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por Marcus De Mario

 

O amor e a educação


É possível desenvolver a capacidade de amar através da educação? Essa é a pergunta que se nos impõe diante do enunciado de Jesus: amai-vos uns aos outros. E fazemos esse questionamento motivados pela assertiva dos Espíritos que o egoísmo predomina entre os homens, e sabemos que o egoísta não consegue fazer a caridade, não ama aos outros. Terá a educação o poder de despertar as fibras íntimas da alma para que o amor ao próximo possa ser uma realidade? Quando se trata da educação cognitiva, ou intelectual, na aquisição de conhecimentos e preparação técnico-profissional, é sabido que a educação desenvolve a mente do educando e lhe proporciona a aquisição de mais e mais conhecimentos, ou seja, é possível desenvolver a inteligência, e de fato é o que acontece, por meio da educação. Agora, isso também poderá ocorrer em se tratando de sentimento, de virtudes, qual é o amor?

Segundo o Espiritismo, todos somos Espíritos criados por Deus e, no ato da criação, recebemos em germe, em potência, tanto a inteligência quanto o sentimento, ou seja, são potenciais divinos que, paulatinamente, vamos desenvolvendo. Nesse ensino está implícito que o sentimento pode ser desenvolvido, tanto quanto a inteligência. Entendemos que esse desenvolvimento se dá através das diversas encarnações a que o Espírito é submetido, quando passa por experiências que lhe facultam desenvolver-se, até o ponto em que seu aperfeiçoamento o torna Espírito Puro. O que perguntamos é se numa mesma encarnação, por força do processo da educação, o Espírito pode desenvolver o sentimento do amor, independente das injunções reencarnatórias.

Para elucidarmos essa questão com o apoio dos princípios formadores da Doutrina Espírita, precisamos entender a visão espírita sobre o amor e sobre a educação. Para o Espiritismo o amor é o maior dos sentimentos, ou seja, é a maior das virtudes, entre elas a paciência, a solidariedade, a tolerância, a fraternidade, a indulgência, a caridade e assim por diante, mas a maior, a mais sublime das virtudes é o amor. Deus é amor e é por amor que tudo ele criou, e tudo vibra no seu amor. Não é por outra razão que Jesus, nosso Mestre, corroborou o amar a Deus acima de todas as coisas, como está escrito no primeiro mandamento dos Dez Mandamentos recebidos mediunicamente por Moisés, e sancionou o amar ao próximo como a si mesmo, como segundo grande mandamento da lei divina.

Sendo o amor uma virtude presente em germe no Espírito desde o ato divino de sua criação, a razão nos diz que o amor é sim suscetível de desenvolvimento, como qualquer outra virtude. Resta-nos entender a educação, e o entendimento espírita está presente em O Livro dos Espíritos, quando vemos em seu estudo que o Espiritismo considera a educação: 1. como processo de combate às más tendências do Espírito; 2. criação de hábitos; 3. direcionamento da inteligência para o bem; 4. desenvolvimento harmônico, equilibrado, da inteligência e do sentimento. Tanto para os Espíritos Superiores quanto para Allan Kardec, trata-se da aplicação da educação moral, processo de despertamento e desenvolvimento das potências do Espírito.

Aperfeiçoar-se, transcendendo a matéria, é o que devemos fazer, mas isso somente pode ocorrer se adentrarmos ao campo da espiritualidade, ou seja, se nos considerarmos uma alma, um Espírito encarnado, preexistente e sobrevivente, como estuda e comprova o Espiritismo através da pluralidade das existências e a continuidade da vida após a morte, a chamada vida futura. Libertar-se do corpo físico é a senha evolutiva, mas sem desprezo ao mesmo, que é necessário para nossa existência e nela cumprirmos os desígnios de Deus. Libertar-se no sentido de não se deixar escravizar pelas paixões, pelo egoísmo, pela vaidade, pela ambição, pelo sensualismo, pela inveja, pelo ódio, enfim, não se deixar escravizar tanto pelos vícios físicos como pelos vícios morais.

A libertação do corpo pela plenitude do Espírito é um processo educacional, razão pela qual o Espiritismo conclama os indivíduos para o autoconhecimento e a autoeducação. No lugar do egoísmo, a caridade. No lugar do orgulho, a humildade. E a educação moral é o antídoto a essas duas chagas do egoísmo e do orgulho, porque as ataca na raiz. A educação moral não atua sobre os efeitos, mas sim sobre as causas. É preventiva, não remedia.

A caridade é a ação do amor, por isso na educação moral, que se reveste da plenitude da Educação do Espírito, a inteligência é utilizada como suporte para o desenvolvimento do sentimento, pois fé inabalável é somente aquela que encara a razão, face a face, em qualquer época da humanidade, espancando de vez o místico, o sobrenatural, o dogmático.

Com o Espiritismo não temos dúvida em responder afirmativamente à pergunta: É possível desenvolver a capacidade de amar através da educação? Sim, é possível, e esse é o trabalho urgente que precisamos realizar tanto na família quanto na escola.


Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas espíritas na internet; possui 40 livros publicados.


 

 

     
     

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