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por Roque Roberto Pires Carvalho

 

Dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana


É muito difícil para o aprendiz escrever sobre os dogmas da Igreja Romana e para atingir seu primacial objetivo foi preciso volver o pensamento e as pesquisas para quando começou a caminhada do Cristianismo primitivo.

Logo nas primeiras leituras foi possível entender que a Igreja nascente não foi criada por Jesus Cristo e sim pela política vigente na época do imperador Constantino (272-337 d.C.) juntamente com simpatizantes sob o modelo do Cristo. Precisavam se estabelecer em assembleias como instituição/empresa na criação de um estatuto que regulasse o comportamento dos seus coidealistas. Nesse regulamento foram colocados normas e dogmas já discutidos e aprovados em Concílios anteriores pelos maiorais da nova religião constituída, que viria a ser o guia para quantos aderissem à causa que adotara o nome de Igreja Católica Apostólica Romana.

Arrogou para si os direitos de posse dos Evangelhos escritos pelos discípulos mais diretos de Jesus (que nada escreveu) tornando-se guardiã das palavras e ensinamentos que deveriam pertencer à humanidade inteira, sem direitos autorais ou reservas a quaisquer agrupamentos ou Instituições.

Algumas definições de Dogmas segundo os Léxicos e de conhecimento geral:

“Na Igreja Católica Apostólica Romana, ponto de doutrina (Dogmas) já por ela definido como expressão legítima e necessária de sua fé” – (Novo Dicionário Aurélio, 1987, pg.606, Ed. Nova Fronteira, São Paulo-SP).

Na Wikipédia, a enciclopédia livre, encontramos: “Um Dogma é uma verdade revelada sobre a Fé Absoluta ou a intransigência de opiniões”.

O Código de Direito Canônico de 25/1/1983 suavizou, admitindo que “os que nascem imbuídos na fé em Cristo, nas Comunidades separadas da Igreja católica, não podem ser arguidos do pecado da separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor”. (Papa João Paulo II).

O título acima bem como as definições dos léxicos despertaram minha curiosidade para entender a milenar imposição feita pela Igreja Romana através de Concílios – assembleias de todos os bispos convocados para discutir e resolver as questões doutrinárias ou disciplinares da Igreja Cristã. Nos anos 49, 51, 197,306, 314 e outros ao longo da Era Cristã foram realizados em sua maioria com a divulgação de novos Dogmas contrários às leis naturais criadas por Deus.  O último Concílio – Vaticano II foi realizado em Roma nos anos de 1962/1965, sob os Papas João XXIII e Paulo 6º, considerados Santos pela Igreja.

Apenas como ilustração farei a citação de alguns desses Dogmas que ferem as Leis Naturais criadas por Deus.

 - o Limbo – local para onde vão as crianças que morrem sem o batismo antes de terem chegado à idade da razão;

- a virgindade perpétua de Maria, pelo Concílio de Éfeso em 431;

- o celibato, pelo Concílio de Latrão II em 1139;

- a infalibilidade papal, pelo Concílio Vaticano I em 1869/1870;

- os sete Sacramentos, pelo Concílio de Trento em 1545/1563.

Para punir as infrações aos dogmas canônicos foram criados no século XII na França os Tribunais da Santa Inquisição como reação da Igreja Católica contra a ameaça ao seu poderio no mundo cristão, representada pelas correntes protestantes – luteranismo, calvinismo e outras – que surgiram no século XVI, e combater assim a heresia, as blasfêmias, as bruxarias e os costumes considerados desviantes. No Concílio de Trento foram confirmados os princípios católicos e a condenação do protestantismo.

Para o aprendiz em especial nestes últimos dez anos, procurando conhecer as eventuais polêmicas entre o Cristianismo e a Doutrina dos Espíritos, encontrei no livro “A Gênese” de Allan Kardec em seu capítulo IV, que trata   do Papel da Ciência na Gênese; Ed. Histórica 2018, FEB/Brasília, pg.75 e seguintes, a compreensão mais lógica para minimizar os contraditórios existentes entre os Dogmas religiosos, a Ciência moderna e a Doutrina Espírita.  

“Segundo Kardec a história da origem de quase todos os povos antigos se confunde com a da sua religião, é por isso que seus primeiros livros versavam sobre religião. E como todas as religiões se ligam ao princípio das coisas, que é também o da humanidade, elas deram, sobre a formação e a ordem do universo, explicações em concordância com o estado dos conhecimentos da época e de seus fundadores. Daí resultou que os primeiros livros sagrados foram ao mesmo tempo os primeiros livros de ciência, como foram durante largo período, o código único das leis civis.

À medida que o homem se foi adiantando no conhecimento dessas leis, também foi penetrando os mistérios da criação e retificando as ideias que formara acerca da origem das coisas. Impotente se mostrou o homem para resolver o problema da Criação, até o momento em que a Ciência lhe forneceu para isso a chave via os estudiosos da Astronomia, Física, Química, Genética, Geologia, Mineralogia e pela Arqueologia pôde o homem acompanhar os traços que a humanidade deixou através das idades.  O homem foi se habilitando a tomar decisões mais sensatas a partir do momento que conheceu a causa dos fenômenos.

A Bíblia, evidentemente, encerra fatos que a razão, desenvolvida pela Ciência, não poderia hoje aceitar. Alegorias ocupam ali considerável espaço ocultando verdades ao âmago do pensamento, pois que logo desaparece o absurdo. Levando suas investigações às entranhas da Terra e às profundezas dos céus, demonstrou a Ciência as interpretações errôneas do Antigo Testamento tomadas ao pé da letra e a impossibilidade material de terem as coisas passado como são ali textualmente referidas. Assim procedendo a Ciência desferiu fundo golpe nas crenças seculares. A fé ortodoxa ficou combalida, porque julgou que lhe tiravam a pedra fundamental.    Na discussão do assunto, uma de duas: ou a Ciência está em erro, ou tem razão. Se tem razão não pode fazer seja verdadeira uma opinião que lhe é contrária. Não há revelação que se possa sobrepor à autoridade dos fatos.

Somente as religiões estacionárias podem temer as descobertas progressistas, imobilizando-se no absolutismo de suas crenças. Elas, em geral, fazem tão mesquinha ideia da Divindade, que não compreendem que assimilar as leis da natureza, que a Ciência revela, é glorificar a Deus em suas obras. Na sua cegueira, porém, essas religiões preferem render homenagens ao Espírito do mal, atribuindo-lhe essas leis”.

Um dos dogmas ou resolução mais cruéis emanados da Igreja Católica foi a proibição de os cientistas realizarem e comprovarem novas descobertas, derrubando os pilares da fé cega, sendo conduzidos ao sacrifício da própria vida por terem se enveredado nos mistérios divinos proibidos para o vulgo. Somente para citar, (Queima dos Templários, Jan Huss, Jerônimo de Praga, Galileu Galilei, Giordano Bruno) condenados como heréticos pelos Tribunais da Santa Inquisição; Galileu Galilei teve sua pena comutada para prisão perpétua domiciliar); também eram levados às fogueiras inquisitoriais aqueles que apresentassem o dom da adivinhação, o banimento da mediunidade na sociedade, sendo que essa faculdade é permitida por Deus a todas as criaturas possuidoras do Livre Arbítrio e farão dela o que bem entenderem e prestarão contas à própria consciência pelo uso bom ou mal que dela fizerem.      

Para entender melhor a Igreja Romana e seus Concílios definindo seus Dogmas como uma verdade que está contida, implícita ou explicitamente, na imutável Revelação divina ou que tem com ela uma conexão necessária, encontrei em Léon Denis (1846/1927-França) Livro escrito em 1919, 7ª ed. FEB/Brasília.pg 71 com o Título: “Cristianismo e Espiritismo”, uma das mais profundas análises sobre “Alteração do Cristianismo. Os Dogmas”. Escreve Léon Denis: ”Mas os homens, que amavam a verdade pela verdade, não eram bastante numerosos nos Concílios Doutrinários que melhor se adaptavam aos interesses terrenos da Igreja, foram elaborados por essas célebres assembleias que não cessaram de imobilizar e materializar a Religião. Graças a elas e sob a soberana influência dos pontífices romanos é que se elevou, através dos séculos, essa mistura de Dogmas estranhos, que nada têm de comum com o Evangelho e lhe são muitíssimo posteriores”.

Acredito ter, com as pesquisas procedidas, acrescentado algo mais aos meus ainda parcos conhecimentos da Doutrina dos Espíritos e deixando para os eventuais leitores fatos marcantes, mas ao mesmo tempo contrastantes com a Doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, a quem devemos respeitar e não obrigatoriamente concordar, por sermos criaturas de livre pensamento e escolha, maturos o suficiente para não mais crermos cegamente sem questionar.


Roque Roberto Pires Carvalho, advogado e mestre em Educação, reside em Botucatu (SP)
 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita