Brasil
por Thiago Bernardes

Ano 17 - N° 859 - 28 de Janeiro de 2024

 

86 anos atrás Cairbar Schutel retornava à pátria espiritual

Daqui a dois dias, em 30 de janeiro, fará 86 anos que Cairbar Schutel –

cognominado o Espírita número 1 do Brasil – retornou à pátria espiritual. Fundador do jornal O Clarim e da Revista Internacional de Espiritismo, Cairbar completaria poucos meses depois, em setembro de 1938, 70 anos de idade.

Natural do Rio de Janeiro (RJ), onde nasceu no dia 22 de setembro de 1868,
Cairbar foi um divulgador espírita em diferentes áreas, como editor, escritor, jornalista e palestrante.

Profissionalmente, foi farmacêutico e teve breve atuação no campo político na cidade de Matão (SP), tendo sido fundamental em sua elevação de povoado para município, do qual foi seu primeiro intendente, cargo equivalente ao atual prefeito, que exerceu de março a outubro de 1899 e, depois, de 18 de agosto a 15 de outubro de 1900.

Sua atuação nas lides espíritas, cuja importância é conhecida de todos os que militam no movimento espírita, é que levou a que fosse cognominado o Espírita número 1 do Brasil, uma homenagem simbólica que o coloca ao lado dos grandes vultos espíritas do Brasil, que se notabilizaram pelo trabalho que realizaram nas lides espíritas, como Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Chico Xavier, Divaldo Franco, Leopoldo Machado, Herculano Pires, Deolindo Amorim, Batuíra e tantos outros.

Neste texto objetivamos, no entanto, focalizar a estatura moral e intelectual de Cairbar, tendo como ponto de referência a resposta dada por Emmanuel à questão 204 de seu livro O Consolador, em que o conhecido instrutor espiritual diz que o sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará para a perfeição infinita, os quais são entre nós classificados  como adiantamento moral e adiantamento intelectual, ambos imprescindíveis ao progresso.

Como Cairbar Schutel se enquadra na conceituação citada?

Vejamos nas linhas seguintes a resposta a esta questão.

 

A estatura moral de Cairbar

No tocante à área do sentimento ou do adiantamento moral ninguém que acompanha o Movimento Espírita desconhece a estatura moral de Cairbar Schutel, o homem cordial, o amigo dos pobres e dos enfermos, aos quais curava não somente as mazelas do corpo, mas as enfermidades da alma.

Amante da natureza, é conhecido o amor que Cairbar nutria pelos animais.

Nhonhô, o gato que fora sacrificado por Cairbar após uma briga, olhava-o atentamente quando Cairbar escrevia.

Cabrito, seu último cavalo, aposentado por Cairbar quando comprou seu primeiro carro, recebia tanto carinho do dono que, momentos antes de morrer, veio despedir-se do protetor e amigo.

Os cães Rolf e Leão, dois espécimes dinamarqueses, sentavam-se à mesa e eram servidos em primeiro lugar por seu dono. Rolf, aliás, adorava pastéis e ovos cozidos, embora sua preferência fosse mesmo sorvete. E gostava também de passear de carro nas visitas que Cairbar fazia aos doentes, ocasião em que, sentado no banco traseiro, parecia um fidalgo.

Na assistência aos obsidiados e aos enfermos de toda ordem que chegavam a Matão, o zelo de Cairbar chegava ao extremo de levá-los para sua própria casa, onde construíra alguns quartos nos fundos do terreno, exatamente para poder acolhê-los e assisti-los.

 

O estudioso e divulgador espírita

No tocante à área da sabedoria ou do adiantamento intelectual existe uma faceta da obra de Cairbar que tem sido pouco enfatizada pelos biógrafos.

Evidentemente, poucos ignoram o trabalho do Cairbar-jornalista, fundador d’O Clarim e da Revista Internacional de Espiritismo e pioneiro da divulgação espírita por intermédio do rádio; do Cairbar-orador e polemista vibrante; do Cairbar-escritor, autor de 17 livros dentre os quais lembramos as obras “Parábolas e Ensinos de Jesus”, “Vida e Atos dos Apóstolos”, “O Espírito do Cristianismo”, “Espiritismo para as crianças” e tantos outros indispensáveis aos que pretendem ter uma sólida formação espírita.

Pouco se fala, porém, da profundidade e mesmo do pioneirismo com que Cairbar examinou vários assuntos relacionados com a prática da mediunidade e as condições da vida no Outro Mundo, algo que era confinado a poucas pessoas antes da eclosão, na década de 1940, da Série Nosso Lar. Como se sabe, Cairbar desencarnou em janeiro de 1938, antes do surgimento das obras de André Luiz.

O confrade Antenor de Souza, hoje falecido, disse-nos que em 1944, quando foi lançada a 1ª edição do livro Nosso Lar, de André Luiz, muitos confrades de relevo deste país, como Leopoldo Machado, tiveram dúvidas pertinentes a aspectos da vida espiritual que lhes pareceram, naquele momento, algo absolutamente inédito na literatura espírita, embora Cairbar Schutel já houvesse tratado do assunto 12 anos antes.

O que Cairbar nos ensinou sobre a prática mediúnica

Acerca da influência do meio na reunião mediúnica – As comunicações com os Espíritos exigem muito recato, muito respeito, muita civilidade e muito recolhimento. O meio exerce ação considerável para o bom êxito das sessões. Jesus estava acompanhado de três apóstolos no episódio do monte Tabor. Em Betsaida (Marcos, 8:22), ele conduziu o cego fora da aldeia antes de curá-lo. Fato idêntico ocorreu com o homem surdo e gago, que Jesus tirou da multidão e atendeu à parte (Marcos, 7:32), e com a filha de Jairo (Mateus, 9:18).  (Médiuns e Mediunidades, pp. 73 e 74.)

Apelo à privacidade das sessões mediúnicas – As sessões práticas devem ser privativas, com número reduzido de assistentes convencionados e assíduos, porque elementos estranhos prejudicam o resultado dos trabalhos. Não se concebe, pois, a realização de sessões mediúnicas públicas, com portas abertas, sem circunspecção e critério exigidos para a prática mediúnica. (Obra citada, pp. 53 e 72.)

Deveres que competem aos médiuns – Primeiramente, estudar, porque o estudo preparatório dos médiuns é indispensável ao exercício da mediunidade. Os médiuns necessitam ter, ainda, muita persistência, muita paciência, muita perseverança nas reuniões e nos estudos, para melhor se relacionarem com o mundo invisível. (Obra citada, pp. 75 e 76.)

Uma advertência pertinente ao diálogo com os desencarnados – Convém deixar o Espírito comunicante falar. (Obra citada, p. 53.)

O recinto das sessões mediúnicas – As sessões requerem um ambiente de semiobscuridade ou iluminado com uma lâmpada vermelha com luz fraca. (Obra citada, p. 51.)

 

A vida no mundo espiritual segundo Cairbar

Os diversos planos do Mundo Espiritual – Há no Outro Mundo diversos planos de existência, e não poderia ser de outro modo, porque os Espíritos, revestidos de seu corpo espiritual, não podem viver num meio que não esteja de acordo com sua vestimenta espiritual, que vibra sempre ao ritmo da elevação de cada um, em sabedoria e moralidade. Uma região isenta de oxigênio seria hostil a Espíritos ainda necessitados de oxigênio. Os círculos que envolvem a Terra se diferenciam pela fluidez da matéria que os compõe. (A Vida no Outro Mundo, pp. 82, 83, 85 e 107.)

Semelhanças entre o nosso plano e o plano espiritual – O primeiro plano do Mundo Espiritual é bem parecido com o plano terráqueo. Pode-se dizer que o nosso plano aqui na Terra é uma cópia materializada desse plano, o que explica a existência ali de habitações semelhantes às nossas. (Obra citada, pp. 87 a 89.)

Referências sobre o assunto – Mais de um livro ou autor fala sobre a existência de cidades, casas, hospitais, templos e palácios no Outro Mundo. Conan Doyle menciona em seu livro “História do Espiritismo” vários casos, a exemplo de sir Oliver Lodge, Carl du Prel, Swedenborg, Winifred Moyes e Lilian Walbrook. (Obra citada, pp. 54, 56, 57, 78, 92, 95, 96, 97, 102 e 103.)

Os alimentos no plano espiritual – Nas mensagens transcritas por Conan Doyle, além da referência à existência de casas lindas e flores, um dos comunicantes fala do alimento utilizado no plano em que vivia, o qual não se parece com o nosso porque é muito mais agradável e delicado. (Obra citada, pp. 95 a 97.)

Revelações feitas pelo sensitivo Swedenborg – Nas obras do grande vidente sueco faz-se menção a casas, templos, salões, palácios. As crianças são bem recebidas no Outro Mundo, sejam ou não batizadas, e ali elas crescem cuidadas por mulheres jovens, até que lhes apareçam suas mães verdadeiras. (Obra citada, pp. 98 a 100.)

O trabalho no plano espiritual - Extraída do livro “O Caso de Lester Coltman”, de Lilian Walbrook, eis parte da mensagem dada por Coltman: “Meu trabalho continua aqui como se iniciou na Terra, ou seja, no terreno científico. Para progredir em meus estudos, visito frequentemente um laboratório, onde encontro facilidades tão completas como extraordinárias para a realização de experiências. Tenho casa própria, verdadeiramente bela, com uma grande biblioteca, na qual existe toda a classe de livros de consulta: históricos, científicos, de Medicina, e de todos os gêneros da Literatura. Para nós, estes livros são tão interessantes como para vós, os da Terra. Tenho uma sala de música com toda a sorte de instrumentos. Tenho quadros de rara beleza e móveis de gosto apurado.” Na sequência, Lester Coltman refere-se a uma paisagem extraordinariamente bela que ele podia descortinar de suas janelas e diz haver ali magníficas escolas para instrução dos Espíritos de crianças. (Obra citada, pp. 93 a 95.)

 

O destino do homem além da morte

Cairbar Schutel deixou-nos a propósito do destino das criaturas humanas no pós-morte estas sábias palavras:

“O túmulo não é o ponto final da existência. Nosso destino é grandioso. Existem mundos de luz, onde reina a verdade; mundos que serão nossas futuras moradas! Assim como o progresso caracteriza perfeitamente a evolução gradativa do nosso planeta, que será um dia paraíso terrenal, assim também essa Lei inflexível, que rege os mundos que se balouçam no Éter, nos prepara moradas felizes, dispersas na Casa de Deus, que é o Cosmo infinito.

“Tenhamos fé e estudemos! Ignoramos? Progridamos! Porque do estudo e da pesquisa vem a verdade que esclarece a inteligência, e, desta, a evolução espiritual, que nos guinda às alturas, para compreendermos as coisas do Espírito, coisas que Deus reserva para todos os que procuram crescer no Seu conhecimento e na Sua graça. Que as luzes da caridade, que vamos conquistando, nos ilumine toda a Ciência, toda a Religião, toda a Filosofia, para podermos, com justos títulos, observar as magnificências do Universo e cientificar-nos da imortalidade e da Eternidade da Vida.” (A Vida no Outro Mundo, de Cairbar Schutel, 5ª edição, 1978, pág. 126.)


 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita