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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Não dá pra comprar um lugarzinho no céu


Algumas religiões exploram vergonhosamente a boa-fé e ingenuidade de seus seguidores, prometendo-lhes maravilhas do lado de lá. Seus líderes são tão sagazes que que chegam a garantir uma espécie de tratamento VIP aos crentes. Alguns chegam ao desplante de vender a ideia de que o profitente se encontrará com determinado personagem bíblico ou dormirá um sono profundo até o dia da ressureição, no final dos tempos, como se Deus patrocinasse a ociosidade permanente dos seus filhos. Em outras circunstâncias, o próprio indivíduo vai construindo uma percepção sobre a hora do seu retorno à pátria espiritual sem qualquer lastro no bom senso e na lógica. Ou seja, não consegue atinar que a desencarnação significa, essencialmente, mudança de domicílio.  

Portanto, é certo que vamos volver à vida maior – como sempre o fizemos em nossa trajetória milenar – obedecendo a mecanismos transcendentes perfeitos. Nesse sentido, cumpre lembrar que as leis divinas abrangem a todos nós – sem exceção. Desse modo, importa saber em que condições efetivas retornaremos. E é nesse particular que deveríamos nos concentrar e muito mais refletir. O que nos aguarda além-túmulo logo após o nosso último suspiro? Faz sentido aguardar prêmios e concessões às quais não fazemos jus? Seria sensato aspirarmos por privilégios imerecidos? A maneira como nos conduzimos ao longo da vida nos credencia a obter tais coisas?

É preciso pensar com constância em tais assuntos, pois a vida é curta, bem como repleta de pontos positivos e negativos correspondentes às nossas ações. Sendo essa a realidade, também é preciso admitir que não raro erramos muito mais do que acertamos em nossas escolhas e decisões. Desse modo, é mais adequado aguardamos, como bem alertou Jesus, que a nossa recompensa espiritual seja baseada na premissa de que “... a cada um segundo as suas obras” (Mateus, 16:27). Posto isto, o delinquente, o usurpador, o ditador, o leviano, o omisso, enfim, não devem esperar, em hipótese alguma, alegrias imediatas. Na verdade, muito terão de joeirar para merecer isso.

A propósito, recentemente reli – já perdi as contas de quantas vezes, reconheço – a extraordinária obra Paulo e Estêvão, do Espírito Emmanuel e psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier. Paulo foi um personagem notável na história do cristianismo pela sua dedicação e comprometimento com uma causa maior: a divulgação do Evangelho. Em suas famosas epístolas encontramos profundo conteúdo à reflexão e mudanças humanas na esfera comportamental, tais como: Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição (Colossenses 3: 13-14).

Paulo toca em aspectos vitais a uma existência vitoriosa do ponto de vista espiritual, mas vai ainda mais além ao considerar que “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis” (Colossenses 3: 23-24). Pois bem, Paulo teve a dignidade de romper com o farisaísmo ao perceber os enganos aos quais se ligara em decorrência da sua fé ainda radical e intransigente.

A sua transformação às portas de Damasco foi um dos momentos mais fascinantes da história espiritual da humanidade, sobretudo pelo que ele veio a representar a partir dali. Posto isto, entrega-se com absoluto fervor na tarefa de elucidar os povos sobre as bem-aventuranças da mensagem do Cristo. Em resumo, teve a coragem moral de reconhecer os seus erros e autoiluminar-se sob as bênçãos de Jesus. Nesse penoso processo, sofreu apodos, açoites, apedrejamentos, humilhações e violências sem conta, mas compreendeu que podia conquistar “um lugarzinho no céu”, como acontece a todo trabalhador realmente devotado. Vítima da tirania do imperador romano Nero, entregou a sua alma a Jesus recebendo uma justa recompensa pelo seu martírio muito bem relatada na referida obra.

O exemplo de Paulo simboliza quanto necessitamos nos empenhar para merecer o céu das alegrias e da felicidade. No demais, não nos iludamos quanto ao duro esforço que nos compete realizar.    


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita