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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 465 - 15 de Maio de 2016

CLÁUDIO BUENO DA SILVA
Klardec1857@yahoo.com.br
Osasco, SP (Brasil)

 

 

 

Sobre um conto de Tchekhov


Ao terminar de ler um conto do escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904), ¹ considerado um dos expoentes da literatura russa, admirei-me com a conclusão que deu à história, pois, coincidentemente, responde com precisão à questão 932 de O Livro dos Espíritos, onde Allan Kardec pergunta aos Espíritos por que em nosso mundo os maus exercem maior influência sobre os bons.

O conto foi escrito em 1883. Passo a comentá-lo em seus lances principais.

O patrão chama a governanta do seu casal de filhos para acertar as contas: ela será dispensada. Estabelece-se então entre os dois um “diálogo” terrível, em que a sagacidade do patrão se impõe com enorme crueldade.

Ele diz: – “Ficou ajustado entre nós que seriam trinta rublos por mês”...

A governanta responde: – “Quarenta”...

– “Não, trinta”... – ele retruca. – “Eu tenho anotado”...

Embora a mulher tenha informado que trabalhara dois meses e cinco dias, o patrão lhe informa que os números são inexatos e que receberá pelos dois meses, apenas.

Calada, a governanta acompanha os cálculos mesquinhos e injustos do senhor. Vê serem descontados domingos e feriados em que apenas passeara com o menino. O garoto ficara doente, por isso não estudou; a governanta tivera dor de dente, por isso não lecionou. Os pretextos vão se acumulando juntamente com os descontos que o patrão vai impondo à empregada. Menos isto, menos aquilo...

Ainda sem responder, a mulher o vê lembrar-se de uma xícara cara (relíquia) que ela quebrara na noite de Ano Bom: menos dois rublos; o menino rasgou o paletozinho quando subiu numa árvore: menos dez rublos.  

Ao final, sobraram onze rublos, dos sessenta que ele determinara.

– “Queira receber”.

– “Merci” ² – murmurou a governanta, depois de enfiar o dinheiro no bolso.

O conto de Tchekhov termina de modo tão imprevisível que eu prefiro transcrever o curto desfecho como ele o concebeu e que responde àquela indagação de Kardec que citei no início deste texto:

– Mas, por que este merci? – perguntei.

– Pelo dinheiro...

– Mas, eu a assaltei, diabos, eu lhe roubei dinheiro! Por que merci?

– Noutras casas, cheguei a não receber nada...

– Não recebeu nada! Compreende-se! Eu caçoei da senhora, dei-lhe uma lição cruel... Vou lhe pagar todos os seus oitenta rublos! Estão preparados para a senhora, neste envelope! Mas, como é que se pode ser moleirona assim? Por que não protesta? Por que fica quieta? Pensa que, neste mundo, pode-se não ser audacioso? Pensa que se pode ser tão pamonha?

Ela esboçou um sorriso azedo e eu li em seu rosto: “Pode-se, sim!”.

Pedi-lhe perdão por aquela lição cruel e dei-lhe, para seu grande espanto, os oitenta rublos. Pôs-se a balbuciar merci com timidez e saiu do escritório. Acompanhei-a com o olhar e pensei:

– É fácil ser forte neste mundo!

*

O codificador do Espiritismo pergunta aos Espíritos: — “Por que, neste mundo, os maus exercem geralmente maior influência sobre os bons?” A resposta que deram aplica-se perfeitamente ao que se acabou de ler: – “Pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos. Estes, quando quiserem, assumirão a preponderância”.

Nessa história pode-se tomar a ingênua e subserviente governanta como representando o “bem”. E o patrão, embora sem maldade, fez-se de “mau” enquanto durou a farsa.

Sendo o homem agente do seu destino, dele depende tomar iniciativas que abrandem os seus males ou os evite. Como não pode esperar que o bem surja do nada, precisará trabalhar para a transformação que deseja.

Espera-se que o homem bom assuma o seu papel e aja conforme sua consciência amadurecida; que lute contra o orgulho, o egoísmo e a ambição, abolindo as necessidades artificiais que criou para si mesmo; que denuncie as injustiças, procurando ser mais justo; que desmascare o preconceito para que todos se sintam iguais; que não idealize, apenas, aquilo que julga certo, mas dê o exemplo prático do que lhe cabe fazer. Só assim os homens maus irão recuando, até serem vencidos pelos bons.

Além disso, é preciso contagiar pelo otimismo, pela esperança e fé no futuro!

Essa timidez a que aludiram os Espíritos pode ser interpretada como a falta de ações efetivas no bem. Os bons, “quando quiserem, assumirão a preponderância”, disseram eles. Parece que se trata, então, de querer e assumir.

 

¹Tchekhov, Anton. “A Dama do Cachorrinho”, 2ª edição, (conto Pamonha), Editora Max Limonad Ltda.

² Palavra francesa que significa “obrigado”.



 


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