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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 478 - 14 de Agosto de 2016

RICARDO BAESSO DE OLIVEIRA 
kargabrl@uol.com.br
Juiz de Fora, MG (Brasil)

 

 
Meritocracia e Espiritismo


Meritocracia
 (do latim meritum, "mérito", e do sufixo cracia, "poder") indica posições ou colocações conseguidas por mérito pessoal. É um sistema de gestão que considera o mérito como a razão principal para se atingir posições de topo. Segundo a meritocracia, as posições hierárquicas devem ser conquistadas com base no merecimento, considerando valores como educação moral e aptidão específica para determinada atividade. Constitui-se numa forma ou método de seleção e, num sentido mais amplo, pode ser considerada uma ideologia governativa e uma filosofia de vida.

Muitos estudiosos da área da filosofia e da sociologia questionam a possibilidade de uma real meritocracia, argumentando que muitos se valeram do conceito do mérito para responsabilizar os que não foram bem-sucedidos. Alegam que a meritocracia é um ótimo instrumento para justificar moralmente o domínio de um indivíduo sobre outro, de uma etnia sobre a outra, de um país sobre outros países. Há quem afirme, jocosamente, que merecimento é argumento de homens, brancos, heterossexuais, ricos, escolarizados e poderosos, que se valem desse conceito para justificarem o sucesso pessoal e o domínio sobre outras pessoas. Não aceitam o argumento de que todos os que estão “bem na vida” fizeram por merecer e, os que não estão devem queixar-se apenas deles mesmos, por sua indolência e falta de esforço.

John Rawls (1921-2002), filósofo político americano, citado por Michael Sandel, no livro Justiça, coloca que, em termos legais, em uma sociedade democrática, todos podem se esforçar e competir, mas na prática, entretanto, as oportunidades estão longe de ser iguais. Segundo ele, três problemas se apresentam à lei do mérito:

1- Inteligência: as pessoas possuem inteligências distintas. A inteligência tem uma herdabilidade de 50%, ou seja, a genética explica 50% da variação da inteligência, sendo, portanto, parcialmente inata. Pesquisadores têm relacionado a inteligência com os seguintes elementos biológicos: tamanho do cérebro, quantidade de matéria cinzenta nos lobos frontais, velocidade de condução neural e o metabolismo da glicose. Tudo isso é definido, em grande parte, por interações de genes. Inteligências diferentes dão aos indivíduos chances diferentes de alcançarem o mesmo objetivo.

2- Condições sociofamiliares: nem todos nascem em famílias com os mesmos recursos financeiros, com os mesmos valores morais, dando a mesma importância a questões como escolaridade ou necessidade de preparação para a vida. Os indivíduos durante a sua infância e juventude são submetidos a estímulos culturais diferentes, alimentos mais ou menos nutritivos, acompanhamento médico/odontológico também diferente.

3- Oportunidades: as oportunidades surgem em proporções diferentes para as diferentes pessoas durante a vida. No jogo do destino, precisam ser considerados elementos como sorte e azar. E quando se admite que “Dona Sorte” pode atuar no quadro da vida, surgem novas argumentações: se eu não tivesse ido àquela festa, não teria conhecido minha esposa, que foi decisiva em meu sucesso profissional; se eu não tivesse pegado aquele livro na biblioteca, não teria descoberto minha vocação profissional; se eu não tivesse atendido aquele telefonema, jamais teria conseguido tal emprego etc.

Coloca-se uma situação prática: abre-se uma vaga para promotor de justiça, através de um concurso público. Admite-se que o concurso é honesto e que poderão se inscrever todos aqueles que satisfazem as exigências legais. Apresentam-se dois candidatos. O primeiro é filho de um juiz de direito, estudou em uma faculdade “de ponta”, teve no lar todos os estímulos para estudar desde cedo e todos os livros sempre à mão. Assistências à saúde e alimentação foram adequadas. Nunca precisou trabalhar e todo o seu tempo estava destinado à instrução. O segundo candidato é órfão de pai, que faleceu quando ele tinha dois anos. Sua mãe, uma honesta e dedicada lavadeira, criou seis filhos com imensas dificuldades. Esse candidato nunca recebeu estímulos em casa para a instrução; sem livros, tendo que trabalhar desde cedo, estudando à noite em uma faculdade de recursos limitados, alimentação pouco nutritiva etc. Pergunta-se: qual deles, considerando-se que possuem a mesma inteligência e que fizeram o melhor possível na preparação para o concurso, está, teoricamente, em melhores condições de vencer a disputa? Obviamente, o primeiro candidato.

As argumentações apresentadas acima são claras, lógicas e de difícil contestação. Sob a ótica materialista, pode não fazer sentido o princípio do merecimento. Todavia, valendo-nos dos postulados fundamentais da Doutrina espírita, a abordagem passa a ser outra. Compreendendo-se que a atual existência física consiste apenas em um único episódio em nossa longa história evolutiva, que experimentamos condições múltiplas de vida, em ambientes diferentes, convivendo com pessoas diferentes e fazendo as nossas escolhas, tudo se modifica. A meritocracia faz sentido a partir de uma abordagem reencarnacionista, e torna justa a lei de Deus. Criados por Deus como seres simples e ignorantes, todos somos levados a viver diferentes experiências de vida, onde encontramos os elementos necessários ao desenvolvimento de nossas potencialidades. As nossas encarnações são construídas segundo duas variantes: a necessidade evolutiva e os resultados de nossas ações anteriores.

Escreveu Kardec, em comentário ao item 964 de O Livro dos Espíritos:

“Todas as nossas ações são submetidas às leis de Deus; não há nenhuma delas, por mais insignificante que nos pareça, que não possa ser uma violação dessas leis. Se sofremos as consequências dessa violação, não nos devemos queixar senão de nós mesmos, que nos fazemos assim artífices de nossa felicidade ou de nossa infelicidade futura”.

E ainda Kardec:

[...] é necessário que o Espírito adquira a experiência, e para isso é necessário que ele conheça o bem e o mal. (LE, item 634.)

Voltando ao exemplo apresentado previamente, e agora o examinando segundo um raciocínio espírita. O primeiro candidato (filho do juiz) pode ter sido um filho de lavadeira em existência anterior, e que, superando todos os obstáculos, fez o melhor que pôde, adquirindo merecimentos, que lhe são considerados na existência atual. O segundo candidato (filho da lavadeira modesta) talvez tenha sido um filho de juiz no passado, que tendo recebido todas as facilidades em existência hipotética, desconsiderou-as, levando uma vida de ócio ou devassidão. Retorna, pela reencarnação, ao cenário da Terra, com dificuldades redentoras para, através da vida custosa, reeducar-se perante si mesmo. E assim a justiça se faz e o princípio do mérito torna-se aplicável às diferentes situações da vida.

Encontramos em O Livro dos Espíritos:

Depende dos Espíritos apressarem o seu progresso rumo à perfeição? – Certamente. Eles a alcançam mais ou menos rápido, conforme seu desejo e submissão à vontade de Deus. (item 117)

E também:

Não há arrastamento irresistível, desde que se tenha vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder. (item 845)

E finalmente:

O homem sempre poderia vencer suas más tendências mediante seus próprios esforços? – Sim, e às vezes com pouco esforço. O que lhe falta é a vontade. Ah! Como são poucos os que se esforçam entre vós. (item 909)

As considerações espíritas, todavia, não podem ser entendidas de forma fatalista, segundo o conceito de que as coisas são como são em decorrência unicamente de causas passadas e de que devemos nos sujeitar a elas. Rejeitarmos a absurda desigualdade social fortemente presente em nossa sociedade e fazermos o possível para reduzirmos as distâncias que existem entre as pessoas é obrigação de todos. Afinal, como afirmava o professor Paulo Freire, precisamos ver a história como tempo de possibilidades e não de determinação.



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita