Internacional
por Ana Moraes

Ano 17 - N° 840 - 10 de Setembro de 2023

 

Um exemplo de como é a desencarnação de um Espírito feliz


Uma das mensagens de Espíritos citados no Capítulo II: Espíritos felizes do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, é assinada pelo Espírito de Antoine Costeau, que fora membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujo corpo foi sepultado em 12 de setembro de 1863 no cemitério de Montmartre. Simples calceteiro – trabalhador que calça as ruas com pedras – e, por razões óbvias, destituído de posses, o sepultamento deu-se em uma vala comum.


QUEM FOI O SR. COSTEAU

Sobre Antoine Costeau, Kardec escreveu no capítulo referido:

“Era um homem de coração que o Espiritismo reconduziu a Deus; completa, sincera e profunda era a sua fé em Deus. Simples calceteiro, praticava a caridade por pensamentos, palavras e obras consoante os fracos recursos de que dispunha e encontrando meios, ainda assim, de socorrer os que possuíam menos do que ele. Se a Sociedade não lhe adquiriu uma sepultura particular, foi porque lhe pareceu dever antes empregar mais utilmente o dinheiro em benefício dos vivos, do que em vãs satisfações de amor-próprio, além de que nós, os espíritas, sabemos melhor que ninguém que a vala comum é, tanto quanto os mais suntuosos mausoléus, uma porta aberta para o céu.”

 

PRIMEIRA MENSAGEM DE ANTOINE COSTEAU

Depois das alocuções feitas no funeral por colegas da Sociedade Espírita de Paris, um dos médiuns da citada instituição obteve ali mesmo sobre a sepultura, ainda meio aberta, a seguinte comunicação, ouvida por todos os assistentes, coveiros inclusive, de cabeça descoberta e com profunda emoção. Era, de fato, um espetáculo novo e surpreendente esse de ouvir palavras de um morto, recolhidas do seio do próprio túmulo:

"Obrigado, amigos, obrigado. O meu túmulo ainda nem mesmo de todo é fechado, mas, passando um segundo, a terra cobrirá os meus despojos. Vós sabeis, no entanto, que minha alma não será sepultada nesse pó, antes pairará no Espaço a fim de subir até Deus! E como consola poder-se dizer a respeito da dissolução do invólucro: Oh! Eu não morri, vivo a verdadeira vida, a vida eterna! O enterro do pobre não tem grandes cortejos, nem orgulhosas manifestações se abeiram da sua campa... Em compensação, acreditai-me, imensa multidão aqui não falta, e bons Espíritos acompanharam convosco, e com estas mulheres piedosas, o corpo que aí jaz estendido. Ao menos todos vós tendes fé e amais o bom Deus!

“Oh! certamente não morremos só porque o nosso corpo se esfacela, esposa amada! Demais, eu estarei sempre ao teu lado para te consolar, para te ajudar a suportar as provações. Rude ser-te-á a vida, mas repleto o coração com as ideias da eternidade e do amor de Deus. Como serão efêmeros os teus sofrimentos! Parentes que rodeais a minha amantíssima companheira, amai-a, respeitai-a, sede para ela como irmãos. Não vos esqueçais nunca da assistência que mutuamente vos deveis na Terra, se é que pretendeis penetrar a morada do Senhor.

"Quanto a vós, espíritas, irmãos, amigos, obrigado por terdes vindo a esta morada de pó e lama, a dizer-me adeus. Mas sabeis, e sabeis multo bem, vós, que minhalma imortal vive, e que algumas vezes vos irá pedir preces que jamais lhe recusareis para auxiliá-la na vida magnífica que lhe descortinastes na vida terrena.

"A vós todos que aqui estais, adeus. Nós nos podemos rever noutro lugar que não sobre este túmulo. As almas me chamam a conferenciar. Adeus, orai pelos que sofrem e até outra vista. Costeau."

 

SEGUNDA MENSAGEM

Três dias depois, evocado num grupo particular, o Espírito de Costeau assim se exprimiu por intermédio doutro médium:

"A morte é a vida. Não faço mais que repetir o que já disseram, mas para vós não há outra expressão senão esta, a despeito do que afirmam os materialistas, os que preferem ficar cegos. Oh! meus amigos, que belo espetáculo sobre a Terra o de ver tremular os estandartes do Espiritismo!

"Ciência profunda, imensa, da qual apenas soletrais as primeiras palavras. E que de luzes leva aos homens de boa-vontade, aos que, libertando-se das terríveis cadelas do orgulho, altamente proclamam a sua crença em Deus! Homens, orai, rendei graças por tantos benefícios. Pobre Humanidade! Ah! se te fora dado compreender!... Mas não, que o tempo não é chegado ainda, no qual a misericórdia do Senhor deve estender-se por sobre todos os homens, a fim de lhe reconhecerem as vontades e a elas se submeterem. Por teus raios luminosos, ciência bendita, é que eles lá chegarão e compreenderão.

"Ao teu calor benéfico aquecerão os corações, tonificando-os no fogo divino, portador de consolações, como de fé. Aos teus raios vivificantes, o mestre e o operário virão a confundir-se e identificar-se, compenetrados dessa caridade fraterna preconizada pelo divino Messias.

"Oh! meus irmãos, pensai na felicidade imensa que possuís como primeiros iniciados na obra da regeneração.

"Honra vos seja feita. Prossegui, e um dia, como eu, vendo a pátria dos Espíritos, exclamareis: - A morte é a vida, ou antes um sonho, espécie de pesadelo que dura o espaço de um minuto, e do qual despertamos para nos vermos rodeados de amigos que nos felicitam, ditosos por nos abraçarem. Tão grande foi a minha ventura, que eu não podia compreender que Deus me destinasse tantas graças relativamente ao pouco que fiz. Parecia-me sonhar, e como outrora me acontecia sonhar que estava morto, fui por instantes obrigado ao temor de voltar ao desgraçado corpo. Muito não tardou, porém, que me desse contas da realidade e rendesse graças a Deus. Eu bendizia o mestre que tão bem soube incutir-me os deveres de homem que crê na vida futura. Sim, eu o bendizia, agradecia-lhe, porquanto O Livro dos Espíritos despertara-me nalma os elos de amor ao meu Criador.

"Obrigado, bons amigos que me atraístes para junto de vós. Participai aos nossos irmãos que estou muitas vezes com o nosso amigo Sanson. Até outra vista e coragem, porque o triunfo vos espera. Felizes os que houverem tomado parte no combate!" (Costeau)

 

TERCEIRA MENSAGEM

Daí por diante – informou Kardec – o Sr. Costeau manifestou-se constantemente, na Sociedade e em outras reuniões, dando sempre provas dessa elevação de pensamentos que caracteriza os Espíritos adiantados, como ocorreu um ano depois, em 1864, numa sessão comemorativa realizada pela Sociedade Espírita de Paris, na qual Antoine Costeau transmitiu, por intermédio da senhorita Béguet, a comunicação seguinte:

“Minha caríssima esposa, vi teus suspiros, vi tuas lágrimas. Sempre a chorar! Vi também tuas preces, deixa-me agradecer por elas. Vamos, cara amiga, consola-te. Vês, perturbas a minha felicidade. Consola-te, pois, porque és mais feliz do que muitas outras: tens irmãos que te amam, que são felizes porte verem vir entre eles. Vês, minha filha, o quanto és bendita entre todas. Não tenho senão que vos louvar, meus irmãos, pela boa acolhida que por toda a parte é feita à minha esposa; eu vos agradeço por tudo o que fazeis por ela... e me fazeis ainda a amizade de me chamar hoje!... Tenho dos primeiros sustentado e propagado, com todo o meu poder, esta santa doutrina. Ah! se houvesse sabido o que sei e vejo agora! Crede-me, crede-me, é tudo o que posso vos dizer. Fazei tudo para ensiná-lo e para atrair os corações a vós. Nada é mais belo, nada é tão verdadeiro do que o que vos ensinam os vossos livros.” Costeau. (Revista Espírita de dezembro de 1864.)

 

SOBRE O FUNERAL DO SR. COSTEAU

Notícias detalhadas sobre como se realizou o funeral de Antoine Costeau, o leitor encontra no número de Outubro de 1863 da Revista Espírita, mensário editado e publicado
por Allan Kardec.

Nessa matéria, o codificador do Espiritismo referiu-se ao fato de um de seus membros ter tido uma profissão singela, como simples operário que o amigo sempre fora.

Escreveu Kardec:

“Estar-se-ia em erro considerando-se a Sociedade de Paris como uma reunião exclusivamente aristocrática, porque ela conta mais de um proletário em seu seio; acolhe todos os devotamentos à causa que sustenta, que venham do alto ou do baixo da escala social; o grande senhor e o artesão se dão a mão fraternalmente. Há algum tempo, ao casamento de um de nossos colegas, trabalhador também, assistiam um alto dignatário estrangeiro e a princesa sua mulher, ambos membros da Sociedade, que não tinham acreditado derrogar vindo sentar-se lado a lado com os outros assistentes, embora o luxo da cerimônia, celebrada numa capela obscura de uma opulenta paróquia, estivesse reduzida à sua mais simples expressão. É que o Espiritismo, sem cogitar uma igualdade quimérica, sem confundir as classes, sem pretender fazer passar todos os homens sob o mesmo nível social impossível, fá-los apreciar de um outro ponto de vista do que o prisma fascinante do mundo; ensina que o pequeno pode ter sido grande sobre a Terra, que o grande pode tornar-se pequeno, e que no reino celeste as classes terrestres não são contadas por nada. Assim é que, destruindo logicamente os preconceitos sociais de castas e de cor, conduz à verdadeira fraternidade. Nosso irmão Costeau era pobre; deixa uma viúva na necessidade, também foi colocado na vala comum, porta que também conduz ao céu tão bem quanto o suntuoso mausoléu.” (Revista Espírita de outubro de 1863.)


 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita