Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

Pais muito exigentes, filhos inseguros e infelizes


Ajude-me a crescer, mas deixe-me ser eu mesmo
. Maria Montessori


No geral, os pais querem o melhor para seus filhos. Eles se dedicam e se sacrificam, sem receio, pois sabem que o desenvolvimento saudável dos filhos deles depende também.

Sim, há o cuidado, a atenção, o estímulo. Contudo, de outro lado, muitos pais também passam dos limites, exigindo demais dos filhos, e desde a infância. E o excesso nunca é saudável…

Crianças têm suas individualidades, seus temperamentos, seus limites. E, tal como qualquer adulto, elas também precisam ser respeitadas em seus direitos e necessidades.

Pais rigorosos devem ficar atentos para não exagerarem na dose. Infelizmente, muitas vezes o adulto não percebe que uma cobrança inadequada à idade ou um comentário crítico, rude, traz prejuízo à criança. Há pais que dizem de forma reiterada e que sempre ressoa tão injusta: “Tirou 8, mas poderia ser 10.” O que esses pais não percebem é que essa frase transmite a ideia de que a criança só vai ter reconhecimento se for “mais”. E isso gera pessoas ansiosas, insatisfeitas, perfeccionistas. De outro lado, palavras positivas, que valorizam o esforço, levam as crianças, naturalmente, a melhores notas e a uma convivência mais tranquila com o erro (e que é essencial para o aprendizado, para a vida).

Toda criança precisa de incentivo, mas a maneira de o adulto se expressar ou propor metas contará muito para a formação da autoestima da criança. Por isso, é importante dar à criança desafios compatíveis com a idade. Há pais que pouco reconhecem o valor e as conquistas dos filhos. O escritor Franz Kafka relatou seu sofrimento nas mãos de um pai excessivamente exigente, mestre em despertar o medo e empenhado em desmerecê-lo e puni-lo. Esse tratamento não impediu que seu talento como escritor se manifestasse, contudo o transformou em um adulto infeliz.

Na verdade, educar (ou orientar) é distinto de cobrar…  E, embora a sociedade esteja cada vez mais dominada pelo desempenho, a criança, sobretudo na primeira infância, não pode ser pressionada com uma série de demandas cotidianas. Sua principal tarefa está associada ao brincar. Até porque o brinquedo põe a criança à prova. É um desafio e testa suas habilidades. E isso basta para quem está no começo da vida...

Não podemos esquecer: os pais são figuras de autoridade e de acolhimento. Se o pai tem atitude austera e só cobra, não reforça positivamente a criança. E quanto maior a pressão, maior o risco de a criança ficar estressada, ansiosa, infeliz e ter depressão…

Quer educar bem o seu filho? No dia a dia, você pode oferecer ajuda com as tarefas, perguntar se seus filhos fizeram os deveres e até pedir compromisso com os prazos. Mas exigir de modo excessivo não é a conduta eficaz para garantir organização, crescimento saudável e alegria.


Notinha

A pressão dos pais (mesmo não intencional) pode se manifestar de diferentes formas: cobrança por tirar as melhores notas da sala; comparação com irmãos de outras idades, primos, vizinhos ou outros conhecidos; imposição da escolha profissional; exigência de que as crianças passem tardes estudando e sem lhes dar tempo para brincar/descansar.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita