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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 488 - 23 de Outubro de 2016

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil)

 


O trapeiro

Se o mundo desce em cada ser que cai, sobe com
quem em Deus guarda a esperança

"(...) A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más." - Jesus. (Jo., 3:19.)


Conta Allan Kardec
[1] que num horrendo casebre da passagem Saint-Pierre, em Clichy, vivia um homem chamado Louis-Henri, com sessenta e quatro anos de idade, mas parecendo ter noventa. Ele tinha descido abaixo do último degrau da vida social.  Dizia-se que fora outrora um belo, um boêmio; que ele tinha feito girar muitas cabeças femininas, e que tinha levado a existência a toda pressa.

Louis-Henri exercia o ofício de trapeiro; mas ele era tão fraco, tão velho, tão trêmulo, que não recolhia quase nada. Deitava-se, sem tirar seus farrapos, sobre as imundícies que lhe serviam de leito. Outros trapeiros, quase tão pobres quanto ele, se cotizavam para lhe dar alguns alimentos, tais quais as cascas de pão e os restos de cozinhas provenientes de seus cestos. Era coberto de feridas e roído de vermes. Já várias vezes, os guardas da brigada de Clichy tinham feito entre eles uma coleta para pagar a esse infeliz banhos sulfurosos. Não sabiam o que aconteceu com a sua família, e ele tinha esquecido o seu próprio nome. Ficou-lhe apenas a lembrança de seus prenomes Louis-Henri.

Há alguns dias, o leproso, como era chamado, não fora visto. Um odor infecto, que escapava de seu alojamento, atraiu a atenção dos locatários. Eles então advertiram o comissário de polícia, que se deslocou para o local, e fez abrir a porta por um serralheiro. Encontraram-se, entre as imundícies, os restos decompostos do trapeiro arranhados pelos ratos.

Está aí um triste revés de fortuna e uma prova de que a justiça de Deus não espera sempre a vida futura para pesar sobre o culpado. Dizemos o culpado por hipótese, porque tal degradação não pode ser senão o resultado do vício em seu mais alto grau. O homem mais rico e mais altamente colocado pode cair na última classe da escala social.

Presumindo que a vida desse homem poderia fornecer um ensinamento, Kardec acreditou dever fazer-lhe a evocação, com a esperança de lhe ser útil ao mesmo tempo. Assim, no dia 28 de julho de 1864, veio, através do Sr. Vézy, um dos médiuns da Sociedade, a mensagem que se seguiu à seguinte pergunta:

Pergunta: Os detalhes que lemos sobre vossa vida e vossa morte nos interessaram, primeiro por vós, porque todos aqueles que sofrem têm direito às nossas simpatias, e em seguida para nossa instrução. Seria útil, do ponto de vista moral, conhecer como e por quais causas, de uma existência que parece ter sido brilhante, caístes numa tal abjeção, e qual é a vossa situação atual?

Resposta: "já não paguei bastante minha dívida de sofrimentos sobre a Terra para que me sejam concedidas algumas horas de lucidez além-túmulo? É porque meu corpo está infecto e roído pelos vermes que se disputa com a podridão que o dilacera que meu Espírito está perturbado? Deixai-me reconhecer-me um pouco.

A vós que conheceis as leis divinas da imigração das almas, não tenho necessidade de vos explicar o porquê deste estado abjeto ao qual desci. No entanto, uma vez que isso me é ordenado, vou contar-vos minha história...

Ah! Por que a juventude joga assim com seu coração?!  Por que quer ela colher todas as flores sobre a sua passagem, para esmigalhá-las em seguida sob os pés?  Por que é preciso que o sopro das paixões impuras a empane e lance seu corpo sobre o lixo?...  Deixai-me verter também algumas lágrimas; elas são doces para aqueles que sofrem!

Quanto gostaria de poder reviver minha vida de outrora, para utilizar melhor minhas horas de juventude! Oh! Quanto gostaria de possuir meu coração de vinte anos! Eu o daria todo inteiro a um coração irmão do meu; daria toda inteira minha alma a uma alma irmã da minha, e em minhas aspirações pediria a Deus para nos fazer provar todas as alegrias do Céu!... Mas isso está feito; por que meus prantos e meus lamentos? Homem degradado, que sonhas tu? Tudo está perdido para aquele que não soube aproveitar o tempo que lhe era dado! Tudo está perdido para o miserável que não soube aproveitar as qualidades que possuía!

Oh, vós que me ouvis, sim, aquele que vos fala era dotado de belas faculdades!  De que lhe serviram elas?  Para enganar com astúcia e conhecimento de causa! Para cometer crimes! Mais tarde, eu abafei os remorsos na orgia para não ouvir os gritos de minha consciência. Eu era gentil-homem; manejava a palavra e a espada com audácia, e se as mulheres me chamavam o refinado, acariciando minha fronte e meus cabelos em sua alcova, os homens me chamavam o invencível e o bravo!... Orgulho! Por que essas lembranças de um outro tempo?... Infelicidade!... Condenação!... Vejo sangue ao meu redor! Por que esta espada, com a qual feri, não retorna contra meu seio?... Entre esses mortos, vedes este cadáver?...  É meu filho!... E eis o que causam os costumes de uma sociedade na qual se ri de tudo!... Sou eu o culpado, e sabia eu que era meu filho? Sabia eu que a amante abandonada há vinte anos colocaria em meu caminho um fruto adulterino, que eu não conhecia, e que vinha a disputar uma vítima ao novo dom Juan?... E quereríeis que não tivesse esquecido meu nome depois desses crimes enormes? Ah! A mim a taça de vergonha e de infâmia! Eu deveria morrer como morri: na lama. Sinto o frio do túmulo! Sinto o verme que me rói! Sinto as imundícies me cobrirem!  Sinto as úlceras que cobriam o meu corpo!  Mas nada de tudo isso me faz sofrer tanto quanto a visão desta ferida escancarada que fez minha espada... Meu filho, graça! Se teu pai não te deu o nome, ele riscou o seu do mundo; se te deu a morte, morreu também, ele, na lama. Ah! Abre-me teus braços; ensina a teu pai o caminho de Deus pelo perdão".

O Espírito daria ainda mais três comunicações através de outros médiuns da Sociedade Parisiense, nas quais podemos verificar a utilidade da mediunidade com Jesus no sentido de minorar o sofrimento dos sofredores do Mundo Maior, cuja extensão não comporta no espaço deste artigo. Daí recomendamos a leitura do texto completo em a Revue, conforme indicação da nota de rodapé.

Por tudo isso acreditamos que não foi sem motivos que - inspiradamente - o Espírito José Grosso, através da mediunidade de J. Raul Teixeira, em mensagem psicografada no dia 2 de agosto de 2006, na Sociedade Espírita Fraternidade, em Niterói, RJ, e inserta no livro "Para uma vida melhor na Terra", entre outras coisas, assinalou[2]:

"(...) Se a danação do orgulho ou da vaidade/ Vive a espalhar torpe infelicidade/ Se esses tormentos a harmonia emperra,/ É a guerra...

Se se converte o prato em munição,/ Se há menosprezo pela educação,/ Se a trava do cinismo envolve a Terra,/ É a guerra...

Quando, ao invés de escola, houver prisão/ Para deter quem, na perturbação,/ Esqueceu do amor que o mal desterra,/ É a guerra...

Pense na responsabilidade,/ Quando espalhas energias em sua vida,/ Pois podes espalhar sombra ou luz na lida,/ E influir sobre o mundo, de verdade.

Guarde a certeza de que quando chora/ E sofre o horror da loucura que explode, /Há muita bênção que do Céu o acode,/ A livrá-lo da tormentosa espora.

Faça do amor sua rota de segurança,/ Erguendo a paz nas trilhas em que vai./ Se o mundo desce em cada ser que cai,/ Sobe com quem, em Deus, guarda a esperança.

Viva na paz de quem serve e trabalha,/ Cauteloso e valente, com Jesus./ Ore e, confie em Deus, forje sua luz,/ Eis a regra formosa que não falha".  

 
[1] - KARDEC, Allan. Revue Spirite. Dezembro de 1864. Araras: IDE, 1993, p. 380-388.
[2] - TEIXEIRA, J. Raul. Para uma vida melhor na Terra. Niterói: Fráter, 2006, p. p. 67-69.


 


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