Artigos

por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Inteligência moral e alguns aspectos fundamentais


Reportando-se aos enigmas do passado, o pesquisador americano David Hatcher Childress, no seu inquietante livro Tecnology of the Gods: The Incredible Sciences of the Ancients, cita um trecho da extraordinária obra hindu, O Mahabharata, que deve ter sido escrita há aproximadamente 10.000 anos atrás, e que relata, entre outras coisas, o uso de armas nucleares já naqueles tempos remotos:

"... (foi) um único projeto

Carregado com todo o poder do Universo.

Uma coluna incandescente de fumaça e chamas

Tão brilhante quanto os mil sóis

Rosa em todo o seu esplendor...

...era uma arma desconhecida,

Um raio de ferro,

Um gigantesco mensageiro da morte,

Que reduziu a cinzas

Toda a raça do Vrishnis e os Andhakas

...Os cadáveres foram tão queimados

Tornando-se irreconhecíveis.

O cabelo e as unhas caíram;

A cerâmica quebrou sem causa aparente,

E os pássaros ficaram brancos...

...Depois de algumas horas

Todos os alimentos foram infectados...

... para escapar deste fogo

Os soldados se jogaram em córregos

Para lavar a si mesmos e seus equipamentos" (tradução minha).

Voltando aos tempos presentes, ele lembra que até os terríveis adventos de Hiroshima e Nagasaki, a humanidade atual não cogitava usar tão devastadora arma: a bomba atômica. Ainda em seu livro, Childress lembra que o Dr. Robert Oppenheimer (1904-1967), o pai da bomba H, tinha familiaridade com a antiga literatura sânscrita. Em uma entrevista dada por ele logo após assistir ao primeiro teste nuclear, ele citou trechos do Bhagavad Gita (outra antológica obra hindu), “Agora tornei-me a morte – o destruidor dos Mundos”.

Creio que esse rápido percurso histórico é providencial considerando as ameaças que cercam os tempos hodiernos. Desde os anos 60 do século passado, particularmente depois da crise dos mísseis em Cuba, a questão dos armamentos nucleares ganhou contornos preocupantes. Com a chamada guerra fria, que aguçou o distanciamento ideológico entre Estados Unidos da América e a Rússia, a escalada nuclear recrudesceu consideravelmente no planeta. Pior ainda: hoje temos outros atores mundiais que também detém o arsenal atômico como China, Coréia do Norte, Índia, Paquistão, Inglaterra, França etc. Muitos empregam armas atômicas simplesmente como instrumento de dissuasão, não obstante o fato de que a precariedade de tal recurso nos expõe a perigos bem conhecidos. 

Desse modo, portanto, cumpre destacar que nos valemos de uma paz mundial assentada em bases muito frágeis. Por outro lado, parece que pouco aprendemos com a perspectiva histórica, conforme aludi acima. As lições do passado longínquo ou mesmo recente aparentemente não foram suficientes para abandonarmos de vez o uso de armamento nuclear. Dito isto, a recente declaração do líder russo, Vladimir Putin, de que não está blefando ao aventar a possibilidade de recorrer a esse recurso na Guerra da Ucrânia, só traz mais inquietação à humanidade presentemente encarnada.

A essa altura dos acontecimentos não podemos deixar de reconhecer que Putin é um homem profundamente doente da alma. Ao atacar um país vizinho de maneira tão covarde, assim como o fato de empurrar o seu povo para um conflito tão despropositado, simplesmente pelo desejo de reavivar as glórias do passado russo, sinaliza a sua enorme desarmonia interior. Ao não ter contado com o apoio do Ocidente à nação invadida, Putin demonstrou ter subestimado a reação dos demais países. Tendo colhido derrotas inesperadas, ele agora tenta convocar à força nova legião de soldados (muitos dos quais nunca tiveram participação na vida militar), a fim de retomar os seus sonhos sanguinários de grandeza e poderio.

Sob a sua liderança autocrática e criminosa, a grande Rússia se tornou um pária mundial. Abomináveis crimes de guerra estão agora associados ao seu exército. O seu poder, exercido implacavelmente com mão de ferro, começa a ser questionado inclusive no seio da sua própria pátria, já que uma boa parte da população desaprova os seus devaneios macabros. É estarrecedor o êxodo que ele vem causando nos seus patrícios, obrigando-os a um alistamento militar sem precedentes nos tempos modernos.

Com efeito, as imagens de milhares de cidadãos fugindo – ou sendo presos - do seu país para se esquivarem de lutar numa guerra sem sentido, indicam que a sua trevosa liderança passa por graves reveses. Como sói acontecer com todo verdugo, mais dia menos dia ele será defenestrado do poder. Provavelmente será lembrado pelos historiadores como mais um líder beligerante e assassino do século 21.

Entretanto, a conduta perversa do líder russo suscita outras considerações de cunho transcendental - algo que certamente lhe falta. Nesse sentido, invoco a premissa de que um líder – em qualquer setor da vida - forçosamente possuí inteligência. Ou seja, certamente possui habilidades e potencialidades que o ajudaram a ocupar tal posição. No entanto, as criaturas bem intencionadas que desempenham esse papel são geralmente dotadas de algum grau de inteligência moral. E moral, como bem definiu uma elevada entidade espiritual para Allan Kardec n’O Livro dos Espíritos (questão 629): “... é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus”.

Em essência, a inteligência moral está intimamente relacionada à capacidade de um indivíduo em agir com base em valores éticos, universais, elevados propósitos, compaixão e respeito aos seus semelhantes. Desse modo, pessoas pautadas por sólida conduta moral moldam-se à regra de ouro, ou seja, não fazem aos outros o que não desejam pra si mesmas. Por essa razão, elas geralmente possuem uma bússola moral equilibrada que as incita a fazer as coisas certas e a praticar justiça em suas atitudes e decisões. Por fim, carregam Deus no coração. Não são perfeitas, obviamente, mas buscam colaborar na obra divina. Com certeza, a acharemos nos que são sinceros, amorosos, transparentes e justos. Na verdade, todos nós podemos e devemos desenvolver a nossa inteligência moral. Mas também cabe salientar que não a observaremos naqueles que manipulam, difamam ou mentem deliberadamente nem tampouco nos que buscam explorar ou dominar os outros.

Indivíduos carentes dessa capacidade não estão aptos às realizações nobilitantes ou positivas. Suas trajetórias no mundo tendem a ser erráticas, emocionalmente tóxicas e destrutivas. Na dimensão além-túmulo invariavelmente chegam carregando um passivo nefasto. Os poderosos da Terra que se encaixam nesse perfil têm a sua situação muito mais complicada devido à amplitude das maldades que provocaram na vida material.

Como estamos em pleno processo de transição planetária, não podemos ainda saber exatamente o que vem por aí. Vivemos indubitavelmente num momento muito confuso. Como há atores dispostos a fazer tudo ao seu alcance para impor a sua vontade e desestabilizar o planeta, não se pode descartar, numa análise racional, a possibilidade de conflito nuclear. Se tal tragédia vier a acontecer, tenhamos em mente a necessidade espiritual de vivermos nestes tempos difíceis de grande convulsão planetária. Mais ainda, lembremos que nem tudo estará perdido, pois Jesus nos acompanha. Aliás, como ouvi de uma entidade espiritual recentemente, “Às vezes, a casa precisa ser reformada para ficar bonita”. Ademais, temos igualmente o alento de ter a promissora recomendação de Jesus: Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra”. Seja como for, o futuro pacificado da Terra será viabilizado por Espíritos moralmente elevados e inteligentes.

 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita