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por Cláudio Bueno da Silva

Lavoura agreste


Devotar-se ao próximo traz felicidade à pessoa? Compartilhar tempo e a própria vida com o semelhante pode ser recompensador? Sim, se a resposta for baseada na vida e nos atos do personagem Emílio, do romance Lavoura Agreste, livro lançado no meio espírita em 2012 (1).

Nessa história de renúncia pouco comum nos dias de hoje, um sertanejo inteligente e moralizado dedica sua vida a minorar o sofrimento dos seus irmãos nordestinos, esquecendo da própria personalidade em favor do que considera mais importante do que qualquer desejo seu: a vivência da caridade autêntica ensinada no Evangelho de Jesus. E isso lhe traz imensa felicidade.  

A questão da felicidade tem desafiado filósofos e pensadores desde sempre. Muito já se pensou sobre ela na tentativa de se encontrar caminhos que levem o homem a tomá-la nos braços. Os resultados dessa busca, porém, não têm sido muito animadores, pois parece que a felicidade independe do “ter”, e é exatamente aí que a grande maioria dos homens a procura, não conseguindo retê-la, como quem quisesse pegar fumaça com as mãos.

Em nosso mundo, este sentimento – felicidade – está associado ao prazer egoísta e ambicioso que tem levado o homem a exaurir suas energias e desperdiçar o tempo da encarnação.  O Espiritismo ensina que a felicidade está na direção oposta da que temos tomado desde tenra idade, em função de uma educação não voltada para o Espírito, mas apenas para a regulação das relações sociais.

Emílio, o personagem central do romance Lavoura Agreste, no entanto, vive como aquele “homem sensato (que) para ser feliz, olha para baixo e jamais para os que lhe estão acima, a não ser para elevar sua alma ao infinito” (2). O autor se inspirou em dois capítulos de O Livro dos Espíritos: “Perfeição Moral” e “Penas e Gozos Terrenos”, onde Allan Kardec, estudando as virtudes e os vícios humanos, relaciona a felicidade do homem na Terra ao seu maior ou menor apego aos bens materiais, fator este que lhe pode aumentar ou suavizar os sofrimentos durante a vida.

Servindo ao próximo com desinteresse pessoal, dividindo conscientemente os bens materiais e morais com seus pares, esse Emílio não carrega em si nenhuma sensação de perda, ao contrário: a conduta solidária preenche o seu coração de alegria e prazer espiritual. Sem dúvida, um exemplo a ser seguido, porque inspirado no mais perfeito modelo de que dispõe a humanidade para se espelhar: Jesus.

Consta no último capítulo: “Emílio fez a sua parte enquanto viveu. Ajudou a aproximar os sofredores dos belos conceitos morais do Cristianismo, de forma a ver transformada – ainda que aos poucos fosse – aquela realidade agreste, não propriamente da terra, mas do coração e da mente do sertanejo, seu irmão”.

Portanto, quem possa ler Lavoura Agreste terá ao final a nítida certeza de que caridade e felicidade andam juntas, de mãos dadas.

 

(1) Lavoura Agreste, Cláudio Bueno da Silva, Mythos Books, São Paulo.

(2) Questão 923 de O Livro dos Espíritos, LAKE Editora, SP.

 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita