Entrevista

por Orson Peter Carrara

Se queremos um mundo melhor no futuro, comecemos hoje

Natural de Juiz de Fora (MG), onde também reside, Gisele dos Santos Marques (foto) é pedagoga e vincula-se ao Centro Espírita Amor ao Próximo, em sua cidade, no qual atua na área mediúnica, no setor de divulgação e também na evangelização infantojuvenil. Nesta entrevista ela nos fala sobre sua rica experiência nas lides espíritas:

 

Como se tornou espírita?

Sou espírita desde criança, de uma família não espírita. “Como se explica isso?”, é o que muitos me perguntam. Fica mais fácil a compreensão desse fato quando se atrela a essa infância o fator mediunidade. Observava, mesmo sem entendimento real do que ocorria, que tinha percepções, visões e audições, que nenhuma das outras crianças ao redor tinham. Assim, mesmo com pouca idade, já compreendia a existência de seres que não eram visualizados por todos.

O que mais lhe chama atenção na Doutrina Espírita?

A liberdade da busca pelo conhecimento, atrelado a todos os campos de desenvolvimento humano, é o que mais me chama a atenção. Em tempos em que assistimos ao cercear do pensar, do agir, do questionar, ter acesso a uma doutrina não dogmática, que nos permite acessar saberes, nos convidando à transformação, não por imposição, mas sim por consciência desperta, me faz querer estar nela.

Da larga convivência, desde a infância, com o movimento espírita e mesmo com a realidade do Centro Espírita, o que seu sentimento hoje lhe aponta?

Passamos por muitos momentos na história do desenvolvimento da mentalidade espírita, necessários para que chegássemos aos trabalhos desenvolvidos nesses espaços de atuação do espírita. Acompanhando o desenvolvimento intelecto-moral-científico do próprio homem, as atividades desenvolvidas tanto no movimento, quanto no centro espírita, nos convidam a essa progressão contínua, cada vez mais aprofundada das relações humanas e do entendimento doutrinário. Quanto mais nos dedicarmos ao conhecimento de todas as ciências, não nos afastando do objetivo primordial do trabalho espírita (o aprimoramento moral do homem), teremos espaços no movimento e nos centros espíritas mais coadunados com a proposta da doutrina.

De sua vivência mediúnica, o que lhe vem à mente para dividir com os leitores?

Como já relatei, a mediunidade fez parte da minha infância, adolescência e, agora, fase adulta, como oportunidade de aprendizado e crescimento espiritual. Esse amplo espaço de contato com o mundo espiritual, em suas mais variadas formas, me convida ao estudo constante, ao trabalho no bem, através da caridade desinteressada, a vigilância contínua dos meus propósitos reencarnatórios, bem como a reponsabilidade da transformação constante dos vícios que trago em mim, em futuras virtudes que gostaria de adquirir.

Em termos de educação espírita - cujo expressivo conteúdo gravamos em videoconferência - o que gostaria de dizer?

O Espiritismo, por seu caráter educativo natural, molda os caracteres morais do homem. Falamos bastante, nos vídeos citados, sobre a importância da educação espírita em todas as idades, como forma de oportunizar a todos as ferramentas de transformação do ser, da sociedade e do olhar sobre tudo que compõe nossa vida espiritual e corporal. O ser educado moralmente é aquele que se faz, consciente, justo e caridoso frente as dores do mundo, buscando amenizá-las, colocando-se, através de exemplos corretos, como producentes de propostas melhores para a evolução do espiritual da humanidade. (*)

Quais considera nossos maiores desafios em termos de individualidade e de movimento espírita?

O homem, apesar de ter na socialização a âncora para se encontrar como ser humano, também anseia por sua individualidade e pelo reconhecimento de seus feitos, como forma de apresentar seu crescimento na área de atuação a que se dedica. Nas ações espíritas não se faz diferente, por ser formada por seres ainda em crescimento e aprendizado, dedicados, porém falhos. Ansiando por ser notado em seus esforços transformadores, busca destacar sua atuação em meio a uma proposta de trabalho coletivo, o trabalho espírita. Assim, não raro, percebemos personalidades querendo sobrepor ao trabalho, ou infringir lhe personalismos que nada tem a ver com as bases doutrinárias.

Sobre evangelização infantojuvenil o que gostaria de dizer aos pais?

Nunca se percebeu um vazio existencial tão assolador quanto aos que esses tempos nos tem apresentado. A evangelização, sendo a ferramenta de fortalecimento à caminhada reencarnatória do espírito, combate o materialismo, quando rememora sua natureza espiritual, suas potencialidades e aponta propósitos mais humanitários. Irmãos nossos, enviados pelo Pai à nossa tutela, através da reencarnação, chegam a Terra sedentos de novos direcionamentos morais que os auxilie na busca de melhores patamares em futuras existências. Cabe, como nos lembra O Evangelho segundo o Espiritismo, a cada um de nós a tarefa de encaminhar esse espírito pela senda do bem, aproximando-o de Deus, sendo os pais, os responsáveis primeiros frente a esse trabalho de amor.

Algo marcante em sua vivência espírita que gostaria de relatar?

Os convites aos trabalhos espíritas surgem de todas as partes e por muitos momentos não nos sentimos capacitados a aceitá-los ou desempenhá-los bem; comigo não foi diferente. Porém, se posso deixar algo dessa vivência, que me sustenta sempre naquilo que preciso desempenhar, é a confiança de que Aquele que nos convida nunca erra e direciona por merecimento ou aprendizado o convite correto, a pessoa certa, no momento exato. Aceitar o trabalho espírita, mais relevante ou não, de forma responsável, é aceitar trabalhar-se enquanto trabalha em prol da melhoria do mundo em todos os seus aspectos. Se queremos um mundo melhor no futuro, comecemos hoje.

Algo mais que gostaria de acrescentar?

O trabalho e a doutrina espírita requerem de cada um de nós cuidado, temperança, dedicação e muita responsabilidade, a fim de que possamos dar continuidade fidedigna aos ensinos que nos foram confiados pela espiritualidade maior. Como nos alerta Léon Denis, em “No Invisível”: “O Espiritismo será o que dele fizerem os homens”. Que não nos descuidemos dessas sementes, que jogam rumo aos céus seus brotos frágeis, em esforço hercúleo para romper as primeiras barreiras da terra, que sejamos cuidadosos para que produzam bons frutos.

Suas palavras finais.

Só tenho a agradecer a oportunidade de colocar essas palavras em texto escrito, esperando que, ao lerem esses relatos, corações duvidosos, porém capazes de realizações, como todos nós somos, se sintam tocados e se entreguem aos conhecimentos espíritas de bom ânimo, sabendo ser ele a mola propulsora para a humanidade.

 

(*) Para acessar a videoconferência mencionada nesta entrevista, sobre o tema proposta educativa espírita para todas as idades, clique nos links abaixo:

1ª parte - LINK-1

2ª parte - LINK-2


 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita