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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 480 - 28 de Agosto de 2016

WILSON GARCIA
wilson@visaointernet.com
Recife, PE (Brasil)

 

 
A foto e o fato
 

Carta Capital republicou, em 10 de setembro de 2015, matéria do Deutsche Welle intitulada "A foto do menino Aylan e o poder das imagens" (logo abaixo), um estudo sobre o significado da imagem que merece ser lido com atenção.

 

 

Certas imagens, especialmente imagens fotográficas, marcam, mexem, ficam. Algumas se alojam nos arquivos cerebrais como imagens particulares, com significados pessoais; outras são registradas na memória coletiva por seu significado sociológico. Mas todas essas, indistintamente, se ligam aos fatos geradores e às dimensões que alcançaram.

Quem viu não esquece, jamais, a fotografia do menino e o abutre, registrada pelo fotógrafo sul-africano Kevin Carter, membro do Clube do Bangue Bangue, na guerra do Sudão. Se a imagem é, tecnicamente, ícone, algumas são ícones expressivos, pelo significado que guardam e pelas significações que propõem. Essa foto da guerra do Sudão extrapolou o significado imediato e alcançou a dimensão paralela de uma segunda tragédia. Kevin Carter se matou, aos 33 anos de idade, premido pelo peso do fato que registrou e de outros tão rudes quanto os que vivenciou em sua curta existência.

A foto do menino Aylan difere e assemelha-se ao mesmo tempo à do menino na guerra do Sudão (acima). Afora os contextos, em si mesmos diferentes, Aylan é branco, o outro é negro e conhecido por Kong Nyong. Este estava se arrastando em busca de alimento no momento em que o fotógrafo o observa com sua lente, enquanto que Aylan já surgiu sem vida na praia turca. Se essas diferenças estão presentes nas duas imagens, há uma semelhança cruel entre elas: a realidade da violência e o descaso humano.

Vera Maria Calazans Guimarães apresenta um estudo acadêmico muito bem construído em que a imagem do menino do Sudão é analisada sob diversos vieses, a partir da constatação da sua veracidade. Apesar do prêmio Pulitzer que a imagem ganhou em 1994, o seu aparecimento gerou tamanha repercussão à época de sua publicação que muitos duvidaram pudesse ela representar o instante completo da realidade reproduzida. Ficou no ar a impressão de montagem e do sensacionalismo.

Aylan, contudo, por estar mais próximo e ser um fato recente, causa maior espanto e indignação. Não são mais apenas as guerras fratricidas em campo aberto; são também outras guerras que se travam nos bastidores do poder mundial, onde o caráter humano é posto em profunda discussão e as nações são chamadas à consciência da corresponsabilidade. É espantoso como muitas resistem a dar a sua contribuição e outras fogem do dever de repartir o seu espaço público, bem como seu apoio material às levas de seres humanos que fogem dos conflitos ou da fome em seus lugares de origem.

É incrível perceber que Aylan não simboliza tanto a inocência quanto a impotência. Seu corpo inerte, à frente do policial turco, rápido se transforma no símbolo que agride a insensibilidade da razão, apontando diretamente para uma ausência não mais aceitável no ser humano: ausência de humanidade.

Se até aqui fora possível elencar as 10 imagens mais tristes da história, deve-se contá-las a partir de agora por 11. A de Aylan aí se coloca obrigatoriamente. Isoladas, nenhuma delas tem o poder de contar a história que representam, mas podem, cada uma por si, produzir efeitos no indivíduo que as observa, conduzindo-o a ultrapassar o momento primário do reconhecimento para alcançar o instante maior da compreensão do fato histórico e, assim, formar a consciência que só o saber verdadeiro proporciona.

A imortalidade de Aylan e da criança do Sudão está presente exatamente na constatação da mortalidade dos seus corpos, estes mesmos corpos que ficarão imperecíveis na memória da história dos homens até que os efeitos do descaso humano desapareçam e substituam a chaga da desesperança pela certeza de que todos somos Espíritos eternos com direito à dignidade, estejamos presentes no corpo físico ou no espiritual.



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita