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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

E o “Rei” se foi...


Em consonância com as leis cósmicas, também as celebridades envelhecem, adoecem, sofrem e desencarnam. No ano passado muitos pertencentes a esse seleto grupo enfrentaram os pórticos da morte corpórea tal como sói acontecer com qualquer outro ser humano encarnado. E assim caminha inexoravelmente a vida na qual prevalece o imperativo de “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a Lei”. No presente texto, todavia, pretendo me referir a um personagem que sempre deu orgulho e alegria para a maioria dos brasileiros: Pelé.

A história do “Rei Pelé” é extremamente cativante, pois poucos nascem com habilidades tão excepcionais. Pelé foi um caso muito especial que transformou o “complexo de vira-latas”, como nos víamos outrora, no “país de chuteiras”. Pelé não foi o único a responder por essa conquista, mas foi certamente o personagem central. Cabe lembrar que o Brasil conseguiu feitos extraordinários no futebol (nada mais, nada menos do que 3 Copas do Mundo enquanto ele jogava pela seleção), alçando-nos ao patamar de topo no ranking mundial.

No entanto, com a sua aposentadoria perdemos a hegemonia no esporte, embora tenhamos conquistado mais duas copas em 1994 e 2002, respectivamente. Ou seja, sem Pelé vestindo a nossa “amarelinha” ficamos na fila por 24 anos até conquistarmos o troféu mundial novamente. Inequívoco sinal de que ele nos fez muita falta, que me desculpem os outros jogadores mais enciumados...

A sua carreira – não vou cansar o leitor lembrando as estatísticas exibidas à exaustão recentemente – foi meteórica e paradigmática. Pouquíssimas pessoas no mundo conseguem obter tanto reconhecimento e admiração como ele conseguiu. Reis, rainhas, presidentes de nação, primeiros-ministros, políticos em geral, sem falar no povo, se curvaram ao seu talento e carisma. Não por acaso foi eleito o “Atleta do Século”. Em larga medida, a figura do Pelé influenciou muitos jogadores no mundo inteiro, que o viram jogar ou assistiram aos vídeos sobre ele. Por tudo isso, foi justamente considerado um “gênio” ou “inventor”, de acordo com um conhecido adversário europeu, dada a sua inesgotável criatividade e capacidade de improvisação.

Em campo era muito respeitado pelos adversários chegando a ser venerado por muitos. Tive o privilégio de vê-lo duas vezes em campo na minha infância, bem como de assistir às suas extraordinárias exibições na Copa de 1970, no México. Para mim, que sempre gostei e pratiquei futebol por um bom tempo, a nossa performance na Copa de 1974, na Alemanha, já sem ele, foi decepcionante. Sua transferência para os Estados Unidos para jogar no Cosmos de Nova Iorque foi outro momento especial já no fim da sua carreira. De certa maneira, ele foi para lá implantar o esporte.

Na verdade, Pelé foi o maior embaixador do esporte chamado futebol. Nesse sentido, as homenagens feitas a ele foram justíssimas. Por outro lado, Pelé também teve seus desafetos fora de campo e o cidadão Edson Arantes do Nascimento certamente não acertou em tudo ao longo da vida. Não era, obviamente, perfeito, mas quem o é neste mundo de Deus? Como propõe o Evangelho de Jesus, “Quem estiver livre de pecado que atire a primeira pedra”. Em certa ocasião questionou – com muita sabedoria, aliás - a capacidade do povo em acertar no voto...

Os seus últimos anos de vida foram muito sofridos, especialmente para um ex-atleta como ele. Problemas no quadril desgastado, bexiga e, finalmente, o devastador câncer de cólon descoberto por acaso num exame de rotina. Lembro-me quão triste foi vê-lo num determinado evento com as bengalas... Muitos nascem neste mundo portando capacidades extraordinárias, mas, infelizmente, as usam para o mal prejudicando o próximo e a sociedade que os acolhe. No caso do Rei, no entanto, é inegável que ele trouxe imensa alegria ao mundo ao desempenhar magistralmente o papel de jogador de futebol. E ao assim fazê-lo, creio ter agradado aos maiorais da espiritualidade, que esperam sempre o melhor de nós no desempenho de nossas atribuições, sejam elas quais forem.


 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita