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Clássicos do Espiritismo
Ano 10 - N° 498 - 8 de Janeiro de 2017
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

Comunicações mediúnicas entre vivos

 Ernesto Bozzano

 (Parte 8) 

Continuamos o estudo do livro Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires. 

Questões preliminares  

A. Como explicar os fatos pertinentes ao Caso 8, segundo o qual o comunicante se encontrava lúcido e perfeitamente acordado no momento em que a comunicação foi transmitida?  

O Caso 8, relatado na revista Luce e Ombra pelo Dr. Achille Uffreducci, professor na Universidade de Roma, foge, evidentemente, à tese espírita de que o Espírito de um vivo pode apresentar-se sem ser evocado, mas é necessário que durante o processo ele esteja, habitualmente, dormindo ou cochilando. No episódio relatado, o comunicante (Dr. Antônio Palica) estava no teatro e os dois amigos que se encontravam com ele afirmaram que, durante todo o tempo, ele não dormiu nem cochilou. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B) 

B. Além de não se enquadrar no padrão considerado normal nesse tipo de comunicação, que outra circunstância estranha foi apontada pelo professor  no episódio acima mencionado? 

Ele estranhou o caráter leviano e jovial da personalidade mediúnica que dizia ser o Dr. Antônio Palica, mostrando-se, no entanto, em flagrante contradição com a seriedade do caráter e a correção dos modos do Dr. Palica, isso sem contar que, no momento em que se verificou a comunicação, o suposto agente se encontrava no teatro, absorto na representação a que assistia. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B) 

C. Pode a comunicação a que nos referimos, embora verídica, ter sido dada por um Espírito mistificador?  

Sim. Uma vez reconhecido que a personalidade comunicante não era o que afirmava ser, então só restam duas hipóteses para explicação dos fatos. Por uma dessas hipóteses, que foi acolhida pelo professor que os relatou, tratar-se-ia de uma “inteligência oculta”, mascarada de Antônio Palica, que se divertia à custa dos experimentadores. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B) 

Texto para leitura 

106. Caso 8 – Este caso foi extraído da revista Luce e Ombra (1910, pág. 85). O Dr. A. U. Anastadi (pseudônimo do Dr. Achille Uffreducci, professor na Universidade de Roma) narra nele a seguinte experiência pessoal: 

O Dr. Antônio Palica era diretor do Hospital São João. As relações entre nós dois foram sempre ótimas, porém giravam mais em torno de nossa profissão comum do que nos sentimentos profundos de uma estreita amizade. Nunca, entre nós, saíra palavra alguma sobre mediunidade nem fenômenos semelhantes e nunca eu soube de sua opinião a respeito.

Cinco dias antes de acontecer o fato que vou narrar, eu tinha ido ao Hospital São João para ver uma doente, e naquela ocasião saudara, com grande prazer, o velho colega Palica.

Agora, um olhar para o outro lado. Entre o Dr. M., cirurgião num hospital de Roma, e eu não havia relações de qualquer natureza. Éramos simples conhecidos e nos limitávamos a saudações com movimento da cabeça em ocasionais encontros de rua. Ambos receitávamos na mesma Farmácia Scolba (Praça S. Carlo al Corso), porém quase nunca nos encontrávamos lá.

Conservemos em mente estas notas preliminares para delas nos servirmos em tempo oportuno, e vamos ao fato em questão.

Certa noite de inverno, fria e chuvosa, voltei para casa um tanto indisposto devido ao mau tempo. Tirei as roupas molhadas e, vendo que o fogo ainda estava aceso, para espantar o frio coloquei sobre os ombros uma manta já gasta que vi em cima de uma cadeira, manta da qual já se havia tirado o pano para renovar, enquanto a pele, de ótima qualidade, estava muito bem conservada.

Depois do jantar, eu e minha esposa colocamos as mãos sobre uma mesinha, como costumávamos fazer de vez em quando. Não eram raros os fenômenos, e recebíamos mensagens curiosas e algumas vezes importantes, conquanto nenhum de nós tivesse consciência de possuir dons mediúnicos. Naquela noite recebemos a seguinte comunicação tiptológica, que transcrevo com o máximo escrúpulo, palavra por palavra:

– Lamento que tenhas posto esta manta indecente (disse a entidade).

– Pouco me importa (respondi). Não te incomodes com isto. Queira dizer-me antes quem és, e o que desejas de mim.

– Sou Antônio Palica.

– Antônio Palica, o médico?

– Sim, precisamente ele, em carne e osso.

Dirigindo-me à minha mulher, digo:

– Pobre Palica. Sinto que tenha falecido. Era um bom médico e pessoa distinta.

– Sim, pobre homem – disse minha esposa –, embora o conhecesse pouco, mas já devia ser bem idoso.

– Mas, o que estás dizendo aí? Vê que não estou morto!

– Como? Não estás morto?

– Não, pelo contrário, nunca estive tão bem e tão forte como agora.

– Está bem – disse eu irado –, bravos! Amanhã de manhã eu voltarei ao hospital São João para ver aquela doente e te apertarei a mão. Adeus!

– No Hospital São João não me encontrarás – respondeu rápido.

– Então não me enganei ao supor que morreste, por estares aqui presente, comunicando-te pela mesinha.

– Não. Estás enganado. Estou tão morto como tu, vivo, supervivo, mas no São João não me encontrarás.

– Por quê? A que horas sairás então?

– Não sairei, mas não me encontrarás lá.

– Não te encontrarei, como dizes, está bem, mas se não saíres, estarás sempre no Hospital.

– Não, não estarei. Não estarei lá.

– Então sairás esta noite.

– Não, não e não. Não terei saído anteontem, nem ontem, nem hoje, nem esta noite, nem amanhã, nem...

– Nem por toda a eternidade. – disse eu enfadado – Está bem, vai-te embora. Fica entendido que, se não saíres, estarás mesmo no Hospital São João.

– Não sairei, mas não estarei lá.

Nesse momento bufei de raiva.

– Ora, vamos – continuou ele –, não estarei lá, não me encontrarás e não irás lá, mas amanhã o Dr. M. revelar-te-á o mistério.

A esta afirmativa, que me parecia o cúmulo da insensatez, perdi completamente a paciência e exclamei: Que aborrecimento! Que nos vem fazer agora aqui o Dr. M., que só conheço de vista? Queres divertir-nos com a tua brincadeira. Boa noite e bom descanso.

Minha esposa e eu, convencidos de estarmos sendo enganados por algum espírito zombeteiro, que queria divertir-se à nossa custa, nos levantamos e naquela noite não se tratou mais do caso.

Na manhã seguinte, por circunstâncias imprevistas, não pude ir ao Hospital São João, como pretendia, e não fui de manhã à Farmácia Scolba, como costumava, mas somente às 10:30. Estava para sair quando entrou o Dr. M. Mal pôs este o pé na porta, dirigiu-se ao Sr. Scolba, em tom agitado, e lhe disse:

– Hoje pior do que ontem, meu caro Orestes. Não aguento mais. Vou agora mesmo à Diretoria Geral para pedir a minha transferência.

– Que te aconteceu? – perguntou com interesse um colega presente.

– Aconteceu é que não aguento mais aquele energúmeno que é o Palica. Parece que tomou conta de mim. Há quatro dias que não me dá um momento de folga. Todo o tempo que passo no Hospital, anda à roda de mim, e “Caro Professor – diz-me ele – por favor, mude isto, troque aquilo, escolha outra hora para aquilo, será melhor que escolha outra sala para...” Em resumo, palavra de honra, não posso mais!

– O senhor ainda está no Hospital São João? – perguntei ao Dr. M.

– Não. – respondeu-me ele – Há perto de um ano que estou no Santo Antônio.

– E o que tem o Palica com o Hospital Santo Antônio, se ele é diretor do São João?

– O Palica não é mais diretor do São João. – respondeu-me o Dr. M. – Foi transferido para o Santo Antônio e, por falta de sorte minha, há quatro dias que tomou posse do novo cargo.

Comecei então a pensar na sessãozinha da noite, com o seu disparatado enredo, isto é:

1º)   A aparente comunicação de um vivo.

2º)   A apresentação do Dr. Palica com humorismo, quando, ao contrário, ele é amável, sério e cortês.

3º)   A minha ignorância quanto à mudança de residência do Palica, coisa que nem por sombra eu poderia imaginar. Pelo contrário, eu estava mais que persuadido de que continuava no São João, onde o havia cumprimentado cinco dias antes e nada indicava uma transferência que ele mesmo estava longe de supor.

4º)   A indicação da maneira com que me seria esclarecida a coisa, isto é, por meio de um terceiro que eu conhecia apenas de vista e no qual não pensava nem muito nem pouco, e que minha esposa não conhecia, nem mesmo de nome.

5º)   a premonição verificada minuciosamente: a) pela indicação do dia (amanhã); b) as horas (da manhã); c) a pessoa (Dr. M.) e d) a transferência levada ao meu conhecimento.

Na manhã seguinte não deixei de ir ao Hospital Santo Antônio, onde encontrei o Palica em grande atividade nas modificações que reputava indispensáveis no serviço hospitalar. Explicou-me logo, enfaticamente, o porquê da repentina mudança de residência em que nunca havia pensado. Arquitetei um discurso para cair justamente onde eu queria, mas não consegui surpreender nele uma palavra sequer sobre o assunto. Soube apenas que, na noite da estranha comunicação, o Dr. Palica tinha ido ao teatro, detalhe que não deixei de verificar.

Não houve nenhuma evocação. Ensina a doutrina espírita que o espírito de um vivo, em seus momentos de liberdade, pode se apresentar sem ser evocado, movido somente pela simpatia, mas em tal caso o corpo habitualmente dorme ou cochila. Em nosso caso, o Dr. Palica estava no teatro, e os dois amigos que se encontravam com ele afirmam que, durante todo o tempo, ele não dormiu nem cochilou. Desnecessário é gastar palavras para provar que o fenômeno não era de origem subconsciente ou automática.

Por outro lado, o Palica não se achava absolutamente em estado de inconsciência completa, nem de semiconsciência, mas sim em estado de perfeita vigília, com a atenção atraída e distraída em coisas em tudo diferentes do que me dizia respeito; portanto, faltavam completamente todas as condições exigidas para que se verificassem comunicações mediúnicas de vivos, isto é, sono fisiológico, hipnótico, magnético, desmaio, coma ou outro estado mórbido semelhante. Logo, a causa não podia ser encontrada na personalidade de quem aparecia como presente à mesa da sessão e, contudo, o fenômeno devia ser de origem extrínseca.

Precisamos, por conseguinte, contentar-nos com o guia de Allan Kardec, que afirmou (e com razão até o momento) que a única hipótese explicativa plausível é a de alguma inteligência oculta que se tenha mascarado (em nosso caso) de Antônio Palica para divertir-se à nossa custa.

Nenhum outro dos argumentos habituais pode decifrar a confusão. Pondo-se em movimento “cerebrações” de toda sorte, “desdobramentos”, “psiquismos superiores”, “polígonos”, “elétrons vorticosos” ou “vorticons electrosos” (troços demais para ser verdade), afastamo-nos completamente do terreno científico e elevamo-nos, com toda a pressão, às disparatadas regiões das “Mil e uma Noites Subliminais”. a) Dr. A. U. Anastadi. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B)


107. As considerações que o incidente exposto sugere ao Dr. Anastadi parecem racionais e incontestáveis, desde o caráter leviano e jovial da personalidade mediúnica que dizia ser o Dr. Palica, mostrando-se em flagrante contradição com a seriedade do caráter e a correção dos modos deste, e isto sem contar que, no momento em que se verificou o incidente, o suposto agente se encontrava no teatro, absorto na representação em curso. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B) 

108. E uma vez reconhecido que a personalidade comunicante não era o que afirmava ser, então só restam duas hipóteses para explicação dos fatos. Por uma dessas hipóteses, a que é acolhida pelo relator, tratar-se-ia de uma “inteligência oculta”, mascarada de Antônio Palica, que se divertia à custa dos experimentadores. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B) 

109. Na outra hipótese, tratar-se-ia, ao contrário, de uma personificação subconsciente e nada mais. A propósito, porém, desta última hipótese, não se pode deixar de refletir que as personalidades subconscientes, sejam elas de ordem hipnótica ou sonambúlica, chegam a imitar, mais ou menos bem, as características que distinguem bem a personalidade representada, mas estão muito longe de fornecer informações verdadeiras, ignoradas pelo médium e todos os presentes, e muito menos ainda, de predizer incidentes futuros, como no caso do episódio em pauta. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B) 

110. Segue-se daí que a segunda interpretação dos atos é muito menos justificável do que a primeira, conquanto também a primeira apresente aspectos bem misteriosos para cuja elucidação nos estenderíamos em longa discussão estranha ao nosso tema e que, portanto, omitiremos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B) 

111. Do nosso ponto de vista, o ensino teórico a extrair cumulativamente do caso exposto e do que o precede, consiste nisso: que um e outro não podem ser explicados estendendo a hipótese das comunicações entre vivos também aos casos em que o agente se acha em estado de vigília e sem pensar no percipiente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B) 

112. Ora, refletindo que, numa coleção de 154 casos recolhidos, os episódios citados são os únicos que aparentemente se levantam a favor de uma tal extensão da hipótese em exame, daí decorre que se deve considerar arbitrária e errônea qualquer solução em tal sentido, devido à perplexidade teórica suscitada pelos casos análogos aos citados. Importante conclusão que não se deve esquecer. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo B) (Continua no próximo número.) 

 



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita