Artigos

por Bruno Abreu

 

O conhecimento e o crescimento espiritual


Muitas pessoas acreditam que o conhecimento lhes vai trazer o crescimento espiritual, mas não é verdade. Estas confundem conhecimento com sabedoria.

O conhecimento é saber sobre algo, pode ser o conhecimento tecnológico ou de uma profissão. Serve-nos para uma única vida, faz parte do personagem que experimentamos em determinada reencarnação.

A doutrina Espírita, trouxe-nos entre vários, um conhecimento científico muito importante, a relação Espiritual com a Matéria, mas no campo do crescimento espiritual, manteve os ensinamentos intocáveis de Cristo.

Todo o conhecimento será perdido de uma reencarnação para outra, pois não transportamos nem a língua que falamos de uma reencarnação para a outra.

O personagem em cada reencarnação é diferente, nascendo em sítios diferentes, falando línguas diferentes, com condições únicas, pois temos de passar por todas as vicissitudes.

Imagine que em uma próxima vida nasce no meio da china, em uma pequena aldeia. Uso a China por ser uma cultura bastante diferente da nossa. Pode nunca ter contacto com a Doutrina Espírita, portanto, até a religião será diferente. Não veja isto como negativo, lembre-se do ensinamento de Emmanuel, onde diz que as religiões são bocados de um espelho onde Deus se viu e deixou cair na Terra.

Claro que a Doutrina Espírita é fantástica por ser a doutrina, que mais ampla é, em termos de estudos, o que nos traz uma oportunidade única, que deve ser aproveitada.

O conhecimento pode ter uma utilidade impressionante, mas também se pode tornar um veneno para nós próprios. O orgulho do conhecimento é dos mais fortes e enraizados no ser humano, tornando difícil o seu tratamento, cegando o ser.

Aquele que acha que sabe tudo choca com todos.

A primeira história que a Bíblia conta sobre o ser humano, Adão e Eva, é precisamente sobre os perigos do conhecimento. Adão e Eva comem a fruta da árvore do conhecimento, ficando a saber o que é o certo e o errado e são condenados e expulsos do paraíso.

Jesus tinha uma ação energética negativa com os fariseus, os Srs. do conhecimento moral em seu tempo, pois o conhecimento que tinham não lhes permitia ver um pouco mais longe, nunca iriam entender os ensinamentos de Jesus.

O conhecimento é muito útil na área tecnológica ou profissional, na área moral tem-se tornado um veneno de orgulho.

Na Doutrina Espírita, a parte moral foi remetida para o Evangelho de Cristo, pois são o conhecimento máximo em termos morais.

Tem aparecido muitos livros a tentar explicar o Evangelho, que se podem tornar de enorme utilidade para o crescimento espiritual, se forem usados como mapas morais e não como conhecimento.

A grande diferença entre o conhecimento e um mapa moral, é que o conhecimento diz-nos que sabemos, o mapa moral indica-nos o caminho e este nunca se pode tornar conhecimento, se não achamos que sabemos em vez de caminharmos.

O mapa moral, tal como o mapa terrestre de uma cidade indica-nos para onde devemos caminhar, podemos ler detalhadamente o mapa de uma cidade e parecer-nos que conhecemos cada canto daquela cidade, mas a cidade é um “organismo” vivo que só começamos a conhecer quando nos integramos nela. Na verdade, nunca a iremos conhecer, pois está em constante mudança, é como o seu trânsito nas estradas, não paramos sempre nos mesmos sítios, cada dia é um dia, rodeados de carros diferentes, paisagens alteradas ou consumidas.

No crescimento espiritual ou moral, não existe conhecimento. O conhecimento é uma teoria e a vida é muito prática.

A cada segundo nos deparamos com coisas diferentes e a vida é lidarmos com todas essas coisas ou situações. Mesmo quando estamos sós e parece não acontecer nada, estamos em constante criação de pensamentos, sobre a vida, nós, os outros, problemas, um infinito cardápio, pois está a acontecer vida dentro de nós. O conhecimento diz-nos que isto é assim, mas não nos serve para a forma como vamos lidar com isto.

Quem afirma que sabe lidar com a vida e que tem o conhecimento certo para o fazer, é um tolo, como poderá saber lidar com algo que não sabe o que é, ou será que já sabe tudo o que lhe irá acontecer?

A vida é muito “fresca”, sempre a acontecer de novo a cada segundo, a sabedoria é saber lidar com amor e paz a cada acontecimento, combatendo a suas más tendências que nascem e se querem impor na forma como lidamos com a vida.

A humildade é ter consciência de que este movimento enorme não cabe no conhecimento, por mais inteligente que o homem seja nunca será o suficiente para conhecer todas as formas que a vida se pode apresentar. Em cada uma das reencarnações passadas foi de uma forma diferente, se multiplicarmos todos os seres em reencarnação com todas as suas reencarnações, ainda não chegaremos a todas as formas como a vida se pode apresentar. Se colocarmos os outros planetas, nas outras galáxias, a “equação” parece-nos infinita.

Na parte moral, é de extrema importância o desapego, dito pelo Mestre, onde inclui o desapego ao conhecimento, pois o conhecimento moral são apenas sensações que constroem o Ego. Este desapego é sabedoria a que chamamos de humildade.

A humildade leva-nos a um patamar diferente, pois percebemos que não será através do “conhecimento moral” que cresceremos, mas através da atenção sobre a vida, o Vigiai do Mestre Jesus. A vigia nos trará a sabedoria de percebermos nossas más tendências e nos libertarmos delas por não as permitirmos entrar em ação, mantendo-nos num espaço interno cada vez mais calmo, que nos leva ao Reino dos Céus através do amor constante.

O maior problema para nós, é que estudamos com mais facilidade uma enciclopédia do que mantemos a nossa Vigia para combatemos uma má tendência, por isso continuamos na busca do crescimento espiritual através da fruta do conhecimento.


Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita