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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 500 - 22 de Janeiro de 2017

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

 

 

Decisões comprometedoras


Em sua inesquecível e marcante passagem pela Terra, Jesus não nos incitou à negligência ou total afastamento das coisas do mundo, mas nos recomendou, entre outras coisas, que déssemos “a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Matheus, 22: 21). Analisando essa questão, Allan Kardec esclarece, na obra O Evangelho segundo o Espiritismo, que aqui se trata de mais um princípio aludido por Jesus sobre o nosso dever de proceder para com os nossos semelhantes, o que desejamos, essencialmente, para nós mesmos.

Desse modo, escreve o Codificador, “Ele [Jesus] condena todo prejuízo material e moral que se possa causar a outrem, toda postergação de seus interesses. Prescreve o respeito aos direitos de cada um, como cada um deseja que se respeitem os seus. Estende-se mesmo aos deveres contraídos para com a família, a sociedade, a autoridade, tanto quanto para com os indivíduos em geral” (ênfase nossa). Esse trecho do Evangelho abrange graves responsabilidades que não podem ser desprezadas por nenhum de nós. Na verdade, deveriam servir de balizas ou princípios fundamentais a fim de evitarmos faltas irreparáveis.

Posto isto, no universo do trabalho contemporâneo somos defrontados por decisões e escolhas que podem afetar o saudável equilíbrio acima proposto. Se olharmos mais detidamente, essa relação é afetada na atualidade por incontáveis iniciativas, ações e medidas institucionais que negligenciam importantes “deveres contraídos”. E tais escolhas partem, sempre é pertinente recordar, especificamente de indivíduos que representam destacadas organizações e instituições defendendo seus interesses às vezes inconfessáveis.

A tragédia de Mariana, que já completou um ano, aparentemente sugere isso. Cumpre lembrar que em 5 de novembro de 2015 ocorreu o rompimento da barragem de Fundão, propriedade da mineradora Samarco (cujos acionistas são a australiana BHP Billiton e a brasileira Vale), localizada a cerca de 5 quilômetros de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, em Minas Gerais.

As consequências daí advindas são catastróficas. Como bem resumiu uma reportagem recente da Revista Veja: “O rompimento criou uma onda de lama e rejeitos químicos que engolfou cidades da região e contaminou o rio e seus afluentes. Configurou-se, dessa forma, a maior – e mais amarga – tragédia ambiental da história do país” (ênfase nossa). Além disso, 19 pessoas perderam as suas vidas (seus familiares já receberam uma modestíssima indenização de 100.000 reais). Devido à amplitude do desastre tem-se como certo que levará muito tempo para que o ambiente e os habitantes se recuperem. O quadro de devastação lembra grandes catástrofes do passado já que os rejeitos químicos endureceram em função da ação do tempo.

Desse modo, casas, comércios e ruas da cidade de Bento Rodrigues foram implacavelmente tragadas pela imensa onda de detritos oriundos da barragem. O cenário é desolador e com profundos impactos na vida de 290 famílias (1000 pessoas) que foram obrigadas a deixar tudo para trás. A maioria perdeu tudo o que possuía, sem falar dos que extraíam da pesca e do rio a sua fonte de renda. Por outro lado, há insistentes críticas à ação da empresa no pós-desastre. Muitas das vítimas reclamam que não foram e nem estão sendo adequadamente assistidas. Aliás, não é por acaso que a empresa esteja enfrentando 40.000 ações na justiça.

Cabe frisar que há fortes indícios de que havia sérios problemas técnicos na construção da barragem, em 2008. Mesmo assim, decidiu-se seguir adiante, e como apurou a reportagem da Revista Veja, “A verdadeira causa do rompimento da barragem de Fundão... foi uma só: fraude. A tragédia passou longe de ser um acidente evitável”. Mais grave ainda, “... havia sinais básicos de descaso na construção de Fundão, como vazamentos, excesso de água na composição do barro e falhas de segurança. Era apenas uma questão de tempo até o sistema entrar em colapso. Foi o que ocorreu há um ano. Somados, esses problemas levaram à liquefação dos rejeitos, criando a onda de lama”.

Em decorrência do rompimento, 32 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram levados pelas águas do rio, ou seja, quantidade suficiente para encher de lama 12.800 piscinas olímpicas. Não bastasse isso, todo o trajeto fluvial até o Oceano Atlântico foi seriamente envenenado já que foram identificadas as presenças de arsênio, manganês e selênio acima dos limites legais estabelecidos, e com graves consequências para a vida marinha. Como esperado, os prejuízos para os municípios vizinhos são enormes. Há também o receio de que os 10,5 milhões de metros cúbicos da barragem de Candonga se rompam - elevando ainda mais o grau da tragédia. 

Cabe salientar que o Ministério Público Federal denunciou 22 pessoas ligadas à empresa (21 das quais são acusadas de homicídio qualificado com dolo eventual, isto é, quando se assume o risco de matar), incluindo o ex-presidente da Samarco. Todos eles responderão por lesão corporal e crimes ambientais, entre outros delitos. Essa é apenas uma breve síntese do que até o momento representou a tragédia de Mariana.

Mas ao que tudo indica, esse episódio confirma, uma vez mais, as sábias ponderações do Espírito Joanna de Ângelis (ver o artigo “Empresas” na Presença Espírita nº 243 de julho-agosto de 2004) a respeito das organizações humanas: “O pensamento empresarial é linear, direto, calculista, destituído de sentimento de amor, de misericórdia, de compaixão”. Lembra a nobre mentora que “É verdade que facultam o progresso na Terra, mas também respondem por muitas misérias e violências morais, econômicas e sociais...”     

Portanto, a reflexão é a seguinte: se nos compete tomar decisões - em nome das instituições que representamos - que podem afetar a vida de outros, da natureza e do meio ambiente, enfim, é prudente lembrar a advertência de Jesus acima aludida. Nesse sentido, o Apóstolo Paulo recomenda que nos comportemos “como filhos da luz” (Efésios, 5:8). Não há posição, dinheiro ou patrimônio material adquirido que possam suavizar o remorso derivado da consciência culpada por tragédias perfeitamente evitáveis. 




 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita