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por Rogério Miguez

 

O arrependimento jamais nos livrará da reparação


E, naqueles dias, apareceu João o Batista pregando no deserto da Judeia, E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. (Mt 3:1-2)


Considerando escritos antigos sobre o arrependimento, tal como o citado, muitos religiosos concluem ser suficiente arrepender-se, após o cometimento de uma ação pecaminosa, para receber a graça de Deus, ficando livres de qualquer repercussão de seus atos e mesmo de possíveis punições, pois estariam perdoados, afirmam.

Entretanto, se assim fosse, não haveria justiça, Deus seria parcial e leviano, ao relevar crimes e delitos, sem considerar o reajuste do infrator, e mais, como ficaria a situação do ofendido?

Lamentar a falta moral ou sentir pesar por um mal feito ou mal dito, ou mesmo um não feito ou um não dito, os últimos ocasionando, pela omissão, prejuízo ao próximo, seja de qual tipo for, representa apenas usando o jargão popular: o pontapé inicial. É o início do processo de reajuste com a justiça divina.

Seria muito fácil e sem efeito educativo para o pecador, se fosse possível prejudicar o próximo e, em seguida, se arrepender e pedir perdão a Deus acreditando estar absolvido de qualquer medida de reajuste. Quando o mal já está feito, é preciso agora encarar os resultados do ato impensado, buscando a reparação dos prejuízos causados, sejam morais ou materiais.

Todos nós sabemos que, exceto os francamente voltados à prática do mal - os contraventores inveterados -, quando contraímos uma dívida é muito mais nobre pagá-la, pois nos sentimos bem ao ver o débito quitado, podermos dormir tranquilamente sem a expectativa da vinda de possíveis credores bater à nossa porta. Esta é a boa lógica.

Este procedimento de ressarcimento do mal causado ao lesado é conhecido como reparação, contudo o processo completo de reajustamento às leis divinas não termina apenas com essas duas etapas; há uma terceira: a expiação, além das duas.

Contudo, como quitar os débitos morais? Os materiais são mais imediatos, fáceis de serem identificados, quantizados e devolvidos, no entanto os que atingem o sentimento são mais complexos.

Há um caminho seguro, uma receita infalível para se sentir bem intimamente, após o cometimento de um delito, é a prática do bem no limite das forças. Através do exercício do bem irrestrito, podemos inclusive evitar a expiação e a reparação conforme o bem vai sendo realizado, sem necessidade de passar necessariamente pelos mesmos sofrimentos que fizemos o outro passar - expiação. Com o bem compensamos simultaneamente a expiação e a reparação e podemos quitar tanto os prejuízos materiais, bem como os morais.

E mais, se o ofendido, desta ou de outras existências, não desejar nos perdoar mantendo cerradas as portas da reconciliação, por estar extremamente magoado conosco, podemos fazer o bem para outros - mesmo que sejam desconhecidos -, pois para Deus, possui o mesmo valor, afinal somos todos irmãos, o bem realizado funciona como se fosse feito ao real prejudicado.

Por esta razão Pedro, há séculos, se expressou afirmando ser possível cobrir a multidão dos pecados pelo exercício continuado do amor.

E o amor se traduz por ações dignas, palavras sãs e pensamentos alinhados com o bem, enquanto o pecado acontece sempre que desatendemos qualquer lei divina, mesmo nos mínimos detalhes, por esta razão é que esta parte da humanidade universal está tão endividada com a justiça divina. A maioria esmagadora não compreende  como se forma a multidão dos pecados, crê-se que pequenos deslizes, ligeiros pensamentos de ódio, revolta ou possível vingança,  algumas palavras ríspidas e ferinas ditas aqui e ali, não causam nenhuma repercussão negativa, ledo engano, a definição ampla de pecado não está contida apenas nos Dez Mandamentos de Moisés, mas, como dissemos, na desobediência, sejam elas quais forem, a qualquer lei divina, não importando a intensidade ou a gravidade do delito, por palavras, atos e pensamentos, por menor que forem, precisa sofrer um processo de reajustamento, pelos dois caminhos possíveis: amor ou dor.

Não há dúvida de que o arrependimento é absolutamente necessário, pois se ele não acontece, o processo de reajuste íntimo também não inicia. Mesmo assim, a expiação pode ocorrer independentemente se nos arrependemos ou não, pois se não há o reconhecimento prévio da falta, se o remorso não acontece, somos cobrados mesmo assim, pois a dívida está descoberta, embora, neste caso, ainda não alcançamos a edificação, objetivo da expiação.

Com estas informações tão bem detalhadas pelo Espiritismo, iniciemos um processo de reavaliação de nossas crenças, principalmente aquelas baseadas na letra do Antigo e Novo Testamentos. A realidade é outra, muito mais justa, misericordiosa e coerente.

Em resumo, estes são os três passos: arrependimento, expiação e reparação.

Como ainda somos detentores de uma verdadeira multidão de pecados, iniciemos hoje mesmo a nossa redenção, fazendo o bem, não importa a quem.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita