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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Aprender e mudar


É auspicioso constatar que a pluralidade religiosa é respeitada em nossa nação, e cada um pode expressar a sua crença sem qualquer tipo de receio. Como sabemos, a maioria dos brasileiros é abençoada por receber, desde tenra idade, alguma orientação ou educação formal nesse assunto, normalmente por influência dos pais. Ou seja, a ideia elementar de Deus, as lições iluminadoras do Evangelho, a imaculada e sacrificial trajetória de Jesus, o valor da oração e a noção do bem, não são coisas estranhas para nós, independente do credo no qual tenhamos sido iniciados.

De fato, o sincretismo religioso é um fenômeno admirável em nossas plagas. No entanto, esse importante aprendizado parece não penetrar realmente no âmago das pessoas como desejado. Como corretamente observa o Espírito Emmanuel, na obra Segue-me (psicografia de Francisco Cândido Xavier), “Quanta gente fala em Cristo, sem lhe buscar a companhia!”

Com efeito, há anomalias comportamentais assustadoras em nosso meio, especialmente se considerarmos a frequência com que elas ocorrem, e absolutamente divorciadas de Deus. A pletora de acontecimentos dessa natureza como, por exemplo, os casos de feminicídio, chacinas, latrocínios, roubos, golpes e quejandos causam enorme perplexidade em todos que lutam dignamente.

É muito provável que os perpetradores desses crimes também tenham recebido algum tipo de orientação religiosa em determinado momento de suas vidas, mas certamente sem efeito a julgar pelo que realizam. Outros ainda mais privilegiados – refiro-me às figuras de destaque atuantes no meio empresarial, político e outros setores da sociedade - também devem ter sido contemplados nesse particular; entretanto, igualmente em muitos deles não se vê sinal de que houve o necessário despertamento para os valores superiores se considerarmos o teor do noticiário diário.

Dados e estatísticas confiáveis mostram que não vivemos num lugar de prosperidade generalizada ou bem-estar geral. E isso ocorre por pura cupidez e avareza de muitos membros da elite social, que comandam vários setores da nação e não se importam com a miséria ou má distribuição da renda. Como afirmou recentemente um importante economista: “Somos um país de privilégios, que se traduzem em vantagens pessoais”. Por conseguinte, é triste constatar que toda iniciativa em tornar as coisas mais justas e equânimes acabam sendo solapadas devido ao egoísmo vigente.

Seja como for, o aprendizado de assuntos religiosos e espirituais devem ser impulsionadores – essa é a expectativa da espiritualidade - de profundas mudanças em nossa maneira de viver. Nessas esferas do saber geralmente aprendemos lições que devem ser incorporadas em nossa conduta, aliás, é por isso que aqui estamos. Pode-se concluir que o seu sentido em nossas existências é o de aprendê-las para que nos transformemos em seres melhores. Do contrário, continuaremos a fracassar em abraçar propósitos mais elevados de vida. 

A humanidade sempre foi receptora de enormes oportunidades de aprendizado de conceitos e diretrizes transcendentais emitidas pelo plano maior em seu benefício. O Pai celestial nunca nos deixou desamparados de orientação. Jesus, o seu sublime mensageiro, por sua vez, nos legou sólidas lições para que alcancemos os cumes da espiritualidade. Posto isto, temos todos os elementos necessários à nossa disposição para nos educarmos espiritualmente a contento. Como bem explica, aliás, o Espírito Emmanuel também na referida obra:

 

“A sabedoria do Alto plasma os verdadeiros valores da educação.

Os orientadores do mundo satisfazem a inteligência e enriquecem o patrimônio intelectual.

Jesus Cristo, contudo, aprimora o sentimento.

A universidade ilustra o cérebro.

O Evangelho aperfeiçoa o coração.

Se desejas, pois, conservar contigo a riqueza espiritual que desce do Plano Superior [e cujas noções mais básicas e fundamentais adquirimos nas religiões verdadeiramente dedicadas ao aperfeiçoamento moral humano], caminha, entre os homens, aplicando as lições de Jesus, no esforço de cada dia”.


Em assim procedendo poderemos, pois, mostrar a nossa real mudança. Mudança essa extremamente vital nessa hora de grandes provações individuais e coletivas, e onde o mal adquire feições perturbadoras. Assim sendo, comecemos por nos despojar de todas as sujidades que emanam do nosso eu mais profundo e que, eventualmente, nos tornam criaturas iníquas, mesquinhas e egoístas.

Façamos diariamente o nosso autojulgamento com seriedade e honestidade. Examinemo-nos de maneira crítica, e tenhamos a grandeza de admitir, se necessário for, as imperfeições e mazelas que ainda carregamos em nossa alma. Trabalhemos para nos corrigir e, a partir daí, mostremos nossa mudança (compreensão) sendo efetivos cooperadores da luz no mundo.

O planeta carece de indivíduos movidos por ideais espiritualizantes, de modo tal que as densas trevas ora presentes em toda parte sejam dissipadas, e uma nova era de mudanças benéficas possa ser, enfim, implementada. Aumentemos o nosso patrimônio espiritual estudando, aprendendo e, sobretudo, nos transformando para melhor, pois tais providências - que constituem nossa missão de vida - são, certamente, o que Deus espera de todos nós.

 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita