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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 472 - 3 de Julho de 2016

LEDA MARIA FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

 


Parábola dos Trabalhadores
da Vinha


Da enxada à cátedra tudo é trabalho na vinha. Decididamente a parábola não pode ser analisada apenas do ponto de vista religioso.  

No nosso entendimento, essa frase sintetiza a essência do ensinamento de Jesus, que Emmanuel, estimado benfeitor espiritual, registra com maestria, no livro Pão Nosso, lição 29, trazido até nós pela bendita mediunidade de Francisco Cândido Xavier: “A formosa parábola dos servidores envolve conceitos profundos. Em essência designa o local dos serviços humanos e refere-se ao volume de obrigações que os aprendizes receberam do Mestre divino. Por enquanto, os homens guardam a ilusão de que o orbe pode ser o trabalho de hegemonias racistas ou políticas, mas perceberão em tempo o clamoroso engano, porque todos os filhos da razão, corporificados na crosta da Terra, trazem consigo tarefas de contribuir para que se efetue um padrão de vida mais elevado no recinto em que agem transitoriamente”. 

Diferentes autores a nomeiam de formas outras como, por exemplo, parábola dos trabalhadores da última hora, do empregador generoso, mas que em nada altera o objetivo do Mestre ao narrá-la e a essência divina nela contida. O que precisamos fazer é nos debruçarmos sobre seu estudo e retirar da simplicidade da história o que é vital para nós: “o vinho”, a essência, a seiva vital. 

Sobre isto, Cairbar Schutel traz observações interessantes e importantes, que em parte são dirigidas aos espíritas. Diz ele que sem estudo, sem prática bem conduzida, sem orientação segura, muitas práticas não espíritas são tomadas como sendo espíritas, o que desvirtua o objetivo dos centros e dos trabalhos que devem ser norteados pela Doutrina. Cita o surgimento de obras contraproducentes (nada mais atual) que mais confundem do que explicam os princípios consoladores que dizemos professar. Coloca ainda o abandono dos familiares – em nome do trabalho “espírita” – bem como seus deveres para com a sociedade e o trabalho que lhe dão sustento da vida material. 

Sua afirmação de que “muitos trabalham, mas poucos cuidam da Seara do Senhor”, falhando nas tarefas que lhes foram confiadas, obriga-nos a repensar nossas próprias atitudes frente às obrigações assumidas com Jesus. 

Para Huberto Rohden existe uma grande dificuldade no entendimento da parábola, tendo em vista que ela é, segundo ele, pura intenção espiritual do Cristo e que, diante disso, é difícil estabelecer comparações com a vida material, elemento fortemente usado pelo Mestre para explicar a vida do Espírito. Afirma que “esta parábola não comporta explicação no plano do nosso ego empírico-analítico” (análise intelectual). Importante lembrar que Ele usava elementos da realidade material, simples, para explicar a realidade espiritual, complexa. 

Procurando entender o ensino do divino amigo, encontramos como objetivo estabelecer a diferença entre remuneração material e “remuneração” espiritual; e como essência, a bondade e a justiça divinas dadas de graça a todos os Seus filhos.  

Neste ponto, um leque de possibilidades abre-se para a interpretação da parábola – todas válidas e, ao mesmo tempo, nenhuma delas conseguindo penetrar no âmago da intenção do Cristo, pois Ele vai muito além.  Poderemos “escanear”, ver vários e diferentes lados como uma impressora 3D, mas não poderemos, por ora, penetrar na profundidade dela. Todavia, com o que nosso intelecto nos proporciona, vamos fazer uma escolha, que certamente não será a melhor nem tampouco a única.  

Compreendendo as alegorias ou elementos, encontramos a vinha como a representação do Reino de Deus e, no nosso caso, o nosso planeta, o orbe que nos recebe para essa nova experiência carnal. O patrão certamente é Deus – não há como ignorar isso e os trabalhadores somos todos nós, a humanidade terrena, com seu tempo de entendimento das coisas do Espírito. Os obreiros que reclamam, entendemos, são os judeus ressentidos, porque não aceitavam que os gentios (convertidos) também recebessem o Reino dos Céus. Aceitavam Deus há mais tempo e exigiam privilégios. Vamos nos lembrar da parábola do filho pródigo?  

E os trabalhadores da última hora, da duodécima hora? Este elemento dentro da parábola permite-nos fazer algumas indagações: Serão eles aqueles que se arrependem verdadeiramente no leito de morte? Serão os jovens convertidos e desprezados pelos mais antigos na fé e mais fervorosos em seus compromissos religiosos?  

Essa contagem de tempo dividido em horas, trazido do Antigo Testamento, também é elemento importante, pois representa o processo de espiritualização do homem desde que recebeu o livre-arbítrio em priscas eras e nos leva a pensar que todos nós somos trabalhadores da última hora; que todos somos convidados a participar do Reino Celeste; que todos somos filhos de Deus, recebendo as mesmas benesses, com diferentes capacidades para recolher o que podemos e percebemos. 

Retornemos ao texto. Assim, do ponto de vista material o empregador é injusto, pois paga igualmente tempos diferentes de trabalho. Mas, do ponto de vista espiritual, não, pois se baseia na premissa de que o Reino de Deus não é deste mundo e, portanto, não pode ter os mesmos critérios para avaliação.  

Senão, vejamos: Não existe “recompensa” na medida em que o eu-espiritual não se desgasta com o trabalho, diferentemente do eu-material que se desgasta e precisa ser recompensado – ganha para gastar. Do ponto de vista espiritual, todos trabalham de graça, pois não vivem na dimensão do ego, do ser material. Por Moisés foi dada a lei, pelo Cristo veio a Verdade. Discípulos de Moisés trabalham dentro da Lei, por recompensa; discípulos do Cristo trabalham de graça, por amor. 

O que nos chama a atenção diante dessa superficial análise é o que o evangelista Lucas narra no capítulo 17, versículo 10: “Quando tiverdes feito tudo que devíeis fazer, dizei: somos servos inúteis, porque cumprimos a nossa obrigação, nenhuma recompensa merecemos por isto”.  

Buscamos, também, em outras fontes, algumas análises que merecem destaques: a Bíblia de Jerusalém cita correlações com Mateus, capítulo 19, versículo 30 e Romanos, capítulo 9, versículos de 19 a 21. Coloca que ao pagar o salário integral dos trabalhos no final do dia, o Senhor demonstrou bondade, que vai além da justiça, mas sem ofendê-la; que os primeiros (aqueles que mantêm uma aliança com Deus desde os tempos de Abraão) não devem se escandalizar com o fato de Deus admitir em Seu Reino, também, os que chegavam tarde (pecadores e pagãos). 

A Bíblia Peregrina nomeia a parábola como a dos “diaristas da vinha” e coloca: no começo anuncia-se uma inversão de valores que no final desemboca numa igualdade; a relação correta do homem com Deus decide-se no trabalho e quem quiser praticar boas obras fará um contato com Deus. Impossível não nos recordarmos de madre Tereza de Calcutá e de sua grande sabedoria ao dizer que “no final é tudo entre mim e Deus e não entre mim e os outros”.  

Lembra ainda que não é cabível alegar injustiça de Deus com base em uma perspectiva de justiça distributiva que exige proporção matemática entre trabalho e salário, pois se trata de uma perspectiva que gera inveja e mesquinhez; que não cabe exigir a proporção, mas aceitar com gratidão a desproporção, pois Deus não é injusto ao ser generoso. “Acaso o teu olho é mau, porque eu sou bom?” Não cabe ao homem querer submetê-Lo ao regime de justiça comutativa, presente nas relações sociais de troca, sendo que as partes devem dar e receber numa proporção matemática. Uma troca é justa, nesse conceito, quando os produtos que forem trocados equivalem-se, exatamente, quantitativamente.  

Na Tradução Ecumênica da Bíblia, a parábola é nomeada como a dos “trabalhadores da undécima hora”. Essa medida de tempo aparece no Antigo Testamento, em alguns profetas, e nada tem a ver com a contagem moderna de tempo. As horas do dia eram contadas a partir das 6h até às 18h e a undécima hora do texto seria entre 16h e 17h. O texto destaca que, em essência, Jesus quer mostrar que a bondade divina ultrapassa os critérios humanos na retribuição concedida como salário devido sem, contudo, descambar na arbitrariedade que não leva em conta a justiça.  

Importante lembrar que eram homens pobres que trabalhavam durante as colheitas, em todas as suas etapas, e que precisavam da diária integral para o sustento da família.  

Concluindo nossas reflexões: “saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para sua vinha”. O que isto significa?  

No nosso entender, significa que há um dinamismo natural no homem de bem, aquele homem que não perde tempo com fantasias e ilusões e atém-se ao que realmente é importante na vida; que a evolução espiritual é meta divina definida desde que ocorreu o processo de humanização do princípio inteligente, na “madrugada da vida” humana, quando o Espírito era simples e ignorante das leis divinas, ainda que as tivessem ínsitas no seu ser.  

Mister se faz que nos recordemos, ainda, que Deus ajusta o trabalho em nível da conscientização do obreiro e que esse homem trabalha no que pode. O Pai oferece o local, a forma e o valor da “remuneração”. Recebe ainda a oportunidade de progredir, no campo que lhe foi destinado, selecionado em função da experiência que possui. 

“E saiu perto da terceira hora, viu que outros estavam na praça desocupados e disse-lhes: ide também vós para a minha vinha, e lhes darei o que é justo. E eles foram”. A hora de contratação dos trabalhadores equivaleria às diferentes convocações de Deus aos filhos, para o cultivo das virtudes. Interessante relermos a parábola da grande ceia e a parábola da boda de núpcias, procurando as comparações que surgirão muito claras com a parábola alvo dos nossos comentários. 

Em inspirado texto, Eliseu Rigonatti, no livro Evangelho dos Humildes, capítulo 20, diz: “uns começam mais cedo a cuidar dos seus Espíritos; outros começam mais tarde. E, no entanto, para os bons trabalhadores, o salário é o mesmo, não importa a hora em que iniciaram o trabalho de se regenerarem”.  

 

Bibliografia: 

SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensinos de Jesus – 14ª ed., Casa Editora O Clarim – Matão/SP –“Parábola dos Trabalhadores da Vinha”.

ROHDEN, Huberto. Sabedoria das Parábolas – 12ª ed., Editora Martin Claret – São Paulo/SP – “Os Trabalhadores da Vinha”.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. 20, itens 2 e 5.

CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas Evangélicas - 11ª ed., FEB – Brasília/DF, 2013.

XAVIER, F. C. Alma e Luz – pelo Espírito Emmanuel – Editora IDE, lição 20.

 


 


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