Correio mediúnico

Espírito: Hilário Silva

Desafio


O grande navio, deixando o porto de Santos, singra as águas do alto mar.

Salvino, espírita militante, e Dr. Carvalho, médico ilustre, palestram animadamente debruçados na amurada.

Dr. Carvalho discorre sobre o avanço e o poderio dos conhecimentos humanos nos tempos modernos.

— Veja esta embarcação! — fala, veemente. — Que fruto admirável do cérebro humano! E as descobertas do micro e do macrocosmo? ‘Sputiniks’ e ‘Luniks’ catando notícias do Universo; foguetes balísticos, fornecendo mira certa; aperfeiçoamentos revolucionários da terapêutica, dando-nos a cura exata! Tantos conhecimentos, tantas invenções, que não sei como você teima em aceitar as ingenuidades do Espiritismo. Não compreendo… Religião é passado. A experimentação não achou Deus… E vivemos da técnica perfeita…

Salvino, paciente, observa:

— Não, Carvalho, não são tão ingênuos os princípios da Doutrina Espírita. Todo esforço para o bem é louvável e os descortinos científicos da atualidade são deveras respeitáveis, entretanto, o Espiritismo não se propõe, fundamentalmente, a dilatar as condições materiais da vida, melhorando o conforto passageiro do homem, e sim, a reforma moral do Espírito eterno que, perante a realidade universal, existe bem insuficiente e pequenino.

A conversação prossegue cintilante de ambas as partes, quando o Dr. Carvalho retira o valioso anel de grau do dedo da mão e, revirando-o ao olhar de Salvino, fala:

— Não percamos tempo em questões de Deus e da alma… Devemos valorizar os nossos conhecimentos. Esta joia, por exemplo, é uma chave que me abre as portas das maiores instituições culturais do mundo, é uma prova de meus estudos particulares que me colocam em posição muito superior aos homens das gerações que me precederam…

Nisso, o navio balança mais fortemente e, para surpresa de ambos, o anel desprende dos dedos primorosos e cai no bojo das águas.

Atônito, Dr. Carvalho vê, num átimo, a pequenina peça cair na renda de espuma e, antes que dissesse qualquer palavra, Salvino, já refeito do imprevisto, fala, num misto de pena e de bom humor, batendo-lhe suavemente ao ombro:

— Eis aí, também, Carvalho, uma prova da insuficiência dos seus e dos nossos conhecimentos. Embora o avanço das nossas descobertas no espaço cósmico e nos campos microscópicos, esse anel insignificante constitui um desafio simbólico e irrespondível para as nossas possibilidades. Tire-o das águas, Carvalho. Desejaria ver, tire-o…

O médico, ainda não refeito da surpresa, ensaiou um sorriso, pensou um pouco e disse, despontado:

— É… É… Realmente… Não vejo um meio de recuperá-lo… O anel está perdido…

E, fitando as águas revoltas, caiu em profunda meditação.

 

Do livro Caderno de mensagens, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita