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por Ricardo Orestes Forni

 

O pior dos jarros


“Nossos pontos fracos não devem ser condenados, mas entendidos como oportunidades de aprendizado e crescimento.” – Do livro Pensamentos Que Ajudam.


Vamos valer-nos de uma história espiritualista para desenvolver o tema a que se propõe o artigo.

Um caçador resolveu apanhar macacos. Para essa finalidade construiu jarros com gargalos bem estreitos colocando em seu interior o alimento de predileção desses animais.

Atraídos pelo odor das bananas, os animais se aproximavam de início cautelosos, mas vencidos pela fome introduziam uma das mãos no interior do recipiente.

Para entrar com a mão vazia, elas conseguiam deslizar pelo gargalo estreito, mas ao prenderem a fruta com os dedos a mão aumentava de tamanho, o que impossibilitava que a retirassem do interior do recipiente, sendo feito prisioneiros pelo caçador.

Se tivessem soltado o alimento, retirariam com facilidade as mãos do interior do jarro, mas como não conseguiam largar o alimento, acabavam capturados.

Trazendo essa história para a nossa vida aqui na Terra, vamos ver que a vida material nos oferece múltiplos jarros com aquilo de que gostamos.

Para uns é o dinheiro abundante que faz as pessoas atraídas introduzirem as mãos pelo “gargalo estreito” da ganância, não conseguindo mais abri-las para conseguirem libertar-se.

Para outras, são os títulos de importância na sociedade que levam a muitos introduzir as mãos com avidez dentro dos jarros estreitos do mundo dos homens. E após esse gesto, não conseguem mais abrir mão desses valores para se verem livres e permanecem aí prisioneiros.

Outros ainda se empolgam com as imensas propriedades a perderem-se de vista e repleta de animais que representam, para quem assim procede, a fortuna assegurada para toda essa existência e outras tanto mais.

Casas de aluguel, roupas elegantes, moradias nababescas, veículos de grande imponência, viagens a locais exóticos que representam cartões de posição elevada na sociedade, são mais alguns exemplos dos jarros que a vida no corpo nos apresenta para atrair aqueles que desejam capturar esses valores que não trouxeram nem levarão para além-túmulo, já que a alfândega do túmulo é incorruptível e extremamente rigorosa e justa: não traz e nem leva!

Ocorre que a morte do corpo não se traduz por desencarnação.

Jesus foi muito claro quando ensinou que onde colocássemos nosso tesouro aí estaria preso o nosso coração.

É preciso libertar-nos dos valores do mundo para prosseguirmos nas dimensões espirituais da existência em busca de nossa jornada evolutiva. E é exatamente nesse momento que é preciso conseguir tirar a mão do “jarro” que cultivamos durante toda uma existência na Terra.

Quantos Espíritos perdem o corpo e aqui permanecem sem conseguir prosseguir no caminho em direção à dimensão espiritual na caminhada evolutiva?

Mas gostaríamos de destacar com o auxílio do livro do doutor José Carlos de Lucca intitulado Pensamentos Que Ajudam, na página O lírio nasce do pântano, o pior dos “jarros” que existe para o Espírito imortal e que se encontra dentro dele mesmo.

Esse jarro é constituído pelo sentimento de culpa que assalta a muitos quando começam a tomar consciência dos seus erros.

Eu diria que nesses jarros introduzimos não somente as mãos, mas principalmente a nossa consciência! E se isso acontecer, como é difícil retirá-la desse local!

Para nosso auxílio, buscamos no livro mencionado alguns ensinamentos que vêm em nosso auxílio para libertarmos a consciência do sentimento de culpa, que é o pior dos jarros.

Talvez estejamos tomados pela vergonha de nossas quedas, por tropicar inúmeras vezes na mesma pedra. Achamos que não temos jeito, que estamos condenados irremediavelmente à estrada do erro. Calma lá! Estou certo de que nossos tropeços ocorrem mais por fragilidade do que por maldade. Não acredito que, na essência, sejamos pessoas más, pois Deus não nos criou assim. Nascemos do amor de Deus, e ainda não fomos capazes de enxergar quanta luz e beleza existem dentro de nós. E tal sensação nos faz criaturas frágeis e inseguras, fadadas facilmente aos equívocos.

Somente podemos mudar algo em nós quando nos aceitamos o que somos sem condenação, mas, também, sem comodismo. Façamos as pazes conosco, compreendamos a nossa marcha, tenhamos a lembrança de somos alunos na escola da vida, cada um no seu ano, e que o único propósito nessa escola é de que, a partir do ponto onde nos encontramos, cada um avance, aprenda, refaça, recomece, nunca desista de si mesmo, lapidando, com o cinzel da humildade, o anjo que mora dentro de si.

Vamos retirar a consciência de dentro do jarro da culpa enquanto estamos em viagem no corpo?


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita