Correio mediúnico

Espírito: Luiz Antônio Corrêa de Lacerda

Renascimento espiritual


Meus amigos, meus irmãos, Jesus nos abençoe e ilumine.

Congregados à luz da Clemência Divina, vivemos confortador período de luz renovadora, nesta casa de fé vibrante e pura, consagrada ao espiritualismo com o Divino Mestre. Refiro-me, em nome de vários companheiros, às novas edificações que os aprendizes do Evangelho em Leopoldina vão concretizando com a inteligência associada ao coração.

As sementes do cristianismo jamais perecem. Muita vez, atravessam ciclos seculares no caminho dos povos, parecendo estagnadas e mortas. Demoram, em muitas circunstâncias, aparentemente raquíticas e anônimas, na senda evolutiva das coletividades, tanto quanto, por vezes, na esfera dos indivíduos. Surge, porém, o instante sublime do renascimento espiritual e a planta celeste germina e cresce na Terra, espalhando flores de esperança e produzindo frutos de paz e amor santificantes.

Este — o nosso caso. Quem viveu o entusiasmo dos primeiros dias continua convosco no trabalho reconstrutivo em bases mais sólidas, pugnando pela materialização mais extensa de nossos ideais. Em outro tempo, seduzia-nos o fenômeno que imperava em nossos círculos de crença e discussão filosófica. Pretendíamos talvez atingir objetivos superiores, mergulhados nos ângulos inferiores do serviço.

Nossas investigações visitavam o campo externo e, à frente do idealismo regenerador que o Espiritismo nos impunha, gastávamos o tempo nas ilações acadêmicas e nas preocupações demagógicas de ordem doutrinária e a hora passou, surpreendendo-nos distraídos. O Plano Espiritual aguardou-nos com a verdade imutável. A vida real não se modificava para favorecer-nos com a graça a cuja obtenção não fizéramos jus.

Entendemos, então, que a fé abraçada não se constituirá de ornamentos verbalísticos ou de meros títulos pessoais, garantindo-nos ingresso nas assembleias da Espiritualidade elevada. A Doutrina — reconhecemos — é acima de tudo campo de trabalho e escola dos sentimentos.

Multiplicamos esforços e dilatamos ações no sentido de acordar os amigos que permaneciam a distância. Como aconteceu ao Rico da Parábola, nós que fôramos abastados senhores do intelectualismo, suplicamos, em vão, a oportunidade de voltar imediatamente à nossa família no ideal, de modo a despertar-vos. Outros companheiros de experiência humana, classificados entre nós em dias recuados à conta de mendigos da inteligência, banqueteavam-se à plena luz, mas, embora nosso desejo de voltar precipitadamente à instituição doméstica, a fim de anunciar-vos diferentes novas, foi necessário construir recursos e merecer a ocasião de falar-vos mais diretamente.

De alguns poucos anos a esta parte, nossa meta foi abraçada. O centro abençoado de nossos estudos retornou ao caminho de verdadeiro amor ao próximo com o Mestre dos Mestres. Despertos e compreensivos, nossos companheiros abriram a consciência ao influxo da luz divina. Reabilitamos o nosso roteiro de espiritualidade e aqui estamos, meus irmãos, para reafirmar-vos que Espiritismo sem Evangelho sentido e vivido, no santuário íntimo de cada um, pode apresentar admirável movimento de ideias, todavia sem alicerces de renovação do espírito para as realidades da vida.

Mais que nunca, é indispensável atender à nossa fé, através de prismas diferentes. Cessem as indagações despropositadas, sejam atenuados os conflitos da interpretação, diminuam-se as manifestações puramente intelectualistas sem obras sérias da crença consoladora em nós mesmos e incentive-se, acima de tudo, a iluminação de cada um de nós ao sol imperecível da Revelação Divina.

Com isto, não pretendemos extinguir o manancial da inteligência. Sabedoria e amor são as duas asas da alma para o voo supremo às Esferas Supremas da Divindade. Decretar menosprezo à ciência fora imperdoável loucura. Entretanto, urge reconhecer que o nosso campo é tão profundamente rico de dádivas espirituais que o perigo da fascinação e da cegueira assedia a todos aqueles que empreendem a jornada para a Humanidade Redimida.

Convenhamos, assim, que temos agora nossos passos acertados. Caminhai, meus amigos, sob o estandarte de fraternidade, convictos de que Jesus lança sobre nós a sua bênção edificante. Não vos descentralizeis, em face da nossa necessidade de concentração em Cristo Jesus. Provavelmente, na atualidade, é impossível conhecerdes tudo…

Sois, como acontece a nós, caminheiros da Vida Eterna, trabalhadores do Verbo, Infinito em Amor e Sabedoria, no campo finito de nossas limitações. Dia virá, porém, meus irmãos, em que penetrareis o passado e os imperativos que nos congregam agora, e juntos marcharemos para o Senhor, entoando novos cânticos de esperança.

Até lá, meus amigos, prossigamos unidos na fé e na solidariedade, amando-nos uns aos outros e estendendo nossa dedicação à extensa família humana que o Pai nos conferiu. Não vos firam espinhos e pedras da estrada. Mais iluminados, sereis mais fortes que os predecessores na senda. Um dia, lançamos a boa semente e, esquecendo as linhas fundamentais da obra eterna, não reparamos que o cipoal da ilusão nos asfixiava o trabalho…

Vós, no entanto, sustentados pela luz do Verbo Celestial, recomeçastes a construção do templo de nossa fé e, amparados uns aos outros, consagrá-lo-emos à glória do Eterno no recanto planetário em que tivemos o júbilo de acordar para Deus. Que Ele nos ampare a todos, auxiliando-nos a servir em seu nome até a vitória final.


Mensagem dirigida a um grupo de amigos, no Centro Espírita Amor ao Próximo, em sessão pública no dia 1º de julho de 1947, em Leopoldina (MG), e incluída no livro Abençoa sempre, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier.

 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita