam de reencarnar para evoluir e tornarem-se cada vez melhores... Aliás, encontramos essa vontade nos postulados que sintetiza a Doutrina: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, essa é a Lei".  Uma maneira de ver bem longe do dogma católico do Inferno, onde nenhuma evolução é possível. 

Mas há aspectos da Igreja Católica: o Deus de que nos fala “O Livro dos Espíritos” é o Deus cristão. Até que o livro seja condenado pela Igreja em 1864, os espíritas são frequentemente católicos. As duas crenças se combinam sem dificuldade teológica. E é por essa razão que no Brasil o Espiritismo conheceu um tão grande sucesso. "O sucesso do Espiritismo na França e no Brasil é pelo fato de que ele completa o catolicismo. Há uma ligação entre os dois", informa Guillaume Cuchet.

Uma outra razão desse sucesso no Brasil vem da diversidade cultural da sua população. Se o cristianismo é a religião dominante, ela está impregnada de crenças animistas dos Indígenas e dos Africanos e forma um sincretismo típico da América do Sul. Muitas pessoas que chegam nas cidades brasileiras vinham já impregnadas de crenças mágico-espirituais. No seu conteúdo, o Espiritismo é muito próximo dessas crenças naturais. "A transição entre os dois se fazia sem problemas", explica o pesquisador. 

CADA VEZ MAIS OS BRASILEIROS TORNAM-SE ESPÍRITAS 

Um memorial em homenagem ao bicentenário de nascimento a Allan Kardec foi inaugurado em 2004, em Niterói-Brasil, e um ano depois em Lyon-França.

Se na França o Espiritismo tem algumas mil pessoas, no Brasil a doutrina kardecista continua progredindo, como nos revela o Instituto Brasileiro de Geografia e de Estatística. De 2,2 milhões de adeptos em 2002, passou a 3,8 milhões em 2010, isto é, 3,1% da população brasileira. No entanto, esse número de pessoas na realidade é maior, pois numerosos

os brasileiros católicos-espíritas.

São as regiões do sudeste do Brasil (Estado do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais) onde se encontra o maior número de espíritas. Na cidade de Palmelo, no centro do país, 45% da população se diz adepta da filosofia de Allan Kardec. Ela se considera a capital brasileira do Espiritismo. Esclarecemos que essa cidade de 2.000 habitantes foi fundada em 1929 em torno de um centro espírita.

A influência cultural do Espiritismo é também muito forte no Brasil. Podemos constatá-la na presença de numerosas ruas Allan Kardec, mas também na escolha de nomes próprios de pessoas: Allan (às vezes escrito com um só L). Faz parte dos 100 nomes mais usados no Brasil. Um clube de futebol de São Paulo tem um atacante que se chama Alan Kardec.

A indústria cinematográfica brasileira compreendeu o interesse do público brasileiro por este tema. Desde o fim dos anos 2000 os filmes sobre o Espiritismo são sucesso de bilheteria, como disse em 2013 o "Courrier International".

A quarta edição de "O Livro dos Espíritos" é um dos livros mais lidos depois da Bíblia. Não é raro encontrar em uma livraria de rua em São Paulo ou Recife a tradução em português da obra. 

O DECLÍNIO NA FRANÇA 

Ao contrário, na França, o nome de espíritas foi gradualmente reduzido ao longo dos séculos XIX e XX. Para isso, ocorreram várias razões que explicam: como a morte, em 1869, de Allan Kardec, mas também a mudança de regime político, pois após a queda do Segundo Império, a República é proclamada em 1871. A esquerda, a partir de 1880, adotou uma posição racionalista e positivista.

Os republicanos espíritas vão ser obrigados a escolher um partido. Por outro lado, a Igreja Católica, depois da condenação em 1864 de “O Livro dos Espíritos”, relança a devoção pelas almas

do purgatório e vai de fato ocupar o lugar do Espiritismo, resume Guillaume Cuchet.

O túmulo de Allan Kardec se situa no cemitério do Père Lachaise. Ele não tem a notoriedade do de Jim Morrison, mas o dólmen é regularmente enfeitado e florido pelos espíritas. 

 

Guilherme Ringuenet


(1) 
O original do artigo em francês pode ser lido na seguinte página na Web:
http://www.slate.fr/story/101569/francais-celebre-bresil-allan-kardec
 



 


Voltar à página anterior


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita