WEB

BUSCA NO SITE

Edição Atual Edições Anteriores Adicione aos Favoritos Defina como página inicial

Indique para um amigo


O Evangelho com
busca aleatória

Capa desta edição
Biblioteca Virtual
 
Biografias
 
Filmes
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English    
Mensagens na voz
de Chico Xavier
Programação da
TV Espírita on-line
Rádio Espírita
On-line
Jornal
O Imortal
Estudos
Espíritas
Vocabulário
Espírita
Efemérides
do Espiritismo
Esperanto
sem mestre
Links de sites
Espíritas
Esclareça
suas dúvidas
Quem somos
Fale Conosco

Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 480 - 28 de Agosto de 2016

ELENI FRANGATOS
eleni.moreira@uol.com.br
Vinhedo, SP (Brasil)

 

 

Você se apercebe do que faz?
 

 
“Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim.” (Chico Xavier)
 

A volta para casa

Pairo no espaço. Olho o planeta Terra, azulado, lindo, pequenino... Meus movimentos são livres, leves, como que deslizo pelo etéreo. Meu destino é errante. Não sei bem o que fazer, meio que perdido. Irmãos me ajudaram, mas, na ânsia de voltar ao meu planeta, de rever os meus, eu me rebelei até contra sua ajuda. Neguei-me inicialmente a aceitar que havia passado para outra dimensão. Olhava os meus chorando, tentei tocá-los, falar com eles, mas eles não me ouviam, não sentiam a minha presença... Uma angústia grande tomou conta de mim!

Eu havia me afastado para ficar só. Foi então que me apercebi que a vida, que eu vivera na Terra, era secundária. A principal, aquela de onde eu havia sido originado, era precisamente aquela para onde eu voltara agora. Esse, sim, havia sido o meu ponto de partida e não o contrário.

Fiquei pensando em como durante toda uma vida a minha percepção havia sido precisamente o contrário. O correto é que eu estava voltando para minha “casa”, o meu verdadeiro lar, e não deixando a minha “casa” no planeta Terra. Como essa ideia, com base em falsas premissas, havia influenciado negativamente toda a minha vida – pressupunha uma coisa e era outra!

Como vemos a morte

A própria noção de morte, minha e a dos meus relacionamentos, fora olhada por todo o período de uma vida, como algo triste, pesado, motivo de choro, quando afinal deveria ser motivo de contentamento, embora a saudade física fosse triste. Sim, quando alguém que amamos e a quem queremos bem se afasta do nosso campo físico, nosso egoísmo nos faz pensar apenas que não a veremos mais, sentimos falta de um olhar, de um carinho, de um toque, um abraço, do som da voz amada e uma dor insuportável se instala nos nossos corações; e maior quando esse distanciamento, que chamamos de “perda”, é a dor maior de um pai, ou mãe, que “perde” um filho, uma filha, contra a lei que dizemos natural: primeiro os pais, depois os filhos, e, na nossa dor pessoal, única, esquecemos que a Doutrina Espírita nos ensina claramente a causa de tudo isto. Mas uma coisa é ler, aprender, aplicar aos outros, confortar os outros com sábias palavras, outra é quando bate à nossa porta a ausência de um ente querido; não sabemos lidar com isso, e a tendência, na maioria das vezes, é esquecer o que nos foi ensinado.

Fantasia x Realidade

Refletia em tudo isto e foi, de repente, que me apercebi de algumas coisas que influenciaram tanto minha vida e a dos outros com quem me relacionei: minha mulher, filhos, pais e irmãos, amigos, colegas de trabalho.

Vi, com a clareza de um insight, como havia desperdiçado uma vida inteira, tão breve, tão curta ela foi, e como me preocupei com coisas tão mesquinhas, tão inúteis; apregoava, declarava tanta coisa que pensava ser, mas, bem fundo no meu íntimo, eu sabia que tudo não passava de um simulacro, de interesses escusos, que minha mente construía incessantemente. A minha imagem era uma, mas eu, o eu de verdade, era outro. E foi então que bateu a minha verdadeira identidade e tive vergonha de mim mesmo. Na Terra, eu gostara muito de ler e me lembrei naquele instante da frase do escritor português, o grande Eça de Queiroz: “sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia” (A Relíquia - 1887).

Amigo leitor, repare como esta frase resume nossas vidas. Uma fantasia com a qual cobrimos as duras verdades do que pensamos e fazemos em relação a nós próprios e ao nosso próximo. Em cada um de nós existem três pessoas distintas: aquela que nós achamos que somos; a que os outros pensam que somos; e aquela que Deus sabe que somos!

E assim passam nossas vidas numa inconsequência, num “laisser passer”, negligenciando a maior parte do que nos comprometemos a fazer pelo nosso progresso espiritual, quando viemos para este planeta. Os prazeres, a preguiça, a inconsequência, o orgulho, egoísmo, arrogância, prepotência, o ego inflado, entre outros, formam esse pacote físico, nós como ser físico!

Não temos noção do que e de quem somos e qual nossa missão na nossa vida atual. Mas, se comparados com os bilhões que compõem a Humanidade, temos a veleidade de nos acharmos o ser mais importante aqui presente. Parece até que, com o nosso distanciamento, a ida para outra dimensão, a Terra daria um solavanco e pararia uns segundos para se perguntar: como vou funcionar sem a presença de fulano ou de fulana? E agora, o que vai ser de mim, de nós, afinal, tudo se movia por causa dele (a). Que perda!!! rs... Assim nós nos julgamos e cremos! Pobres criaturas enfatuadas...

Perdão!

E ali estava eu, nestas reflexões que levam unicamente ao caminho da percepção, de se saber que precisamos de nos melhorar e que a vida nos é oferecida para isso e não a aproveitamos. E decidi que, embora longe e, no entanto, mais próximo do que nunca (mas isso os simples mortais não tinham essa noção, poucos a têm ainda) estava na hora de pedir desculpas, pedir a compreensão daqueles a quem ferira, e a quem, se pudesse voltar à sua presença física, apenas abraçaria, estreitaria ao peito numa saudade infinda, seguraria bem forte e diria, rasgando meu coração:

- Meu filho, me perdoe quando nem ouvi o projeto que você, ainda menino, imberbe, quis expor, como único, e eu derrubei o seu sonho, enfraqueci sua autoestima, nem o deixei terminar, desfiei um rosário de contras para o que você, tão menino ainda, vinha ingenuamente pedir minha opinião, querendo ser valorizado por mim, e eu preferi mostrar toda a minha experiência de vida, os meus conhecimentos e o humilhei, pior, trocei de você, ri, esquecendo que ali estava meu próprio filho apenas querendo um elogio do pai, seu herói! No fundo, eu apenas estava querendo controlar você, mostrar que a autoridade era eu. Perdão, meu filho!

- Minha mulher, querida companheira, a quem tanto negligenciei me achando com o direito de dar a palavra final, fiz de você uma dona de casa, despedacei seus sonhos quando você quis trabalhar fora, virilmente dando um não sonoro e me vangloriando: eu sustento essa casa, eu sou o homem da casa, não quero minha mulher trabalhando fora. E o seu diploma de faculdade ali ficou inutilmente numa gaveta. E quantas vezes eu a traí por prazer momentâneo, sem a respeitar como minha mulher, sem me respeitar como homem e esquecendo o que isso poderia representar para nossos filhos. Que vergonha, mulher! E você intuía e, quando me confrontou, eu gritei, e a chamei de louca, de bipolar, de doente mental, disse que você precisava de um psiquiatra, quando era eu o doente a ser tratado, porque o homem, quando diz estas coisas, é a forma de se defender, de reverter a culpa sobre o outro, no caso você, mulher! E as mulheres com quem a traí não valiam porque, algumas também casadas, até suas amigas, apenas procuravam prazer, ou seja, faziam o mesmo sem qualquer culpa como se, ao fazer isso, se sentissem mais mulheres, mais fêmeas... Como eu a humilhei nessas horas! Perdão, minha mulher!

- E tu, meu amigo, quantas vezes abriste teu coração, confiando em mim como um bom e leal amigo, e eu apenas sentia inveja dos teus sucessos profissionais, da tua situação financeira, queria tua mulher para mim, e tentei, mas ela nobremente me rechaçou com indignação, e mais te invejei. Quando precisavas de um abraço amigo, quando me contavas algo que havia te ferido, por dentro eu rejubilava, mas fazia um ar compungido... Perdão, meu Amigo!

- Meus pais, quantos sacrifícios fizeram para me criar, pagar meus estudos, e quantas vezes deixei de visitá-los, porque eu os considerava velhos, decadentes, chatos, e limitados – em resumo, tinha vergonha de apresentá-los a meus chefes, meus colegas e amigos. Nem sequer perguntava aos meus filhos se queriam visitar os avós, eu já tomava a frente e arrumava desculpas, achando que estava fazendo um favor para os meninos. E, quando eu os visitava, após longos períodos de ausência, era sempre correndo, e via a dor sufocada nos olhos de meu pai, a lágrima furtiva nos olhos de minha velha mãe. Quanto meus filhos poderiam ter aprendido com os avós! Que maldade minha! Minha Mãe, meu Pai, perdão, por favor!

- E às mulheres, aquela menina ainda tão menina, pudica na sua virgindade, a quem seduzi, não respeitando seus sonhos, tudo prometia, tudo fazia num afã de possuí-la e, quando meus sentidos foram satisfeitos, rapidamente a passei para o rol de “inúteis”, das “chatas”, e já procurava outra para sentir o prazer da sedução, jogar o meu charme num jogo mental de sedução, mais perigoso do que a sedução física... Peço a vocês que me perdoem!

- E os estranhos que de mim se acercavam pedindo um trocado para comer, apesar de ver a verdadeira fome estampada em seus olhos, eu dizia: “não, cara, vai trabalhar, eu não sustento vagabundo”. E o olhar de fome batia na minha farta refeição ali exposta na mesa, na calçada ensolarada do restaurante ou barzinho, e, com um olhar mesclado de dor e de humilhação, se afastavam. Perdoem-me, se lhes for possível!

Somos tão rápidos em apontar as falhas nos outros

E assim, fiquei lembrando dolorosamente como fora velhaco na minha vida, porém tão rápido em apontar as falhas nos outros; quanto mentira para denegrir a imagem dos outros, tirando proveito de alguma informação que a mim chegara por outras vias; como quis controlar e manipular a vida de todos para meu prazer pessoal. E como, publicamente, eu “ensinava” ao outro aquilo que devia fazer de sua vida, como ler O Evangelho segundo o Espiritismo uma vez por semana no mínimo, quando eu mesmo raras vezes o fazia; como eu mentia no Centro para chegar a funções de “mando”, onde pudesse exercer – com importância – a minha doentia autoridade... Não tinha pudor nem em denegrir a imagem de outros irmãos com insinuações fabricadas ali, de momento, distorcendo a verdade e até falseando-a, desde que isso servisse para me alçar a um cargo de mando.

E foi, então, que reconheci que eu passava uma imagem de executivo poderoso, homem de grande fortuna, pai extremoso, marido completo, filho estremado, bom amigo, ético e moral – um bom Espírita, cumpridor dos ensinamentos de Jesus!!!

Mas...

Eu havia sido um simulacro de ser humano!

Por isso as depressões, as raivas súbitas, quando minhas vontades não eram atendidas, a taquicardia, a pressão alta, dores de cabeça e depois um câncer...

Tivesse eu pensamentos mais elevados, tivesse tido um comportamento mais correto, mais digno, e tudo teria sido diferente.

Regressei à Colônia Espiritual, estava pronto agora para aceitar com humildade o meu tratamento espiritual e, mais tarde, iniciar meu trabalho junto com meus irmãos que, ao saber de minhas intenções - agora verdadeiras e autênticas - logo me acolheram amorosamente.

Você, leitor (a), talvez acredite agora que, embora eu seja um Espírito normal como tantos outros que, neste momento, estão aí mesmo do seu lado guiando-o, orientando-o amorosamente, quem sabe se eu também não fiquei do lado de nossa irmãzinha articulista, guiando seus dedos vertiginosamente sobre o teclado, porque queria muito dizer-lhe tudo isto para que você também reflita com seus botões e chegue às suas próprias conclusões.

A vida é curta – não a desperdice!

- Não desperdice a sua vida em momentos fugazes de mesquinhez. Seja feliz, viva a vida intensamente e com alegria sadia e em paz. Pratique o bem e o bem virá em dobro. Agradeça tudo o que lhe é dado, até a doença, o sofrimento, porque são aprendizados e fazem de você um ser mais humano, mais compreensivo. A sensação de bem agir, bem fazer, é inexplicável – nada há de melhor na vida, quando você respeita o próximo e, acima de tudo, se respeita a si próprio como ser sagrado. Agradeça por lhe ter sido dada a oportunidade de refletir sobre sua própria vida e ter tempo ainda para mudar o que precisa ser mudado.


 


Voltar à página anterior


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita