Entrevista

por Orson Peter Carrara

Da busca que redunda em trabalho: uma experiência de uma tarefeira espírita

Natural de Porto Alegre (RS), onde também reside, Maria Lúcia Garbini Gonçalves (foto) tem formação em Letras e trabalhou durante 35 anos como professora de inglês, tendo também feito especialização em tradução, estando atualmente aposentada. Vincula-se ao Grupo Espírita Francisco Xavier, de sua cidade, onde atua como colaboradora. Atuante também na equipe da Agenda Espírita Brasil (que mantém várias plataformas digitais de divulgação espírita), entrevistamo-la sobre sua vivência espírita:


Como se tornou espírita?

Morei 17 anos em Joinville e fazia Yoga numa casa onde ao chegar no nível avançado estudávamos livros como O Poder do AgoraOs Upanishads, que são a parte final dos Vedas, e interessava-me muito por assuntos espirituais, lia muito sobre espiritualidade. Até um dia que entrei numa livraria e vi um balaio de ofertas de livros e chamou-me a atenção O Livro dos Médiuns, que comprei, mas deixei na prateleira sem ler, pois achei difícil de entender, até que comecei a me interessar em assistir a palestras num centro espírita de lá e soube que em outra instituição estudavam O Livro dos Espíritos e comecei a assistir ao estudo. Quando voltei a Porto Alegre, perto de aposentar-me resolvi dedicar-me à espiritualidade e procurei o Grupo Espírita Francisco Xavier, onde comecei a estudar a Doutrina. Antes de tudo isso, porém, sempre ouvia falar sobre o Espiritismo, tinha uma tia espírita casada com um espírita também e sempre via meu pai, bem materialista, discutindo com eles. Eu ouvia falar de Chico Xavier e Divaldo Franco e sempre acreditei em espíritos, mas morria de medo.

Que atividade mais lhe agrada da prática espírita?

É difícil dizer qual porque gosto de várias práticas igualmente. Gosto muito de trabalhar no magnetismo e no atendimento fraterno, porque é muito lindo ver como as pessoas saem bem. Gosto muito de trabalhar como evangelizadora, é um trabalho abençoado no qual aprendemos muitíssimo. Gosto de facilitar o Estudo da Doutrina também, porque aprendo muito também.

O que mais lhe chama a atenção nos postulados do Espiritismo?

São várias coisas que me chamam a atenção. A ideia de que somos seres imortais, que as atribulações são passageiras e que estamos progredindo. É consolador saber que nossos entes queridos estão perto de nós, que pertencemos ao mundo espiritual e que Jesus está muito mais perto de nós do que imaginamos. A lógica de Kardec é fascinante e estimulante. É fascinante saber que existem muitos mundos habitados. Outra característica notável do Espiritismo é o fato de aceitar adeptos de outras denominações religiosas. Isso é o máximo!

Qual a sua experiência com as palestras?

Eu faço palestras para o meu Grupo somente, mas já apresentei duas para a Agenda Espírita Brasil, nas quartas-feiras. Sei que é o começo de muitas e sinto o chamado para essa atividade.

Como ocorreu seu envolvimento com as iniciativas da AEB - Agenda Espírita Brasil?

Eu já estava trabalhando no Grupo Espírita, mas queria muito ser voluntária em outra entidade, então busquei na internet e vi que a AEB procurava voluntários. Em seguida falei com Márcio Souza e acabei no Conselho Editorial, porque eu fiz Letras e ele achou que eu poderia ajudá-lo nesse setor. Eu não imaginava que iria dar tão certo. Eu lia os textos, focando no Português e aprendendo muito sobre a Doutrina Espírita. Eu pegava livros da biblioteca do meu grupo, e um dia comecei a ler o livro A Casa do Escritor, do espírito Patrícia. E quando li uma das obras de André Luiz, Os Mensageiros, em que ele falava sobre o ‘sopro curador’, fiquei tão impressionada que senti uma vontade forte de escrever sobre isso, mas deixei o texto arquivado, quieto, no meu PC. Um belo dia, Francisco Rebouças, numa conversa no grupo de whats do Conselho Editorial, perguntou-me se eu nunca me interessei em escrever textos. Tive aí de confessar que tinha de fato escrito um. Dali em diante tenho escrito textos. Desse jeito, Francisco também fez a suave pressão para que eu fizesse uma palestra nas quartas. Por isso até o apelidei de meu padrinho.

Como você percebe esse esforço coletivo, envolvendo tarefeiros espíritas de todo o país, valendo-se dos portais daquela iniciativa?

A Agenda Espírita Brasil foi o meio de eu chegar mais perto do Espiritismo fora de Porto Alegre, e especialmente depois da pandemia parece que isso acentuou-se com as lives. Acho de extrema importância a união no movimento espírita.

Você sente que o movimento espírita - inclusive nos esforços virtuais - precisa aprimorar-se para alcançar mais êxito em suas iniciativas e tarefas?

Talvez envolver mais os jovens. Porque o movimento precisa continuar. A arte é de extrema importância, não sei como se poderia implementar no meio virtual, mas há necessidade de mostrar mais o Espiritismo aos jovens.

Para o leitor que nos lê, que tipo de contribuição poderia oferecer para fortalecer esse trabalho de expansão doutrinária, virtualmente?

Nos últimos anos nota-se que os colunistas diminuíram o tamanho dos textos para a AEB, pelo menos, e acho que é positivo, já que as pessoas querem as coisas rápidas e objetivas hoje, mas a variedade é interessante, para atender diferentes tipos de leitores, pois temos também os que apreciam textos longos. Assim como o estilo, ter também textos com vocabulário ao alcance de pessoas que não leem muito, mais simples. Concordo com Joanna de Ângelis que disse que precisamos nos acostumar com linguagens mais rebuscadas, mas por que não ter todos os tipos para alcançar mais gente, os jovens, por exemplo? No nosso Grupo o público que assiste às palestras às vezes reclama quando o palestrante usa vocabulário muito rebuscado. A candeia não pode estar embaixo do alqueire.

Dos eventos exibidos virtualmente, especialmente durante a pandemia e que continua com as lives, o que mais lhe chamou atenção?

Lendo as conversas nos chats, vê-se que temos pessoas de outras denominações religiosas que começaram a assistir às palestras espíritas e muitas aderiram e até começaram a estudar o Espiritismo. Eu acompanhei todo o estudo de O Evangelho Segundo o Espiritismo on-line que a FEB apresentou, com Carlos Campetti e Lusiane Bahia, e muitas pessoas que assistiam eram de outras religiões e se encantaram com as lições. Quando a pessoa percebe a lógica e a riqueza da Doutrina, sem querer impor nada, elas acabam aderindo.

De suas lembranças da própria vivência espírita, o que sobressai?

Tudo o que estudei e fiz em minha vida parece que foi para me trazer ao Espiritismo. E as coincidências e sincronicidades são incontestáveis de que o caminho é a reforma íntima, é crescer sempre.

Algo mais a acrescentar?

A primeira sincronicidade que aconteceu em minha vida foi muito significativa. Eu tinha uns 3 anos de idade e minha avó tinha uma casa de veraneio num bairro mais afastado do centro de Porto Alegre, que ficava na beira do lago Guaíba, que chamamos erroneamente de rio Guaíba. Estávamos com toda a família reunida para o famoso churrasco de domingo. Eu não me lembro de nada, mas contam que peguei um balde para pegar água no rio sem ninguém perceber e desci a escadinha que dava no rio e caí e me afoguei. Minha avó foi varrer a as folhas da mureta onde tinha a escadinha para o rio, havia um lindo taquaral que circundava a beira do rio entre a mureta e o terreno da casa, e me viu boiando no rio inconsciente. Ela entrou em pânico gritando e um irmão meu saltou na água e me pegou. Meu pai tinha lido um tempo atrás na Seleções como fazer respiração boca a boca em casos de afogamento e aplicou a técnica em mim. Levei um tempo para voltar, que a família dizia ser interminável, mas expeli a água e fui salva. Quando a ambulância chegou, eles disseram que fui salva por minutos. Meu pai me deu a vida duas vezes, tenho muita gratidão a ele, e que ele receba sempre o meu amor lá no plano espiritual.

Suas palavras finais.

Sou grata pela vida e por todas as coisas que aprendi sobre tudo e principalmente sobre mim mesma.

 
 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita