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por Bruno Abreu

 

A consciência


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E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará". 33 Eles lhe responderam: Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como você pode dizer que seremos livres? 34 Jesus respondeu: Digo a vocês a verdade: Todo aquele que vive pecando é escravo do pecado. 35 O escravo não tem lugar permanente na família, mas o filho pertence a ela para sempre. 36 Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres. (João, 8:32 a 34)


No exercício de escutar o som, que é um exercício de desenvolvimento de consciência, como muitos outros, pudemos perceber o movimento do pensamento. Como nos vamos acalmando com o exercício, percebemos claramente que existem momentos sem pensamento e nesses momentos podemos sentir uma vibração silenciosa, que nos traz paz.

O pensamento aparece e desaparece, é impermanente, quando este não existe, nós não deixamos de existir. Faça o exercício novamente, e perceba o que fica quando o pensamento está inativo.

Fica a consciência, silenciosa. É tão subtil que ao início temos de definir por palavras para que as pessoas entendam, com o passar do tempo, vai perceber que qualquer palavra não define esse silêncio maravilhoso de paz e amor.

Sei que esse silêncio não vos parece nada para já, porque olham com os olhos do pensamento ou da mente, o que vos dá a sensação de que “eu entrei em silêncio e saí”.

Se escutar os sons, sem se apegar a nenhum em particular, vai ser trazido para o “agora”. Volto a repetir que ao princípio vai ter a sensação de “eu estou a escutar os sons”, sentir o eu como uma energia que se acentua na zona do cérebro, mas com a continuação do escutar, vai deixando de existir essa distância entre o som e eu, e aí acontece a verdadeira paz que encontramos em estado de consciência.

O que acontece nesta eliminação de distância entre nós e a vida, neste caso, entre quem escuta e o que escuta, é a diminuição do ser Egoico, ficando a pureza do ser humano, pois não deixamos de existir, apenas existimos em uma vibração muito mais pura, onde não existe qualquer intenção do Ego, em que estão inclusas as más tendências.

Volte a repetir o exercício e constate isso na prática.

No conselho da oração, o Mestre aconselha-nos a recolher-nos nos aposentos e ficar em “silêncio”, porque nosso Pai em “silêncio” escuta, remete-nos para esse estado de vibração. O silêncio parece-nos nada por o compararmos com o barulho do pensamento, que nos tem hipnotizado.

É necessária prática ou oração, como preferirem chamar, para podermos mudar por completo a nossa ideia sobre esse silêncio, pois com a prática o tempo em consciência vai aumentando.

O que chamam de exercícios de meditação serve para nos abrir os “olhos” para esse estado. Na verdade, a meditação é permanecer nesse estado, em plena atenção ou vigia, como chamou Cristo, enquanto a vida material decorre.

Em O Livro dos Espíritos Alan Kardec pergunta:

23. O que é o espírito?

– O princípio inteligente do Universo.

23–a. Qual é a natureza íntima do espírito?

– O espírito não é fácil de analisar na vossa linguagem. Para vós não é nada, por não ser palpável. Para nós, contudo, é alguma coisa. Ficai sabendo: nenhuma coisa é nada e o nada não existe.

Não vos estou a dizer que essa consciência é o Espírito, mas ela se faz presente nele e existe numa vibração muito ténue comparada com a matéria a que estamos habituados, por isso não nos parece nada.

Como respondido pela espiritualidade, o Espírito para nós não é nada, mas podemos perceber, com o aumento de consciência ou a permanência no silêncio, que é algo, pois não deixamos de existir.

Sabemos que o corpo perece, mais tempo menos tempo, também sabemos que a personalidade acaba. Não nos lembramos de nenhuma das personalidades que fomos nas inúmeras vezes que reencarnamos. Também sabemos que já está aqui, connosco, em nós, como preferirem, a totalidade do ser, ou seja, o Espírito.

O que poderá sobreviver à morte do corpo e da personalidade (Ego)?

Essa energia que nos parece nada, mas quando estamos em plena serenidade, parece-nos tudo, e é o que sobreviverá a essa passagem. Nela residem o Amor, a paz e todas as virtudes humanas.

Podemos não perceber isto, mas conseguimos perceber que no pensamento Egoico estão a raiva, o ódio, a ira, o orgulho e todos os outros defeitos. O amor nós sentimos que nasce de uma profundidade pacífica do nosso ser.

Os hábitos psíquicos de milhares e milhares de anos hipnotizam-nos e escondem a parte mais importante de nosso ser, o filho de Deus, fazendo este parecer nada. É necessário desenvolvermos uma sensibilidade fora do campo da mente para podermos perceber esta parte do ser.

É um processo de desabituação do Ego, das tendências, dos desejos, dos certos e dos errados. Não poderia ser de outra forma, pois o Mestre fala-nos em desapego, um desapego que ultrapassa a matéria externa e envolve o ser terreno.

Podemos perceber na prática que temos de combater as más tendências, os nossos desejos, os nossos fortes caracteres que nos dizem o que é certo e errado, os nossos vícios, e o que sobra? Veja que esse silêncio é parte do ser, não o separe de si. Ao estar em silêncio mental, perceba que não tem más tendências iminentes, não deseja nada de momento, não está com maus sentimentos.

DisseO escravo não tem lugar permanente na família, mas o filho pertence a ela para sempre.

Sem a prática da busca deste ser, não o encontrará, portanto pratique. Esta é a Busca do Reino de Deus.

 

O autor reside na cidade de Lubango, Angola.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita