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Crônicas e Artigos

Ano 10 - N° 465 - 15 de Maio de 2016

CLAUDIA GELERNTER
claudiagelernter@icloud.com
Vinhedo, SP (Brasil)

 


Ogivas nucleares, política brasileira e a Paz em nós

"Quanto mais se recorre à violência, mais longe se está da Verdade. Pois lutando contra o inimigo que se procura, no exterior, negligencia-se
o inimigo interior." –
Mahatma Gandhi.

 
Ontem decidimos rever o aclamado filme sobre a vida de Gandhi. A postura do Mahatma me inspira, desde sempre. 

Em determinado trecho, o líder hindu diz que nos momentos em que se via preocupado, buscava relembrar que o amor e a verdade sempre triunfaram, ao longo da história. Que mesmo os grandes impérios, assim como homens de poder, ligados ao crime, ao mal, um dia caíram, pois nada é mais sagrado e permanente que o amor, e que devemos trabalhar sob os princípios da não violência, sendo a mudança que desejamos ver no mundo.  

Realmente é preciso desenvolver este olhar mais amplo, real, confiante. Aqueles que observam um único recorte da realidade tendem à desistência, ao desespero.  

E é com este espírito que despertei hoje, apesar da delicada realidade que nos envolve, com ameaças e vivências de guerras, seja entre povos, pessoas ou um único ego (contra ele mesmo).  

É preciso força e clareza de pensamento para não cairmos nas tentações do nosso ego transitório. Gandhi sabia disso. 

Desde ódios partidários (vide a situação brasileira) até ataques mortais pelas ruas das cidades, o que vemos são expressões da ignorância sobre a real natureza de nossas almas. Como nos ensinou Jesus, somos deuses e devemos fazer brilhar a nossa Luz, porém acreditamo-nos em trevas (interiores e exteriores). E como Deus não viola nossa forma de pensar, continuamos alheios a esta verdade libertadora. 

Mesmo a relativa paz entre países está assentada em ameaças bélicas. E os números não são animadores, realmente. 

Segundo estimativas, existem, hoje, 17.000 ogivas nucleares nas mãos de diversos países, dentre eles, a Rússia, EUA, Israel, Coreia do Norte, França, China, Índia e Reino Unido. O Paquistão tem um número de ogivas superior ao de Israel (entre 90 e 110 ogivas). Se duas destas bombas - uma lançada em Hiroshima e outra em Nagasaki - fizeram tantos estragos, e com uma tecnologia muito inferior, a pergunta é: - Quantas vezes poderíamos destruir a Terra, hoje? 

E se a questão é a paz assentada no poder bélico, podemos perguntar: Qual o limite confiável entre a sanidade e a loucura de um governo, de um ditador, ou mesmo de um povo? Temos como exemplo a Alemanha nazista que, sob influência quase hipnótica, acreditou na supremacia de sua "raça", reduzindo a pó milhões de seres humanos, em tempos não tão distantes. Estudiosos da Segunda Grande Guerra alertaram que o Japão já estaria tecnicamente vencido, sendo desnecessária a utilização das bombas na população civil. Um dos críticos proeminentes dos bombardeios era Albert Einstein, aliás. 

Leo Szilard, um cientista que tinha um papel fundamental no desenvolvimento da bomba atômica, comentou: “Se tivessem sido os alemães a lançar bombas atômicas sobre cidades ao invés de nós, teríamos considerado esse lançamento como um crime de guerra, e sentenciado à morte e enforcado os alemães considerados culpados desse crime no Tribunal de Nuremberg”. 

Isso nos faz imaginar que não existem mocinhos ou bandidos em se tratando de governos, mas jogos de interesses que podem desaguar em atos de loucura. 

Mesmo após a "amostra medonha", no Japão de 1945 (140 mil mortos em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, sendo algumas estimativas consideravelmente mais elevadas quando são contabilizadas as mortes posteriores devido à exposição à radiação), produzimos armamentos cada vez mais letais.  

Tempos atrás nossos olhares se voltaram para o Irã e Israel os então “bola da vez”, na estressante discussão “ataco se fizerem bombas/ o enriquecimento é para fins pacíficos”. Depois ficamos tentando nos equilibrar no contexto "Coreias", sem saber no que isso tudo iria dar: se iria prevalecer o bom senso ou a loucura, e se, no caso de surto norte-coreano, teríamos algo a fazer além de socorrer vítimas e chorar pelos mortos e sofredores. 

Caberia ainda outra pergunta: Depois de Kim Jong-um qual será o próximo líder a desafiar a “paz”? Será algum Aiatolá enceguecido ou, quem sabe, um radical de direita, tomado de fúria? Ou, ainda, algum ‘nobre’ país ocidental, com suas necessidades econômicas vigentes, obesamente mantidas em seu berço esplêndido? 

Enquanto isso, abaixo do equador, digito estas linhas acreditando numa única saída para o que construímos até aqui: trabalharmos como pequenas formigas, em prol da paz. E sim, somos capazes de mudar tudo. 

O único caminho para revertermos este crítico estado das coisas é o da conscientização, da cooperação, do amor. Conceitos trazidos há tantos milênios, hoje ainda tão necessários. Lições de Gandhi, Jesus, Buda e muitos outros que nos recomendaram a não violência como postura de vida, em todos os lugares, sempre. 

Cabe a nós não permitirmos que o mundo se transforme em um grande cogumelo de fumaça e destruição. Também cabe a nós não realizarmos a profecia da hecatombe individual ou em nossos lares, com nossos gritos ou pensamentos agressivos. Do micro ao macro vamos dando nossa contribuição, seja nesta ou naquela direção.  

Sim, eu sei que não podemos decidir pela ação dos líderes, mas podemos decidir por nossas próprias ações, trazendo a paz em nós (a mais difícil de se obter, aliás), no lar, no trânsito, nos templos, onde estivermos. Essa á a nossa parte. A fundamental, eu diria. Conhecermo-nos para fazer brilhar a paz que já habita nossas almas, momentaneamente obstruída por aprendizagens equivocadas, ao longo dos milênios.  

Podemos decidir por desligar a TV ruidosa, bloquear um assunto menos edificante, acalmar os ânimos dos desorientados... 

Uma prece, um olhar, um abraço, um agradecimento...

Optando por caminhos mais tranquilos, a paz nasce de pequenas decisões, diárias, no cotidiano.  

E podemos ajudar outros caminhantes da Terra nesta conscientização, nesta trilha pelo empoderamento. 

Já diziam os anarquistas saltimbancos, na peça escrita por Chico Buarque de Holanda, que: “Todos juntos somos fortes/ Somos flecha e somos arco / Todos nós no mesmo barco/ Não há nada pra temer”. 

E, como que a alertar para uma grande verdade, em seus versos considerados subversivos, arrematou: 

“E no mundo dizem que são tantos Saltimbancos como somos nós!”. 

         

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita