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por Ricardo Orestes Forni

 

Árido deserto


“Só a leve esperança em toda a vida

Disfarça a pena de viver, mais nada:

Nem é mais a existência, resumida,

Que uma grande esperança malograda.

 

O eterno sonho da alma desterrada,

Sonho que a traz ansiosa e embevecida,

É uma hora feliz, sempre adiada.

E que não chega nunca em toda a vida.”


Esta vida na Terra é um vale de lágrimas! Viemos aqui só para sofrer e aprender o que ainda não sabemos! A felicidade não é deste mundo!

Os Espíritos já nos ensinaram isso!

Calma nessa hora! Muita calma.

A vida está repleta de belezas para todos aqueles que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir, como já alertava Jesus.

O que acontece conosco é semelhante a um carrinho de montanha russa, aquele brinquedo apavorante no qual não andaria por nenhum motivo.

Altos e baixos.  Lentas subidas e desembaladas descidas como queda em precipício!

Quando o carrinho está subindo fazendo um enorme esforço como se não fosse aguentar chegar ao topo, ele representa as pessoas que concordam com as palavras do grande poeta Vicente de Carvalho que se encontram num trecho da poesia que transcrevemos logo no início.

Nós nos fixamos nos momentos difíceis que existem, sem dúvida nenhuma, mas que buscam fornecer as oportunidades para nosso crescimento espiritual e não para sofrermos por toda uma existência. Sentimo-nos semelhante ao carrinho da montanha russa que está subindo. Enxergamos e valorizamos os menores detalhes dos nossos sofrimentos.

Mas, semelhante a esse brinquedo, o carrinho também percorre descidas facílimas e rápidas de términos tão curtos.

Isso também ocorre conosco. A misericórdia de Deus permite momentos felizes que não detectamos e, portanto, não valorizamos como fazemos com os sofrimentos, procurando eternizá-los como se na escola abençoada da Terra somente colhêssemos espinhos.

Como você se sente diante da mesa de café pela manhã enquanto muitos procuram, muitas vezes em vão, um pedaço de pão amanhecido em latas de lixo? Não constitui isso motivo para alegria? Será preciso faltar para entender que somos felizes sim por esse café abençoado?

Como você se sente quando retorna do trabalho para a refeição do almoço com uma mesa com o necessário para a alimentação do seu corpo, enquanto muitos estendem as mãos em busca da caridade alheia que tantas vezes falta? Não é a mesa abençoada motivo de alegria? Será preciso faltar para perceber quanto somos felizes por tê-la em nosso lar?

E por falar em lar, como você se sente tendo para onde se dirigir à noite após encerrar seus compromissos junto ao trabalho que lhe permite o sustento, enquanto tantos permanecem nas ruas por não terem para onde ir? Não será momento de alegria a realidade de termos um local para voltar? Será preciso que ele falte para podermos valorizar esse local feliz?

Como você se sente por ter dois braços perfeitos e poder estreitar seus entes queridos num abraço amoroso exprimindo os seus sentimentos? Não são esses braços motivos para nossa alegria? Será preciso perdê-los para despertarmos e sermos felizes?

E que pensar de podermos articular as palavras, enxergar a beleza de uma flor, ouvir o canto de um pássaro? Esse manancial de coisas boas não é suficiente para você ser feliz? Procure raciocinar sobre a possibilidade de não possuir a voz, de não ouvir as palavras de um ser querido e você verá como neste mundo existem muitos motivos para sermos felizes!

No livro do doutor José Carlos de Lucca denominado Feliz, publicado pela editora Intelítera, encontramos um lembrete para o nosso dia a dia que talvez possa ajudá-lo a identificar as oportunidades de ser feliz, que faz parte de uma crônica de Danuza Leão: “As pessoas vivem reclamando, e nem prestam atenção aos pequenos e maravilhosos prazeres que a vida oferece. É preciso estar atento para identificar cada um deles no momento exato em que aconteceu”.

O poeta Vicente de Carvalho também comparece na poesia acima dando uma explicação para o nosso julgamento de que neste mundo não encontramos a felicidade:

 

“Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.”
 


Ah! Somos felizes, sim! A Terra não é um deserto árido onde somente encontramos dores, problemas, dificuldades. Não é mesmo! Sentirei saudades das salas de aula que frequentei como um mau aluno na atual existência, esperando que a misericórdia de Deus me matricule neste bendito educandário na próxima reencarnação.


    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita