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por Juan Carlos Orozco

 

Esclarecer e consolar


Esta reflexão trata das ações de esclarecer e consolar a quem procura a casa espírita para atendimento fraterno.

Nesse atendimento, poderemos observar atividades para assistir as necessidades básicas e imediatas de quem procura ajuda, mas também serviço de esclarecimento e consolo para amparar com fé, esperança e coragem o acolhido, auxiliando-o a enfrentar, em melhores condições, as provas e expiações da vida no seu processo de evolução moral e espiritual.

As necessidades imediatas e transitórias sempre incidirão no cotidiano das pessoas, porquanto elas são reais e devem ser percebidas e assistidas, principalmente no que toca a sobrevivência, enfermidades, dores, aflições e sofrimentos.

Contudo, além da caridade material, o ser humano precisa também da caridade moral e espiritual para suprir suas carências e libertar a alma. Nesse contexto, importante desenvolver ações para transformação do Espírito imortal pela compreensão do Evangelho, fazendo o assistido visualizar, pelo esclarecimento e consolo, recompensas futuras pela justiça divina, nessa vida ou na futura, como oportunidade de recomeço e regeneração.


Esclarecer

A palavra esclarecer pode ser entendida como tornar claro ou compreensível, iluminar, elucidar, desvendar ou explicar.

Para nossas reflexões, focaremos o esclarecer como iluminar a alma pela verdade divina ensinada e exemplificada pelo Mestre Jesus, que serve como roteiro de vida para o progresso moral e espiritual de cada ser humano na busca da perfeição.

O Espírito Emmanuel, em “A candeia viva”, no livro Fonte viva, Capítulo 81, na psicografia de Francisco Cândido Xavier”, ensina:

“Em verdade o sermão edificante e o auxílio fraterno são indispensáveis na extensão dos benefícios divinos da fé.

Sem a palavra, é quase impossível a distribuição do conhecimento. Sem o amparo irmão, a fraternidade não se concretizará no mundo. (...)

É um erro lamentável despender nossas forças, sem proveito para ninguém, sob a medida de nosso egoísmo, de nossa vaidade ou de nossa limitação pessoal.

Coloquemos nossas possibilidades ao dispor dos semelhantes.

Ninguém deve amealhar as vantagens da experiência terrestre somente para si. Cada espírito provisoriamente encarnado, no círculo humano, goza de imensas prerrogativas, quanto à difusão do bem, se persevera na observância do Amor universal.

Prega, pois, as revelações do Alto, fazendo-as mais formosas e brilhantes em teus lábios; insta com parentes e amigos para que aceitem as verdades imperecíveis; mas, não olvides que a candeia viva da iluminação espiritual é a perfeita imagem de ti mesmo.

Transforma as tuas energias em bondade e compreensão redentoras para toda gente, gastando, para isso, o óleo de tua boa-vontade, na renúncia e no sacrifício, e a tua vida, em Cristo, passará realmente a brilhar.”

Emmanuel destaca que a difusão da Palavra e o auxílio fraterno em proveito do próximo são indispensáveis para levar os benefícios divinos da fé e o amparo para construir um ambiente mais fraternal no mundo. Para tanto, é preciso renunciar ao egoísmo, à vaidade e à limitação pessoal em favor dos semelhantes.

O esclarecimento ilumina o caminho para o bem e faz enxergar as fontes de vida eterna. Como consequência, não se deve reter egoisticamente as experiências e os conhecimentos adquiridos. É preciso contribuir para o progresso geral da Humidade com a difusão da Palavra em prol do divino amor e da fraternidade universal. É fazer brilhar a própria luz em benefício de todos, convertendo sua energia em benefícios redentores.

Vinícius, no livro Em torno do Mestre, em “A palavra”, escreveu: “A palavra ilumina, convence, edifica, converte. Ela penetra o recesso das consciências, sonda o abismo dos corações. Não há poder que a detenha, não há força que a neutralize: basta que seja a expressão da verdade. (...) O pensamento é força, é poder, é energia: palavra é o seu veículo. Nada se faz no plano em que vivemos sem a sua valiosa e indispensável atuação.” Em síntese: a compreensão da Palavra é luz que afasta as trevas reinantes.


Consolar

Consolar pode ser entendido como confortar, amenizar, animar, amparar, aliviar a dor, o sofrimento e a aflição de outrem ou própria, com palavras, recompensas e promessas.

Consolar alguém, que passa por momentos difíceis, requer empatia, compaixão, compreensão, responsabilidade, respeito, paciência, habilidade e atitude para ajudar essa pessoa a superar o que está enfrentando.

Nessas situações, um simples gesto, proferir palavras de conforto, fé e esperança, ouvir atentamente seus problemas, enxugar as lágrimas, dizer uma mensagem amorosa, estimular pensamentos positivos, proporcionar um abraço ou um olhar sincero, visualizar possibilidades de soluções, dentre outros, podem aliviar o coração de quem está sofrendo, demonstrando seu interesse, carinho e apoio.

A consolação representa também oportunidade para realizar caridade em benefício dos que sofrem, estimulando reflexões a respeito dos ensinos do Mestre Jesus, com palavras de vida eterna carregadas de vibrações positivas.

O Espírito Emmanuel, no livro Vinha de luz, capítulo 11, em “Caridade essencial”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, ensina:

“Em todos os lugares e situações da vida, a caridade será sempre a fonte divina das bênçãos do Senhor.

Quem dá o pão ao faminto e água ao sedento, remédio ao enfermo e luz ao ignorante, está colaborando na edificação do reino divino, em qualquer setor da existência ou da fé religiosa a que foi chamado.

A voz compassiva e fraternal que ilumina o espírito é irmã das mãos que alimentam o corpo.

Assistência, medicação e ensinamento constituem modalidades santas da caridade generosa que executa os programas do bem. São vestiduras diferentes de uma virtude única. Conjugam-se e completam-se num todo nobre e digno.

Ninguém pode assistir a outrem, com eficiência, se não procurou a edificação de si mesmo; ninguém medicará, com proveito, se não adquiriu o espírito de boa-vontade para com os que necessitam, e ninguém ensinará, com segurança, se não possui a seu favor os atos de amor ao próximo, no que se refira à compreensão e ao auxílio fraternais.

Em razão disso, as menores manifestações de caridade, nascidas da sincera disposição de servir com Jesus, são atividades sagradas e indiscutíveis. Em todos os lugares, serão sempre sublimes luzes da fraternidade, disseminando alegria, esperança, gratidão, conforto e intercessões benditas.

Antes, porém, da caridade que se manifesta exteriormente nos variados setores da vida, pratiquemos a caridade essencial, sem o que não poderemos efetuar a edificação e a redenção de nós mesmos. Trata-se da caridade de pensarmos, falarmos e agirmos, segundo os ensinamentos do Divino Mestre, no Evangelho. É a caridade de vivermos verdadeiramente nele para que Ele viva em nós. Sem esta, poderemos levar a efeito grandes serviços externos, alcançar intercessões valiosas em nosso benefício, espalhar notáveis obras de pedra, mas, dentro de nós mesmos, nos instantes de supremo testemunho na fé, estaremos vazios e desolados, na condição de mendigos de luz”.

Emmanuel destaca que a caridade essencial, sagrada e generosa no programa do bem, é constituída de diferentes modalidades, com destaque para: assistência, medicação e ensinamento, permeando lugares e situações da vida, sendo uma fonte divina.

Para realizar a caridade essencial, precisamos edificar em nós mesmos o espírito de boa-vontade e o amor ao próximo para os que necessitam de assistência fraternal, disseminando alegria, esperança, gratidão, conforto e intercessões benditas.

A Federação Espírita Brasileira, em “Orientação ao Centro Espírita”, aprovado pelo Conselho Federativo Nacional da Federação em novembro de 2020, na apresentação, expressa: “Compreendendo o Centro Espírita como célula fundamental do Movimento Espírita e polo de consolo e esclarecimento aos irmãos em Humanidade, reconhece-se a sua relevância para a edificação do mundo novo, para a construção da paz e para a promoção do bem a partir da regeneração do ser e da compreensão de sua imortalidade. (...) ... todos os servidores da Seara Espírita empenhados em participar deste esforço comum, orientado no sentido de colocar a mensagem esclarecedora e consoladora da Doutrina Espírita ao alcance e a serviço de todas as pessoas.”

Por esse texto, a Federação destaca a importância da mensagem esclarecedora e consoladora da Doutrina Espírita para todas as pessoas, como meio para a edificação do mundo novo, construção da paz e promoção do bem a partir da regeneração do ser e da compreensão de sua imortalidade.

Mais adiante, identifica os Centros Espíritas como: “... postos de atendimento fraternal para todos os que os buscam com o propósito de obter orientação, esclarecimento, ajuda ou consolação”.

A respeito de palestras públicas, a orientação identifica-as como: “uma reunião pública, na qual são realizadas palestras ou conferências sobre temas relacionados com a Doutrina Espírita, voltadas a atender aos interesses da população em suas necessidades de esclarecimento e consolação.”

Assim, percebe-se a orientação da Federação Espírita Brasileira para se preservar o caráter da Doutrina Espírita de esclarecimento e consolo espiritual, em quaisquer atividades do Centro Espírita.

Em O Livro dos Espíritos, na questão 921, Allan Kardec comenta os efeitos do esclarecimento e consolo: “Aquele que se acha bem compenetrado de seu destino futuro não vê na vida corporal mais do que uma estação temporária, uma como parada momentânea em péssima hospedaria. Facilmente se consola de alguns aborrecimentos passageiros de uma viagem que o levará a tanto melhor posição, quanto melhor tenha cuidado dos preparativos para empreendê-la.”

Por tudo isso, devemos esclarecer e consolar a nós mesmos e ao nosso semelhante para evoluir moral e espiritualmente e galgar patamares mais elevados de evolução.

Pelo esclarecimento e consolo, tendo a certeza de que a vida continuará após a morte do corpo físico, o ânimo para viver será outro, porquanto a crença na vida futura fará viver com fé, confiança, esperança, resignação e alegria, mesmo diante das duras provações e expiações que provocam sofrimentos e dores nos seres humanos.

Por outro lado, a visão acerca da vida terminar no nada, sem uma perspectiva futura, é desastrosa para a evolução da Humanidade, posto que, dominada pelo egoísmo materialista, afasta a necessidade da aquisição de virtudes e atributos morais para o progresso dos seres humanos, quer individualmente ou sob o aspecto coletivo para o avanço da sociedade.

Por conseguinte, nada esperando depois da morte, o ser humano fará de tudo para aumentar os gozos do presente. Se sofre, só terá a perspectiva do desespero e o nada como refúgio. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas serão os maiores incitantes às quedas do ser humano. Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada.

A Doutrina Espírita traz luz a questões existenciais à medida que esclarece sobre: Deus, sua Natureza, seus atributos e sua ação providencial; a criação do Universo, as leis e os princípios que o regem; o bem e o mal; a criação, a imortalidade e a progressão dos Espíritos; a crença na vida futura; a lei de causa e efeito; a lei do progresso; a lei do amor; a lei do trabalho; o objetivo da reencarnação; a pluralidade de existências; a compreensão dos sofrimentos e das dores; e a busca da perfeição relativa à Humanidade, tendo Jesus como modelo e guia: o caminho, a verdade e a fonte de vida eterna em direção ao Pai.

Assim sendo, a vida tem sentido. Diante das provas e expiações, viva em função do amor maior, como Jesus amou, na busca da felicidade duradora, que nem a traça e a ferrugem corroem. Viva por você mesmo e pelo seu próximo, fazendo a caridade que liberta a alma!


Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

EMMANUEL (Espírito); psicografado por Francisco Cândido Xavier. Fonte viva.  1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2020.

FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Conselho Federativo Nacional. Orientação ao Centro Espírita. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2021.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

VINÍCIUS. Em torno do Mestre. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita