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por Bruno Abreu

A falta de paz e o apego


Somos iludidos pela ideia da falta de paz e pelo desejo de sentir esta “emoção” que está tão ausente em nós.

Para pudermos compreender a paz, tal como tudo o resto, temos de perceber o que esta é.

É muito comum, ouvirmos as pessoas dizerem que gostariam de ter mais paz, gostariam de ter vidas mais serenas.

É verdade que nem sempre a vida nos permite estarmos calmos e em paz, mas quando nos permite, trocamos este estado por alguma euforia ou problemas causados mentalmente por nós próprios.

A primeira pergunta que temos de efetuar, é:

– O que é a paz?

A maioria das pessoas fica engasgada aqui, rodando o pensamento por

– Bem …  a paz é …. Quando estamos em paz … - e por aí fora.

Se queremos saber o que é algo, temos que ponderar sobre isso. Estes temas que parecem do conhecimento generalizado, são muito complicados, mas o maior problema deles, é acreditarmos que os conhecemos.

Voltando atrás – O que é a paz?

Depende a paz do local onde estou?

Se tiver na praia, para algumas pessoas, será mais fácil sentir paz, mas para outras, o café ou botequim, é um sítio divertido que os deixa em paz. Já muitas, vão buscar paz a igreja ou templos, para outras num filme de cinema. A paz não depende do sítio onde estamos, mas da forma como estamos nesse local.

Então a paz depende do que fazemos?

Algumas das atividades que falei atrás e outras, são a realização do desejo que as pessoas têm dentro de si, e isso lhes traz alguma alegria e conforto momentâneo, que se reflete como paz.

Por exemplo, a pessoa que gosta de ir ao café beber uma bebida e conversar um pouco, encontra satisfação na realização deste desejo. A pessoa que gosta de ver filmes, encontra satisfação na realização do desejo cinematográfico, e por ai fora. A satisfação de um desejo conforta-nos com a paz interior durante um pouco, mas esta está dependente da tarefa, logo, quando acaba, leva consigo a paz.

Não é uma paz verdadeira, mas algo que nos traz uma sensação parecida temporariamente.

A paz baseada em qualquer ato, ação ou no desfrutar de um desejo realizado, está dependente disso e esta não deve depender do que fazemos. A verdadeira paz, não depende.

De que depende a paz?

Esta depende do nosso interior. Já todos sentimos paz em situações complicadas e falta desta em situações calmas.

Vamos passar para o nosso interior. Como faço crescer a paz em mim próprio?

As respostas serão, estando calmos, serenos, sem confusão. Etc…

E o que é isto da calma, serenidade, etc…?

É não nos enervarmos, zangarmos, indignarmos, frustrarmo-nos etc.

Reparem que passamos para os atos negativos, os nossos defeitos.

Quando acontecem os impulsos que nos levam a agir erradamente, ficamos sem paz. Se não tivéssemos o desejo de construir a vida segundo os nossos parâmetros, corrermos constantemente para sanar os nossos desejos, lutarmos constantemente connosco e com os outros, teríamos falta de paz?

O apego as nossas ideias, aos nossos desejos, aos nossos vícios, a razão, ao nosso ser terreno, é o reator impulsivo à nossa ação que nos rouba a paz.

O Mestre aconselha-nos a resignação para não lutarmos com os outros, connosco e com a vida, e ao aumento da nossa fé, para deixarmos nas mãos de Deus este movimento enorme que queremos controlar com os nossos impulsos.

Aprendermos a não seguir as nossas más tendências, permitir que os impulsos morram sem ação, é o caminho do desapego que nos oferta paz.

Para percebermos o apego, podemos lembrar que em nossas cabeças surgem muitas ideias ou movimentos, algumas apelidamos de “parvas”, quem não disse a si próprio – Que pensamento mais parvo -. São aquelas que já não tem o mínimo poder sobre nós, ou seja, não temos qualquer apego.

Outras dizemos de antemão que não podemos fazer aquilo, seria errado, estas também já não têm muita força em nós, embora se estejamos desatentos, poderão nos enganar.

As que tem mais força em nós, ou que somos mais apegados, são aquelas que não conseguimos fazer frente, agimos seguindo a ideia, como um alcoólico bebe sem qualquer capacidade de contrariar o desejo. Estas últimas, formam os nossos defeitos de caráter.

Por último, as do meio, que sabemos que estão erradas, de vez em quando acedemos e agimos, por outras vezes conseguimos fugir ao seu hipnotismo. Tem muito a ver com o estado de espirito com que estamos.

Estes são os diversos graus de apego que vivenciamos na terra. Eles não são divididos de forma tão linear como fiz, mas têm os mais diversos níveis de dificuldade, desde o que nos escraviza até aos que não mexem connosco.

A falta de paz está intimamente ligada aos impulsos que nos escravizam, aos quais somos extremamente apegados.

Ganhando força para nos irmos desapegando destes impulsos, conquistamos a nossa paz.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita