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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 350 - 16 de Fevereiro de 2014

MARCUS DE MARIO
marcusdemario@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 
 

Quem é Jesus


O ano de 325 é especialmente importante para os cristãos, pois nele ocorreu o Concílio de Niceia, que oficialmente instituiu o Catolicismo ou Igreja Católica, que hoje é seguida por mais da metade dos cristãos espalhados pelo mundo, pois existem outras Igrejas, como a ortodoxa, a anglicana e outras que igualmente reúnem os cristãos (inclusive o Espiritismo). Até esse ano os cristãos não possuíam nenhuma estrutura oficial que os representasse, mas apenas a comunhão das diversas igrejas com troca de correspondência e visitação de quando em vez entre seus representantes. Isso implicou, com o passar do tempo, que uma certa estrutura acabasse surgindo. Antes do Concílio, os cristãos eram organizados sob três patriarcas, os bispos de Antioquia, de jurisdição sobre a Síria, a Ásia Menor e a Grécia; Alexandria, de jurisdição sobre o Egito, e Roma, de jurisdição sobre o Ocidente. Posteriormente os bispos de Constantinopla e Jerusalém foram adicionados aos patriarcas por razões administrativas. Não era uma hierarquia formal, mas os patriarcas (ou bispos) dessas localidades agiam no sentido de ajudar a resolver conflitos.

No final do segundo século algumas divergências de interpretação quanto aos escritos sagrados começaram a ganhar terreno e a separar os pensadores cristãos. Uma dessas divergências foi fundamental para a convocação do Concílio de Niceia: a divindade ou não de Jesus. Para Alexandre, bispo de Alexandria, Jesus seria Deus, não poderia ser simplesmente um homem, filho do Pai Eterno. Entretanto, para Arrius, que pertencia a outra igreja, Jesus era simplesmente o filho de Deus, como todos os demais seres humanos. A decisão do Concílio foi que a ideia de Arrius era uma heresia, e ele foi banido da Igreja Católica, formada então nesse conclave.

Lembremos que o mundo ainda estava sob domínio do Império Romano e que, apesar das intensas perseguições e martírios impostos aos cristãos, os seguidores de Jesus não paravam de crescer e contaminavam os próprios cidadãos romanos. Interessado em apaziguar o império e terminar com as disputas religiosas, o imperador Constantino ajudou a articular o Concílio de Niceia, levando os bispos a criarem uma igreja que, na verdade, mesclava o cristianismo com o paganismo, surgindo então a teologia católica, com a santíssima trindade, a divinização de Jesus, o dogma do mistério divino, os sacramentos, os rituais como a missa e assim por diante. Se, por um lado, tivemos o fato positivo do fim das perseguições aos cristãos, de outro lado tivemos a deturpação da mensagem de Jesus, que por séculos ficaria quase irreconhecível. 

O pensamento espírita sobre Jesus

Para o Espiritismo todos somos criados por Deus, ou seja, Ele é o incriado, e todos os demais são suas criaturas, inclusive Jesus, que, como qualquer um de nós, foi criado como Espírito, simples e ignorante, com o potencial divino em germe para, através da lei de evolução, chegar a seu destino, que é comum a todos: a perfeição. Portanto, Jesus não se confunde com Deus, é sua criatura. Como Espírito, Jesus é imortal, exatamente como todos os homens, pois todos somos filhos de Deus e todos chegaremos à perfeição.

Quando Jesus esteve entre nós, isso há mais de dois mil anos, ele já envergava o status de Espírito perfeito, ou seja, através das reencarnações, realizadas em outros mundos por este universo, ele já havia alcançado o esplendor do amor e da sabedoria. Aqui na Terra, Jesus teve apenas essa encarnação, quando realizou a missão de trazer para a humanidade os conceitos do Evangelho, que exemplificou em espírito e verdade, legando aos homens o “amai-vos uns aos outros” e “fazei ao outro somente o que gostaríeis que o outro vos fizesse”.

Segundo informações espirituais trazidas através de diversos médiuns em tempos e lugares diferentes, já nesse tempo Jesus era o governador planetário, tendo gerenciado a formação do nosso mundo, ou seja, ele foi, por assim dizer, cocriador, mas sem se confundir com Deus, que reverenciava como Pai, como Senhor do céu e da terra.

Quando Jesus informou que “ele e o Pai eram um”, quis significar a perfeita comunhão de pensamento e de ideal com Deus, por isso ele era o messias que havia de vir, conforme constava das antigas profecias. Para diferençar a si mesmo de Deus, afiançou que bom somente o Pai Celestial, porque ele somente poderia receber o título de Mestre, por ser um Espírito perfeito.

Para a Doutrina Espírita não há confusão nem mistério. Deus é o Criador de tudo o que existe no universo, a inteligência suprema, e Jesus é sua criatura, seu filho, um Espírito criado simples e ignorante que, com seus esforços e experiências reencarnatórias (realizadas em outros mundos), alcançou a perfeição. Portanto, Jesus não está distante dos homens, todos somos Espíritos imortais e todos, um dia, alcançaremos a perfeição. Isso não minimiza Jesus, não o torna menos importante, nem fragmenta sua comunhão com Deus, pelo contrário, o exalta e engrandece sua missão.

A literatura espírita sobre Jesus

Da valiosa literatura espírita, temos que destacar alguns livros de leitura e meditação obrigatórias. Iniciemos pela trilogia romanceada de autoria do Espírito Emmanuel, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, constituída pelas obras Há Dois Mil Anos, Cinquenta Anos Depois  e Ave, Cristo!. Narrando os primórdios do cristianismo, e tendo no primeiro volume a presença de Jesus, compõem um manancial de aprendizados históricos e evangélicos de grande importância, impactando o leitor com narrativas repletas de emoção.

Ainda da lavra mediúnica de Francisco Cândido Xavier, o tão conhecido Chico Xavier, temos igualmente que destacar o livro Boa Nova, autoria espiritual de Humberto de Campos, onde o autor reúne conteúdos sobre as lições de Jesus extraídos dos arquivos do mundo espiritual, fazendo revelações que impressionam, e levando o leitor a novas descobertas desse tesouro infindável que é o Evangelho.

Da psicografia de Divaldo Pereira Franco, não podemos deixar de trazer a série de livros escritos pelo Espírito Amélia Rodrigues, com início em Primícias do Reino, trazendo Jesus para bem perto de todos nós, quando temos oportunidade de estar naqueles dias, assistindo aos fatos e lições imorredouras.

De autores espíritas encarnados vamos fazer três destaques: Hermínio Miranda com seu belo trabalho Cristianismo, a Mensagem Esquecida; Herculano Pires, com sua obra Revisão do Cristianismo, e Pedro de Camargo com seus livros Em Torno do Mestre e Na Seara do Mestre.

E não poderíamos deixar de citar duas obras imprescindíveis para estudo, ambas de Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo, onde encontramos estudo sobre os ensinos morais de Jesus, e A Gênese, onde temos estudo sobre os milagres e predições do Evangelho. Nesses livros o codificador do Espiritismo comparece com estudos e reflexões da mais alta importância, sempre com aquele raciocínio agudo e lógico do mestre francês.

Poderíamos trazer aqui outros autores, encarnados e desencarnados, mas não temos a pretensão de listar tudo o que existe sobre Jesus na literatura espírita. Apenas indicamos o que nos parece imprescindível à leitura, deixando o leitor à vontade para conhecer mais.

Últimas palavras

Jesus é o guia e modelo da humanidade, o Espírito mais perfeito que Deus concedeu ao homem conhecer. Segui-lo é o nosso dever. Manter seus ensinos como ele nos legou e praticá-los em todas as situações da vida é o que devemos fazer. Não esqueçamos: Jesus é o caminho, a verdade e a vida, e somente através dele estaremos com Deus, nosso Pai.


Marcus De Mario é Educador, Escritor, Palestrante, Colaborador da Rádio Rio de Janeiro e da Associação Espírita Lar de Lola. Diretor do Instituto Brasileiro de Educação Moral.

 


 

 


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