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por Paulo da Silva Neto Sobrinho

 

Emmanuel na Codificação


“A crença ou a opinião de milhões de pessoas não faz algo se tornar uma verdade se, em sua essência, ele não for.”


Da obra Expoentes da Codificação Espírita, publicada pela Federação Espírita do Paraná, destacamos a seguinte informação:

Emmanuel, exatamente assim, com dois “m”, se encontra grafado o nome do Espírito, no original francês L'Évangile Selon le Spiritisme, em mensagem datada de Paris, em 1861, e inserida no cap. XI, item 11, da citada obra, intitulada “O egoísmo”.

O nome ficou mais conhecido, entre os espíritas brasileiros, pela psicografia do médium mineiro Francisco Cândido Xavier. Segundo ele, foi no ano de 1931 que, pela primeira vez, numa das reuniões habituais do Centro Espírita, se fez presente o bondoso espírito Emmanuel. [1] (grifo nosso)

A informação de que Emmanuel, que assina a mensagem “O egoísmo”, é o mentor de Chico Xavier (1910-2002) é clara e objetiva.

Mas a questão é: será que o próprio médium disse algo a respeito? Fomos em busca da resposta. Em Lições de Sabedoria: Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, localizamos uma entrevista do “Mineiro do Século XX” ao jornalista Fernando Worm (1929-2014), que transcrevemos:

FW – Chico, você confirma que seu Mentor Espiritual Emmanuel é o mesmo que, sob tal nome, e no anonimato da equipe espiritual elaborou com Allan Kardec a codificação de O Evangelho Segundo o Espiritismo e demais obras da Codificação grafadas a partir de 1857?

Creio que sim. Conservo para mim a certeza de que ele terá participado da equipe que colaborou na estrutura da codificação da Doutrina Espírita. A mensagem intitulada O Egoísmo, no capítulo XI, §11 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em que se faz referência a Pilatos, é de autoria do nosso Benfeitor Espiritual, não tenho dúvidas a esse respeito. [2] (grifo nosso)

A resposta de Chico Xavier deixa transparecer que se trata de crença dele, não uma informação que lhe teria sido revelada pelo seu mentor.

Vejamos em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI – Amar o próximo como a si mesmo, o teor da mensagem citada:

O egoísmo

11. O egoísmo, esta chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, porque impede o seu progresso moral. É ao Espiritismo que está reservada a tarefa de fazê-la elevar-se na hierarquia dos mundos. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, sua força, sua coragem. Digo: coragem, porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo, do que para vencer os outros. Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é a fonte de todas as misérias terrenas. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens.

Jesus vos deu o exemplo da caridade e Pôncio Pilatos o do egoísmo, pois quando o justo vai percorrer as santas estações de seu martírio, Pilatos lava as mãos, dizendo: “Que me importa!” E diz aos judeus: “Este homem é justo; por que quereis crucificá-lo?” Entretanto, deixa que o conduzam ao suplício.

É a esse antagonismo entre a caridade e o egoísmo, à invasão do coração humano por essa chaga moral que se deve atribuir o fato de não haver ainda o Cristianismo desempenhado, por completo, a sua missão. Cabe a vós, novos apóstolos da fé, que os Espíritos superiores esclarecem, o encargo e o dever de extirpar esse mal, a fim de dar ao Cristianismo toda a sua força e desobstruir o caminho dos obstáculos que lhe embaraçam a marcha. Expulsai o egoísmo da Terra, para que ela possa gravitar na escala dos mundos, pois já é tempo de a Humanidade envergar sua veste viril; e, para isso, é preciso que primeiro o expulseis do vosso coração. – EMMANUEL. (Paris, 1861.) [3]

Consultamos 115 obras assinadas por Emmanuel [4], mentor de Chico Xavier, quatro delas em parceria com outros autores espirituais – André Luiz e Irmão José – encontramos a palavra “egoísmo” mencionada por 353 vezes, porém não vimos uma mensagem com esse título. Mas o que julgamos muito estranho é que não localizamos nenhuma das expressões destacadas em vermelho na mensagem acima.

Se é válida a afirmação de que “Julgam-se os Espíritos, como os homens, pela sua linguagem” [5] e, certamente, também devemos apreciá-los “pelo emprego de palavras que lhes eram familiares” [6], então, é mais provável que esses dois personagens têm o mesmo nome, ou seja, são homônimos, não seriam o mesmo Espírito, conforme acreditava o médium Chico Xavier.


Referências bibliográficas:

FEP. Expoentes da Codificação Espírita. Paraná: Federação Espírita do Paraná, 2002.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Brasília: FEB, 2013.

KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Brasília: FEB, 2013.

NOBRE, M. R. S. Lições de Sabedoria: Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita. São Paulo: Editora Jornalística Fé, 1997.

Portal do Espírito Allan Kardec – PEAK. Obras de Chico Xavier (Por ordem cronológica).


 

[1]   FEP, Expoentes da Codificação Espírita, p. 41.

[2]   NOBRE, Lições de Sabedoria: Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, p. 170.

[3]   KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 154.

[4]   PEAK, Obras de Chico Xavier (Por ordem cronológica), disponível em: clique aqui

[5]   KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 275.

[6]   KARDEC, O Livro dos Médiuns, p. 278.


 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita