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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

A ciência do sofrimento


Gradualmente, a ciência vai comprovando – através dos seus rígidos métodos e achados – as teses espiritistas. Ao despojar-se de preconceitos fortemente arraigados e concentrando-se em oferecer respostas plausíveis para certos fenômenos que regem a vida, a ciência certamente se fortalece em seus postulados e escopos. Allan Kardec havia previsto essa possibilidade, conforme observado n’O Livro dos Espíritos, Quando as crenças espíritas se houverem vulgarizado, quando estiverem aceitas pelas massas humanas (e, a julgar pela rapidez com que se propagam, esse tempo não vem longe) [...]. os sábios se renderão à evidência. lá chegarão, individualmente, pela força das coisas”.

Seguindo adiante em suas graves ponderações, o Codificador também indagou na mesma obra: “Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito! Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem socialé um mundo que se abre diante de nósSerá de admirar que o efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo?” (ênfase minha).

E a ciência cumprindo a sua sagrada missão, como afirmei acima, vem avançando, por exemplo, no correto entendimento do papel do sofrimento – assunto dos mais sensíveis à humanidade. É fato inegável que tal questão permeia nossas existências - aliás, sempre assim o foi – a ponto de Jesus – o maior emissário de Deus de todos os tempos – referir-se à necessidade de carregarmos nossas próprias cruzes se desejássemos segui-lo verdadeiramente. Pois bem. Nenhum indivíduo nessa dimensão em que ora nos encontramos está isento de passar pelas experiências espinhosas, seja pelas privações, limites físicos, abandono, traições, decepções, frustrações, derrotas pessoais, entre outras tantas mazelas, que constituem o pano de fundo da vida na Terra. E elas funcionam, essencialmente, como um imperativo no estágio de desenvolvimento espiritual em que nos situamos.

Por outro lado, cumpre também relembrar que, segundo as entidades espirituais, há pelo menos três variações no campo da dor que merecem nossa reflexão, a saber: a dor-evolução, que nos ocorre de fora para dentro de nossas almas;  a dor-expiação, que abarca a necessidade de vivência de experiências extremas nesse particular, notadamente reservada aos Espíritos recalcitrantes à assimilação  das leis divinas; e, finalmente, as dores-auxílio, que nos alcançam para que nos recuperemos de certos deslizes e fracassos moldados na existência em curso, tais como: o enfarte, a trombose, o câncer e outras doenças e enfermidades, que acabam se manifestando em certo momento geralmente devido aos nossos excessos. Desse modo, até mesmo os anjos, apóstolos, missionários não estão incólumes a essas penosas sensações, a despeito das suas determinações na prática do bem e do provimento de autêntica fraternidade aos seus semelhantes. O maior exemplo nesse sentido é Jesus Cristo, que se sacrificou para nos mostrar o caminho da luz.

Posto isto, vale sublinhar que “54. Nenhuma ciência existe que haja saído prontinha do cérebro de um homem. todas, sem exceção, são fruto de observações sucessivas, apoiadas em observações precedentes, como sobre um ponto conhecido para chegar ao desconhecido. [...]”, como bem observou Kardec na obra A Gênese. Nesse sentido, a ciência parece estar felizmente começando a vislumbrar uma melhor compreensão desse fenômeno, pelo menos é o que se deduz do recente editorial do periódico acadêmico internacional Frontiers in Psychology. Conforme declaram os seus editores com entusiasmo, “Uma nova ciência do sofrimento (também conhecida como psicologia positiva do sofrimento) é necessária para compreender melhor (1) diferentes tipos de sofrimento (por exemplo, sofrimento necessário versus sofrimento desnecessário) e (2) a bidirecionalidade do sofrimento (ou seja, as condições sob as quais o sofrimento pode degradar ou fortalecer-nos). Esta nova ciência do sofrimento é essencial para criar um quadro completo do florescimento humano, assim como a ciência do controle da dor e da doença é essencial para a saúde física e a ciência médica”.

Notem, portanto, que o sofrimento é agora cogitado como potencial alavanca do progresso humano. Ao aventar tal possibilidade/linha de investigação, a ciência certamente comprova algo que o Espiritismo explica de maneira racional há muito tempo. Essa aproximação cria simetrias e alinhamentos, aliás, como bem observou Kardec na referida obra, “[...] O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a ciência, sem o espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao espiritismo, sem a ciência, faltariam apoio e comprovação[...]”.

Assim sendo, alcançamos o ponto em que o sofrimento começa a ser visto – agora sem a oposição da ciência – também como uma necessidade natural e inerente às grandes conquistas humanas. Apesar desse avanço, não devemos imaginar que a ciência abraçará imediatamente a lei de causa e efeito no bojo das suas cogitações e especulações. Afinal de contas, o elemento espiritual ainda lhe foge ao entendimento, e o tema per se não é visto com a devida atenção pelo chamado mainstream. No entanto, a partir dessa nova perspectiva pode-se conjecturar que as experiências dolorosas – cedo ou tarde - serão compreendidas pelo que efetivamente significam, ou seja, como passos fundamentais para que o Espírito possa avançar em sua trajetória evolutiva.  


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita