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por Marcus De Mario

 

Novos pensamentos, novas ações


Procuramos elaborar neste texto algumas reflexões e sugestões aos Centros Espíritas e ao movimento espírita em geral, face à queixa de muitos dirigentes sobre o afastamento de frequentadores e tarefeiros das atividades, após a pandemia da Covid. Sabemos que, durante o período da grave pandemia, por força de lei e dos protocolos de segurança sanitária, os Centros Espíritas não puderam realizar reuniões e atividades presenciais, migrando muitas delas para o modo online através da internet. Pouco a pouco, com o advento das vacinas, a pandemia foi passando e as atividades presenciais foram sendo retomadas, tendo cada Centro Espírita deliberado a seu tempo quanto a esse retorno. O fato é que houve diminuição no número de tarefeiros e de frequentadores, e devemos nos perguntar, diante desse fato, qual a causa ou causas desse fenômeno, para podermos estabelecer ações que visem levar o público novamente aos Centros Espíritas e aos eventos promovidos pelo movimento espírita.

Uma primeira observação a fazer, e que constatamos em conversas com dirigentes dos Centros Espíritas de várias regiões do país, é que muitas instituições levaram tempo muito longo para retorno das atividades presenciais. Temos notícia de Centros Espíritas que ficaram com as portas fechadas ou com funcionamento parcial, por dois anos, o que consideramos tempo demasiado longo, propício para causar o afastamento das pessoas. Muitas se acomodaram com o conforto do lar, acompanhando palestras a distância, e agora estudam o Espiritismo apenas e tão somente no modo online. Nada temos contra a internet e suas ferramentas, muito úteis quando utilizadas para o bem, e nós mesmos muito as utilizamos, mas somos seres de relação, e existem atividades que somente obtém bons resultados no modo presencial. Como fazer reunião de desobsessão pela internet? Como evangelizar crianças e jovens somente por aplicativos? Como esclarecer e consolar apenas por WhatsApp? Como socorrer através do passe apenas a distância, virtualmente? Não é possível desenvolver a assistência e promoção social pela internet.

Algumas pessoas, e num número considerável, alegam que evitam ir ao Centro Espírita por terem medo da aglomeração das pessoas num recinto fechado, qual o da reunião pública de palestra, ou do grupo de estudo, ou ainda da reunião mediúnica. Essa alegação carece de fundamento diante da frequência, dessas mesmas pessoas, aos shoppings, aos cinemas, aos teatros, aos supermercados, aos transportes públicos e aos estabelecimentos profissionais em que atuam. Por que somente o Centro Espírita é perigoso? As redes sociais estão repletas de fotos e vídeos de espíritas fazendo turismo, o que não é proibido, ou seja, vive-se normalmente a vida, menos incluindo nela o Centro Espírita. Isso representa uma grande contradição, pois sabemos que o Centro Espírita recebe a proteção das equipes benfeitoras espirituais, e ficar infectado por um vírus ou uma bactéria pode acontecer em qualquer lugar, por qualquer motivo, e não necessária e especificamente no Centro Espírita.

Somos seres relacionais, dependemos uns dos outros, e não há inteligência artificial, robótica, aplicativo, que possa substituir o abraço entre duas ou mais pessoas. Nosso progresso moral e intelectual é realizado na convivência, na troca, no apoio mútuo, e isso fica bastante limitado no modo online. Muitas pessoas estão sofrendo de depressão e outras síndromes por motivo de estarem muito isoladas, muito sozinhas, restritas ao ambiente doméstico e à internet, isso quando tem esse acesso e com boa qualidade.

Precisamos retomar, com urgência, as atividades presenciais no Centro Espírita e também no movimento espírita, voltando a realizar congressos, seminários, encontros, cursos. Se tudo voltou ao normal, inclusive as igrejas católica e protestante (evangélica), porque os Centros Espíritas estão à míngua de público e tarefeiros?

Os dirigentes espíritas precisam rever seus procedimentos, seu entendimento do Espiritismo e do papel de relevância do Centro Espírita. Não é mais possível ficar apenas se queixando da falta das pessoas, sem mudar uma única vírgula em suas ações. E uma ação urgente é melhorar a comunicação, utilizando, por exemplo, as redes sociais como ferramentas de apoio na divulgação. Também utilizar as palestras públicas para falar do Centro Espírita e suas atividades, convidando o público a se engajar nas mesmas, mostrando o que se faz e porque se faz. Naturalmente os dirigentes não podem ser centralizadores, sabendo trabalhar com a delegação de tarefas, sabendo ouvir as ideias, e sabendo implementar com dinamismo o que for bom e útil.

Aqui precisamos dar uma palavra sobre a reunião pública de palestra. É a porta de entrada do Centro Espírita e do próprio Espiritismo. Os temas têm que ser adequados à diversidade do público e suas necessidades. Não cabe, à guisa de exemplo, pedir para o palestrante falar sobre Perispírito e suas Propriedades, ou Gênese da Criação Divina, temas para grupo de estudo e não para palestra pública, onde melhor se adequam temas ligados ao Evangelho: Por que Sofremos?; Como Amar o Nosso Próximo; Perdoar é Viver Melhor e assim por diante. Tanto o dirigente quanto o palestrante devem lembrar que tem diante de si pessoas com nenhum ou pouco conhecimento do Espiritismo, e que muitas vezes ali estão para serem esclarecidas e consoladas diante de provas e expiações pelas quais estão passando.

Aliar o presencial com o online não é problema. O problema é ficar apenas com o online. O problema é repetir indefinidamente procedimentos que não estão dando certo, que não alcançam os resultados desejados.

Recomendamos aos dirigentes espíritas a leitura e meditação dos livros Centro Espírita (José Herculano Pires); Centro Espírita, Escola de Almas (minha autoria); As Dimensões Espirituais do Centro Espírita (Suely Caldas Schubert); Centro Espírita: Tendências e Tendenciosidades (César Braga Said), entre outros de real valor e importância, que servirão de base para novos pensamentos e novas ações diante dos tempos atuais e visando um futuro melhor para a humanidade.

Se estão faltando frequentadores, precisamos convidá-los com afetivo acolhimento. Se estão faltando tarefeiros, precisamos qualificar novos tarefeiros. O que não pode acontecer é o Centro Espírita comemorar 50 anos de existência e os dirigentes se orgulharem de fazer tudo igual como era feito naquele tempo. Infelizmente essa história é verídica, presenciada por este que escreve estas linhas.

Dizem-nos os Espíritos Superiores que o Espiritismo, bem compreendido, é o remédio que irá destruir o egoísmo. Estamos bem compreendendo o Espiritismo e, igualmente, o Centro Espírita?


Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; possui mais de 35 livros publicados.


    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita