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por Eder Andrade

 

A grande revelação d'O Livro dos Espíritos


Quando Allan Kardec organizou a codificação do Espiritismo, orientado pelo Espírito da Verdade, foi-nos oferecido um conhecimento que rompeu com históricos paradigmas culturais e religiosos. Entre eles, o mais significativo foi a prova da sobrevivência do princípio inteligente, que somos nós, após a morte do corpo físico, em que estamos ancorados.

A antiga ideia de que a morte representava o fim começou a ser desmistificada por várias evidências, comprovadas quase que a nível científico. O conhecimento espírita se opõe totalmente ao materialismo, quando procura mostrar que a morte representa na verdade uma mudança de padrão vibratório para o espírito, “em um dizer romanceado, uma mudança de endereço cósmico”. À medida que ele, o espírito, se liberta do corpo orgânico, pelo qual se manifesta, passa a comunicar-se mais livremente no plano espiritual com outros espíritos, também libertos do corpo físico.

A unicidade da existência física estabelece uma série de restrições e problemas que são explicáveis com a pluralidade de existências. Caso só existisse uma existência física, limitada entre o berço e o túmulo, o indivíduo portador de dificuldades e limitações existenciais nunca conseguiria encontrar a felicidade, pois, dependendo do contexto,  certos comprometimentos e limitações seriam irreparáveis. As pessoas não teriam tempo nem saúde para corrigirem na mesma existência física os equívocos cometidos ao longo da encarnação.

Já com a pluralidade de existências físicas, todos têm a chance de em uma nova encarnação corrigir e vivenciar novas experiências, mas, como nos mostra Allan Kardec no livro O Céu e o Inferno1, existem dúvidas no que diz respeito ao outro lado da existência, assim como a transição no processo do desencarne ou passamento. Essas dúvidas ainda afligem o homem encarnado, pois não basta acreditar na continuação da vida após a morte do nosso corpo físico, mas sim como se dá o processo de rompimentos dos laços que nos prendem ao corpo. A certeza da vida futura não exclui as apreensões quanto à passagem desta para a outra vida. Há muita gente que teme não a morte em si, mas o momento da transição”1.

Em O Livro dos Espíritos 2, encontramos a exposição de Kardec quanto à possibilidade de ocorrer uma nova existência física ou reencarnação e como funciona a Justiça Divina segundo o Espírito da Verdade, que nos oferece a chance de reparar uma falta cometida numa antiga existência na atual encarnação, da mesma forma que, em uma vida futura, erros de nossa atual existência possam vir a ser corrigidos.

Podemos observar que a grande questão é de fundo moral, pois quando não se segue um padrão de valores culturais, entramos em choque com crenças pré-estabelecidas e passamos a viver um modelo de vida diferente do convencional, tornando-nos párias sem redenção. Com a possibilidade da pluralidade de existências, o indivíduo tem esperança de, em  uma vida futura, ser feliz, estando em paz com sua consciência e reparando o sentimento de desconforto de que é portador, diagnosticado pela psiquiatria e psicologia moderna como uma culpa em relação a algo que não foi devidamente resolvido em uma antiga existência.

As leis que regem o processo de reencarnação vão oferecer-nos oportunidades relativamente proporcionais ao mérito conquistado por cada um ao longo das nossas últimas encarnações. O livro escrito por José Náufel faz uma análise paralela d'O Livro dos Espíritos, procurando realizar uma releitura e afirma: “A pluralidade das existências corpóreas constitui um dos mais importantes princípios básicos da Doutrina Espírita, o dogma da reencarnação. Dogma para o espírita é uma verdade primordial, aceita pela razão como um princípio básico, do qual decorrem outros princípios, ou corolários”.3

Romper com a crença do nada, após a morte do corpo físico ou de que apenas os eleitos herdarão o Reino dos Céus, modifica completamente o curso das nossas vidas, pois permite termos uma releitura da nossa existência, permitindo-nos reprogramar nossa caminhada evolutiva de forma diferente da cultura que recebemos dos nossos ascendentes na árvore genealógica da nossa família e dos nossos ancestrais.

Afirma-nos ainda José Náufel que “seria muita presunção afirmar que o Espírito poderia atingir a perfeição numa única encarnação”.3 Aqueles que já conhecem o livro O Céu e o Inferno 1 podem confirmar as teorias de Kardec sobre as dificuldades em superar as más inclinações e as Leis que regem a Vida Futura para o espírito que precisa reencarnar. Diríamos que a grande maioria ainda se encontra na condição de espíritos errantes (que precisam reencarnar), demorando muito ainda para atingir a categoria de Espíritos Puros.

As Leis Morais da Vida regem o processo de reparação e consequentemente de reencarnação, dando a cada um, de acordo com suas verdadeiras possibilidades e necessidades, o ensejo de retornar ao plano físico, procurando em uma nova existência corpórea corrigir os desvios e faltas cometidas.  A grande revelação reside no rompimento do paradigma de que possuímos uma única chance, uma única vida; caso não sejam bem aproveitadas, não teríamos como reparar, corrigir ou remediar.

 

Referências:

1 - Kardec, Allan; O Céu e o Inferno; 1ª Parte -Cap. 1- O Porvir e o Nada; Cap. VII – As Penas Futuras segundo o Espiritismo; 2ª Parte - Cap. 1 - O Passamento; FEB.

2 - ____, ___; O Livro dos Espíritos; Cap. IV - Da Pluralidade das Existências; FEB.

3 - Náufel, José; Do ABC ao Infinito; 2ª parte -Cap. IV- Da Pluralidade das Existências - itens 1 ao 6; FEB.

4 - Wikipédia (Enciclopédia Livre).


 
 

     
     

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